Gitanjali: uma nova tradução

Gitanjali

Poemas selecionados do “Gitanjali”, a obra com a qual Rabindranath Tagore se tornou o primeiro Nobel de Literatura não europeu. O livro digital também conta com a introdução do poeta irlandês W. B. Yeats (outro Nobel de Literatura), e foi traduzido do original em inglês por Rafael Arrais.

Disponível para Amazon Kindle e Kobo

[12]

Longo é o tempo da minha jornada,
e longo é o caminho.

Eu parti na carruagem do primeiro cintilar de luz,
e trilhei minha jornada através da vastidão dos mundos,
deixando pegadas em muitas estrelas e planetas.

O percurso mais longo
é aquele que mais se aproxima de você,
e a aprendizagem mais complexa é a que nos leva
à absoluta simplicidade de uma melodia.

O andarilho precisa bater em cada porta alheia
para um dia encontrar a sua própria entrada;
Precisa vagar por todos os mundos externos
para que um dia finalmente encontre
o seu santuário mais íntimo.

Meus olhos vagaram por paragens vastas e distantes
até que os pudesse fechar e dizer,
“Aqui está você!”

A dúvida e o clamor, “Onde? Onde?”,
derreteram-se nas lágrimas de mil córregos
e inundaram o mundo com a certeza:
“Eu sou!”

***

[22]

Nas sombras profundas do julho chuvoso,
você caminha com passos ocultos,
silencioso como a noite,
iludindo todos os guardas em vigília.

Hoje a manhã fechou seus olhos,
fazendo pouco caso das chamadas insistentes e ruidosas do vento leste,
e um véu espesso caiu sobre o céu azul sempre desperto.

Os bosques silenciaram sua cantoria,
e em todas as casas as portas estão fechadas.
Você é este andarilho solitário
nesta rua deserta.

Ó meu amigo, único e tão amado,
as portas da minha casa se encontram abertas –
não passe por elas somente como um sonho…

***

[35]

Onde a mente encontra-se sem medo e a cabeça é mantida erguida;

Onde o conhecimento é livre;

Onde o mundo não foi quebrado em fragmentos
por estreitos muros domésticos;

Onde as palavras vêm da verdade profunda;

Onde laboriosas lutas esticam seus braços em direção à perfeição;

Onde o riacho límpido da razão não perdeu seu rumo
afluindo ao triste deserto dos hábitos moribundos;

Onde a mente é direcionada adiante por você
a pensamentos e ações sempre em constante afloramento –
nesse céu de liberdade, Pai, deixe meu país acordar.

***

[56]

É assim que a sua alegria em mim
é tão completa.
É assim que você desceu
ao meu encontro.

Ó senhor de todos os céus,
onde se encontraria o seu amor
se eu não existisse?
Você tornou-me herdeiro
de todo este vasto tesouro.

Em meu coração é encenada
a brincadeira sem fim do seu prazer.
Em minha vida
a sua vontade
está sempre tomando forma.

E, por isso, você que é o Rei dos reis,
você se revestiu de beleza
para capturar meu coração.

E por isso o seu amor
perde a si mesmo
no amor do seu amante;
E lá estará então a sua imagem –
na perfeita união dos dois.

***

[82]

Em suas mãos, senhor, o tempo não tem fim.
Não há ninguém para contar os seus minutos.

Os dias e as noites passam
e as eras brotam e murcham como as flores.

Você sabe como esperar.
Os seus séculos sucedem uns ao outros,
aperfeiçoando uma pequenina flor do campo.

Nós, no entanto, não temos tempo a perder.
E, dessa forma, devemos aproveitar ao máximo cada momento.
Nós somos demasiadamente miseráveis
para nos atrasar.

É assim que o tempo vai passando
e eu lhe entrego a todos aqueles que vivem se queixando
e exigindo mais…

Por isso o seu altar vai se despojando de todas as oferendas,
até a última…

Lá pelo fim do dia, eu corro apressado,
temendo que o seu portão se feche;
mas, por fim, percebo que ainda há tempo.

O Textos para Reflexão é um blog que fala sobre espiritualidade, filosofia, ciência e religião. Da autoria de Rafael Arrais (raph.com.br). Também faz parte do Projeto Mayhem.

***

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