HermetiCAOS – Meditação, Treino Mental


Por Felipe Cazelli

Parte 1: Concentração.

O Caibalion é um pequeno livro de gigantesco conteúdo. Nele afirma-se estar reunida a sabedoria do Antigo Egito e da Grécia, que, no fim das contas, é o cerne do ensinamento de praticamente todas as Escolas da chamada WMT (Western Mystery Tradition), ou seja, o Ocultismo ocidental. O Caibalion nos explica os Sete Princípios sobre os quais se baseia toda essa Sabedoria. O primeiro desses Princípios nos diz: “O TODO é MENTE; o Universo é Mental”. Vou extrair uma pequena possível interpretação desse princípio, para falar sobre o treinamento mental. Pois bem, se o nosso Universo é moldado pela nossa mente, aquilo que se passa na nossa mente constrói a nossa realidade, o nosso Universo. O problema é que não estamos no controle da nossa mente; ela produz pensamentos, dinâmicas e complexos que nos atrapalham e nos levam ao fracasso.

O processo de ganho de consciência de nossa própria mente é semelhante ao do corpo. Para termos maior controle sobre nosso corpo, precisamos praticar exercícios físicos. Qualquer exercício físico nos dá a mesma consciência corporal? Não, alguns parecem ser particularmente eficazes nesse quesito, enquanto outros parecem mais nos desviar do objetivo do que nos conduzir até lá. Existem exercícios que promovem bem-estar, saúde e condicionamento físico; por outro lado, há os que lesionam, desgastam e podem causar enfermidades.
E o treinamento mental? Esse se dá através do exercício que comumente chamamos de “meditação”. Qualquer maneira de “meditar” produz o mesmo resultado? Basta que se sente em silêncio e já se estará criando uma realidade melhor para si? Dificilmente. Somente sentar em silêncio pode não te levar a lugar nenhum. Existem basicamente duas maneiras de meditar. Neste texto vamos tratar da primeira e mais fundamental delas, que podemos inocentemente chamar de “concentração”.
A Concentração ajuda a desenvolver o foco, a capacidade de manter sua atenção no momento presente e é um pré-requisito para desenvolver habilidades mais avançadas em Magia. É como a resistência cardiorrespiratória: sem ela, qualquer atividade física fica mais difícil. Então, assim como, para conseguir bons resultados em atividades físicas, é necessário desenvolver a resistência cardiorrespiratória, para obter bons resultados em Magia, que é necessariamente uma atividade mental, é necessário treinar Concentração. Todo treinamento mágico que eu já conheci começa com esse tipo de exercício. Desde “Magia Prática — O Caminho do Adepto”, do Franz Bardon, até o “Liber Null” de Peter Carroll. Acredito que você irá concordar comigo, a partir de sua própria experiência, quando eu digo que este treino vai servir não só pra Magia, mas pra tudo na vida: melhora sua capacidade de se concentrar no trabalho, nos estudos, no que quer que você queira fazer que envolva a capacidade de estar focado numa atividade mental.

Essa forma de meditação consiste em manter a mente exclusivamente ocupada com uma coisa e uma coisa apenas. Que coisa? Qualquer. Pode ser desde algo material, como um objeto (uma caneta, uma estatueta, uma ilustração, a chama de uma vela, uma parede branca), até a respiração, ou uma imagem mental, qualquer coisa MESMO. Minha única impressão aqui é que, quanto mais simples é o objeto no qual tento me concentrar, mais fácil é. Experimente e veja o que serve melhor para você.
Uma vez que tenha escolhido com o que meditar, sente-se em uma posição confortável. Eu sugiro a postura egípcia, que consiste em apoiar as costas retas no encosto de uma cadeira, com as pernas dobradas em noventa graus e as palmas das mãos apoiadas sobre as coxas. Vou explicar por quê: a posição na qual seu corpo se encontra não importa. Não faz muito sentido, nesse momento, querer sentar em posição de lótus, trançando as duas pernas, segurando as costas eretas apenas pela contração dos músculos do abdômen. Os músculos tendem a se cansar, você perderá a postura e ficará dolorido. Por isso, escolher uma postura na qual não é necessária a preocupação com sua sustentação é sempre uma boa pedida.

Estando na posição correta, concentre-se no seu objeto. Se for uma caneta, uma estatueta, uma ilustração ou uma vela, coloque-a numa superfície lisa à sua frente, ou pregada na parede. Ou simplesmente coloque-se de frente a uma parede branca. Ou então, preste atenção à sua respiração, conforme você inspira e expira. Se escolher uma imagem mental, terá que fechar os olhos; o risco aqui é adormecer. Se você cair no sono, não colherá os benefícios da meditação.
Ok, você está concentrado no seu objeto. E agora? Sempre que passar um pensamento na sua cabeça que desvie sua atenção, simplesmente recupere o foco voltando a atenção para onde ela não deveria ter saído. Procure não sentir nada de ruim pelo pensamento que veio. Apenas recobre a atenção, como se dissesse: “nossa, viajei… onde eu tava mesmo?”. Encare seus pensamentos numa boa, não force nada, deixe as coisas acontecerem naturalmente. Se você se forçar a NÃO PENSAR em algo, aí é que aquilo vai aparecer de novo e de novo na tua paisagem mental; portanto, não precisa se preocupar com o que você NÃO DEVE pensar. Isso virá e, em seguida, irá embora. Ocupe-se com o seu objeto. Concentre-se nele.
Faça isso todos os dias. Comece com pouco tempo e, em seguida, vá aumentando. Tem mínimo e máximo? Não. Comece com o quanto conseguir e vá até quanto conseguir. Assim como no treino físico, você vai perceber que, com a prática, tudo vai ficando mais fácil e mais natural.

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Respostas de 7

  1. Felipe, nunca me canso de afirmar tudo isso que vc escreve. e pensar que William Walker Atkinsons é um dos compiladores (ao que parece) do Caibalion e comecei com ele (Filosofia Yogue e tantos outros livros dele, uma figuraça!)
    Paz Profunda numa jornada sem fim com muitos finitos.

  2. Texto excelente. Já faz um tempo que estou interessado em começar a meditar pra valer, mas sempre acabo parando em algum momento.
    Recobrou minha intenção de fazer essa prática, ainda mais que ando com problemas gravíssimos de concentração e foco.

  3. Este texto esclareceu dúvidas minhas. E o melhor é que foi síncrono com esta semana. Estava pensando e por onde começar a melhorar, justo neste momento.

    Talvez seja colocar o carro adiante dos bois, mas fico imaginando o que poderia ser o outro exercício e quais os passos seguintes.

    Outra dúvida seria saber quando saber se minha concentração está boa o suficiente, para experiências mais profundas, como RMP ou o citado Liber Null, por exemplo.

  4. Embora eu nunca tenha tentado me aprofundar nos exercícios, toda vez que tento superficialmente minha visão rapidamente fica roxa, como se minha pressão estivesse caindo. Isso pode ser um problema para sessões mais longas?

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