“Karma é a esteira que nos auxilia a queimar a gordura reencarnatória.” – Peterson Danda
Texto de Mariana Caplan, retirado do site Huffpost Healty Living, traduzido livremente por Peterson Danda, originalmente postado no Autoconhecimento & Liberdade.
Se alguém teve que viver minha vida, por que teve que ser eu?!
Como uma jovem mulher no caminho espiritual, sempre fiquei um tanto intrigada e incomodada com o conceito de carma. Não parece preciso que todos que eu conheço que lembraram de uma vida passada foram ou uma princesa no Egito ou um rei na Europa medieval. Ou talvez eles tenham feito algo realmente terrível em uma vida passada e estavam sendo punidos por Deus não sendo capazes de engravidar ou ter um relacionamento duradouro. Todas as explicações que recebi foram extremamente superficiais e lineares. Então fiz o que qualquer jovem jornalista diligente espiritual poderia fazer: me aproximei de cada professor espiritual ou grande iogue que conheci em minhas viagens, e perguntei “O que é carma?” e ao longo dos anos fui tentando peneirar tudo.
Minha conclusão, até então, é dupla: 1) Os princípios mais profundos do carma são tão sutis e intrincados que uma vida inteira de inquérito hábil e prática são necessárias para chegar perto de uma compreensão real; 2) Visualizar o carma pelas lentes da psicologia fornece um meio para aborda-lo de uma forma amigável e prática e fácil de usar.
Nossa psicologia pessoal é a forma como os nossos padrões cármicos aparecem nesta vida. A visão geral de carma de um Budista ou Hindu sugere que a alma individual se move de forma consciente vida após vida, encarnando outra vez na escola da vida a fim de completar várias tarefas e lições e liberar as contrações de consciência.
As condições e circunstâncias de cada encarnação baseiam-se em forças muito maiores do que a maioria de nós pode conceber. Estas forças determinam a qualidade da consciência que nos é dada, a cultura e a família que nascemos, o corpo que temos e as experiências significativas e relacionamentos que encontramos. “As impressões acumuladas de vidas passadas, enraizadas em aflições, serão experimentadas na vida presente e nas futuras”, escreve Patañjali em The Yoga Sutras, o texto que descreve contemporaneamente o Yoga Clássico. Se quisermos desvendar o carma que acumulamos em vidas passadas não precisamos ir mais longe do que as nossas circunstâncias na vida atual.
Tudo que estamos vivenciando no momento tanto é a fruição do nosso carma anterior quanto o plantio de sementes para o carma futuro. As circunstâncias que encontramos são nosso carma, são a expressão de nossa consciência, são as sementes do nosso futuro. Estamos em gigantesco holograma do carma, e nossas vidas refletem a interseção de nossa família ou carma genealógico, o carma coletivo em nossa cultura e, em muitos casos, um conjunto particular de carmas que se expressa através dos professores e comunidades que encontramos em nossa jornada espiritual.
Há momentos confrontantes de honestidade nua na vida em que percebemos claramente que estamos colhendo as sementes que plantamos em um momento anterior, seja por doença, acidente ou infortúnio. Uma ilustração é o caso do pai de um amigo meu que traficou drogas por muitos anos. Quando ele tentou sair do negócio, foi brutalmente torturado por um grupo de pistoleiros que tinham vindo à sua casa à procura de dinheiro. Ele pôde mudar seu carma, mas não podia fugir de colher os frutos cármicos que tinha semeado.
Comumente, muitos de nós nos encontramos em uma situação em que uma mentira branda, um inocente exagero ou um ato de ignorância ou indulgência volta para nos assombrar. Em outros momentos, há um amadurecimento não-linear de certos carmas passados decorrentes de um tempo ou circunstância que estão além de nossa capacidade consciente de perceber. Até mesmo a considerar que as circunstâncias psicológicas e práticas que enfrentamos são fortemente influenciadas por forças cármicas exige a disposição de ampliar significativamente nosso ponto de vista, mas também oferece a possibilidade de aceitar um grau de auto responsabilidade que pode ser, ao mesmo tempo, assustador e libertador.
É possível traçar nossos atuais desafios psicológicos não só através de nossos pais, mas de nossos avós, bisavós, tataravós e até antes. Descobrimos que muitos dos profundos desafios que enfrentamos em muitos níveis, e que às vezes parecem tão devastadoramente pessoais – não só os emocionais, mas relacionais, os físicos e circunstanciais – são literalmente transmitidos geração após geração, e resultam de um grau de condicionamento que é totalmente impessoal e inconsciente.
Podemos ficar chocados ao perceber que a essência de muitas das experiências poderosas que temos são influenciadas de forma imediata pelos nossos tataravôs ou ainda antes na história. Estas incluem depressão, padrões de relacionamento, doenças, divórcios e até a idade em que morremos, assim como muitas “escolhas” que experimentamos nos tornando, como quantos filhos teremos, fazer ou não um aborto ou com quem nos relacionamos. Só que agora, elas estão sendo vividas em uma circunstância e momento da história diferentes. Para muitas pessoas, é mais fácil de entender e acreditar na existência do carma quando percebido desta maneira concreta e prática do que com a noção vaga de uma alma passando de uma vida para outra.
Não é fácil nos abrirmos a uma perspectiva mais ampla da realidade em que desafiadoras questões de justiça e vitimização são vistos por uma ótica reduzida. No entanto, como em tudo, até mesmo essa perspectiva pode ser mal utilizada. Aqui está um exemplo: Uma mulher que eu conheço foi sequestrada, estuprada e quase assassinada. Seu namorado “new age” a persuadiu a retirar as acusações, convencendo-a de que ela mesma havia atraído essa situação para si. Mais tarde, ela sofreu por esse prematuro “desvio” psicológico do trauma que ela sofreu. Não podemos crer compreender a complexidade do carma, assim como é para qualquer um entender.
As implicações desta perspectiva são múltiplas: Por um lado, não temos a “culpa” por muitos dos pensamentos, sentimentos e circunstâncias desafiadoras que surgem em nossas vidas; por outro, somos totalmente responsáveis por nossas vidas no presente e pelas implicações de nossos atos. Nos libertamos da vergonha e culpa, enquanto reforçamos responsabilização pessoal e responsabilidade.
Uma série de terapias preocupam-se com traumas de vidas passadas, e os estudantes espirituais são infinitamente fascinados pelo que poderiam ter sido ou o que poderiam ter feito em suas vidas passadas, mas a partir de uma perspectiva prática, não precisamos ir mais longe do que as nossas circunstâncias presentes para resolver nosso carma: Está tudo bem na nossa frente. Ter sido um fazendeiro da Mesopotâmia, um comerciante de escravos na América do Sul ou um motorista de ônibus em 1940 é irrelevante para a maioria de nós. O importante é se somos capazes de conhecer nossa circunstância presente com uma perspectiva clara e criteriosa e abster-se de ações que promovem a repetição infinita de aspectos desfavoráveis e limitantes do nosso condicionamento cármico. Nesta perspectiva, a psicologia torna-se uma ferramenta que podemos usar para desbloquear, trabalhar e evoluir nosso carma.
Adaptado e atualizado do livro “Eyes Wide Open: Cultivating Discernment on the Spiritual Path” (Sounds True, 2010).
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Respostas de 2
bem interessante, afinal a atual situação é o resultado do processo, dessa forma não é necessário conhecer o passado, é só olhar a decorrência..
Uma pequena dúvida sovre karma,
No caso de um policial que esta ali em serviço e se depara com uma situação em que é obrigado a tirar a vida de um bandido ou o bandido tira a dele,
Esse policial sofreria o mesmo karma de um assassino qualquer pois tirou uma vida?
@MDD – Nao, pois ele está agindo “em nome da Lei”, não em nome dele. Claro que um policial em um tiroteio que acaba tirando a vida de um bandido é bem diferente de um policial que executa um bandido dominado à sangue frio, ok? Sao situações diferentes.