Lançamento: Tao Te Ching

Tao Te Ching

Nesta tradução exclusiva do Tao Te Ching a partir da tradução clássica de James Legge para o inglês, Rafael Arrais (poeta, escritor, editor e autor do blog Textos para Reflexão) usa do auxílio precioso das interpretações do ocultista britânico Aleister Crowley e do filósofo brasileiro Murillo Nunes de Azevedo para compor uma visão moderna da antiga sabedoria de Lao Tse. Não se trata de uma tradução para os que adoram ao Tao como numa religião organizada, mas antes para os que o amam e desejam seguir no Caminho Perfeito; ou ainda, para aqueles que nunca ouviram falar dele…

» Comprar versão impressa

» Comprar eBook (Amazon Kindle)

» Comprar eBook (Kobo)

***

Abaixo, segue um trecho do prefácio do livro:

O Caminho Perfeito

O Caminho que pode ser trilhado não é o Tao Eterno.
O nome não é o mesmo que Aquilo que foi nomeado.

Os primeiros versos do Tao Te Ching podem soar tão enigmáticos como quaisquer outros ao longo da obra. Tal enigma, entretanto, é apenas intelectual. Com um pouco de reflexão, ele começa a se dissipar como a névoa soprada pelo vento. É precisamente nesta “dissipação” que se inicia o Caminho Perfeito.

Este livro, afinal, é somente o seu esboço. Conforme disse Joseph Campbell em O poder do mito: “As melhores coisas não podem ser ditas por que transcendem o pensamento. As coisas um pouco piores são mal compreendidas, porque são os pensamentos que supostamente se referem àquilo a respeito de que não se pode pensar. Logo abaixo dessas, vêm as coisas das quais falamos”. Eis porque este livro é somente um esboço. Eis porque o nome não é o mesmo que Aquilo que foi nomeado. Eis porque de nada adianta ler o Tao Te Ching apenas com o intelecto, é preciso senti-lo com a alma, é preciso refletir sobre suas palavras e descasca-las, alcançando o sentimento que há por detrás – o sentimento que está, afinal, em nosso próprio ser.

As palavras deste livro são apenas as catalisadoras do Caminho. Elas apontam uma direção e uma via antes desconhecida. Cabe somente a nós iniciar o passo.

***

Todas as coisas nascem do Ser e possuem um nome;
mas o Ser nasce do que não tem nome.

O “Tao” é, da mesma forma, apenas um nome que foi dado ao inominável. Não é através de um nome que se conhece alguém, mas através dos olhos. Não é através de um nome que se conhece tudo o que há, o que foi e o que será, mas através da reflexão da alma.

A filosofia do Tao Te Ching é ancestral de muitos outros pensadores: Parmênides (o filósofo pré-socrático), Epicteto (e os demais estoicos), Plotino (e os neoplatônicos) e até mesmo Benedito Espinosa, que chamou ao Tao de “a substância que não poderia haver criado a si mesma, e que gerou tudo o que há”. Ora, como podem tantos pensadores em épocas distantes e regiões distintas do planeta terem chegado a conclusões tão parecidas com a deste livro, ainda que provavelmente nunca o tenham lido? Simples – como um dia me disse um amigo: “isto tudo está na engenharia da realidade”.

No Ocidente, a divindade geralmente é vista como um ser pessoal, criador e fonte de tudo o que existe. Já no Oriente, a divindade é vista como impessoal e a criação, como algo imanente – ela não é somente a fonte, como o veículo das energias que formam o mundo. Isto significa que mesmo uma pedra ou um galho partido estão preenchidos pelo Tao. Para os místicos taoistas, o Tao não somente gerou tudo, como está em tudo, inclusive neste momento. Reflita sobre isso antes de prosseguir no Caminho.

***

Aquele que se adaptou ao Caminho é festejado pelos demais caminhantes.
Aquele que manifesta o Caminho é festejado pelos demais caminhantes.
Aquele que falha e tropeça no Caminho é, da mesma forma, festejado pelos demais caminhantes…
Mas aquele que tenta seguir o Caminho sem convicção não sabe ao certo quantos amigos existem a sua espera.

Não se assuste com todo o “misticismo” que atribuem a este livro. Não se sinta obrigado a virar um “sábio” somente por que o tenha lido. De fato, não pretenda compreender o Tao Te Ching, nem pretenda ser um grande conhecedor do Tao. Tudo isto são rótulos. Em todo caso, nenhum mestre do Tao chamaria a si mesmo de “mestre”.

O Caminho Perfeito não exige fidelidade estrita, não agracia com bênção alguma seus seguidores, nem muito menos pune aqueles que se afastam dele. O Caminho é como a Natureza, a única coisa que odeia é a estagnação; no entanto, ama todo o mundo e todos os seres, sem nunca anunciar seu nome, sem exigir reverência alguma, sem condenar nem exaltar.

Aqueles que seguem no Caminho vão descobrindo cada vez mais amigos pela via; passo a passo, um pensamento de cada vez. Vão melhorando a vizinhança, pois este é o sentido natural de todos os seres – ir um pouco mais a frente hoje do que fora ontem, e amanhã do que hoje.

E se você pensa já ter ouvido antes algo do que foi dito aqui, quem sabe noutro livro sagrado, ou da boca de um adepto de outra doutrina, não se espante que isto é, da mesma forma, muito natural. A “engenharia da realidade” nada mais é, afinal, do que a própria Alma…

Aquele que conhece os homens
possui um grande intelecto.
Aquele que conhece a si mesmo
é possuído por uma grande iluminação.

Rafael Arrais, 2013 (os trechos em itálico foram traduzidos do Tao Te Ching)

***

» Veja também: sobre a tradução do Tao Te Ching

Compartilhar:

Facebook
Twitter
Pinterest
LinkedIn

Respostas de 3

  1. Gostaria de saber porquê as traduções do Tao Te Ching variam tanto… Por exemplo, estou com uma edição da Martin Claret e a edição traduzida e organizada pelo Rafael Arrais. A começar pelo título (o primeiro traz O Livro que revela Deus), ao conteúdo dos poemas e até o número de versos. O Poema 5 é significativamente menor na edição da Martin Claret que a do Rafael e totalmente diferente. É muito difícil fazer um estudo consistente do livro encontrando tantas diferenças significativas entre as traduções.

    @raph – Oi Priscila, isto é muito comum nas traduções do Tao Te Ching, de certa forma traduzir este livro é também reescreve-lo, pois há muitas interpretações totalmente subjetivas ao longo do processo, visto que no original os caracteres poderiam sugerir muitas interpretações distintas, como falo no início do capítulo “Sobre a tradução”:

    “Na língua chinesa escrita de estilo antigo, cada palavra, em geral, era escrita usando um único caractere (monossilábico); era um estilo muito mais conciso e literário do que a língua falada. Como o Tao Te Ching foi escrito no estilo antigo, o texto é extremamente conciso e não é de interpretação fácil mesmo para um chinês. O significado de cada monossílabo, no meio de uma série continua de caracteres sem pontuação, não surge espontaneamente; as frases têm uma estrutura mais difícil de detectar. As palavras que rimam sugerem as frases que estão presentes, mas nem sempre elas estão lá e nem sempre a estrutura fica perfeitamente clara. Sabe-se também que na época de Lao Tse não havia uma escrita unificada, porque a China não estava ainda politicamente unificada, e que o significado e pronúncia de muitos caracteres se foi alterando com o tempo.”

    Agora, podemos dizer que há uma clara diferenciação entre as traduções ocidentais e as orientais: as últimas são mais concisas pois a própria linguagem oriental geralmente permite este tipo de tradução (afinal, muitos dos caracteres deles continuam sendo uma evolução dos caracteres da época de Lao Tse), enquanto que as primeiras são mais longas, e adicionam palavras muitas vezes, pelo fato de nossa linguagem ser menos simbólica-imagética, e mais descritiva.

    Mas o que recomendo é que leia diversas traduções, pelo menos uma oriental e uma ocidental. A minha, como explico no livro, está calcada nas interpretações de James Legge, Aleister Crowley e Murilo Nunes de Azevedo, respectivamente as melhores traduções que conheço para o inglês e o português (no caso do Murilo).

    Em tempo, se pode ler diretamente em inglês, recomendo esta tradução de Stephen Mitchell, que é uma das mais aclamadas traduções modernas do Tao Te Ching (embora também seja consideravelmente diferente das demais, hehe): http://www.amazon.com/Tao-Te-Ching-Laozi/dp/0060812451

    Boa leitura!

  2. Complementando um pouco a questão; “O Tao que pode ser nomeado não é o verdadadeiro Tao”. A partir do momento em que voc? traduz um ideograma é como se estivesse dando uma forma ao mesmo, e isso de certa o restringe. Logo, dada a impossibilidade de ler os originais, todas as traduções tem o seu valor.

    @raph – É exatamente isso Priscila. Em realidade, acredito que o mesmo possa ser estendido a quase todos os textos místicos, pois que falam essencialmente do que está além das palavras (estas mesmas a que John Galsworthy chamou tão bem: “cascas de sentimento”). Dito isto, acredito que valha a pena ler pelo menos uma tradução ocidental e uma tradução oriental do Tao Te Ching – onde a primeira é geralmente qualquer tradução para o inglês (exceto a do Aleister Crowley, quem sabe) que depois tenha sido traduzida para o português; e a última é geralmente qualquer tradução direta do chinês para o português, principalmente as realizadas pelos “mestres” taoistas.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Social Media

Mais popular

Receba as últimas atualizações

Assine nosso boletim informativo semanal

Sem spam, notificações apenas sobre novos produtos, atualizações.

Categorias

Projeto Mayhem

Postagens relacionadas

Mapa Astral de Pablo Picasso

Pablo Picasso (Málaga, 25 de outubro de 1881 — Mougins, 8 de abril de 1973), foi um pintor, escultor e desenhista espanhol, tendo também desenvolvido

Mapa Astral de Timothy Leary

Timothy Francis Leary, Ph.D. (22 de outubro de 1920 – 31 de maio de 1996), Professor de Harvard, psicólogo, neurocientista, escritor, futurista, libertário, ícone maior

Mapa Astral de Oscar Wilde

Eu não gosto muito de postar vários mapas seguidos, porque o blog não é sobre Astrologia, mas agora em Outubro/Novembro teremos aniversário de vários ocultistas