O que é Filosofia Oculta?
Olá, caros leitores do Teoria da Conspiração. Me chamo Kayque Girão e estamos iniciando os trabalhos de 2019 com uma nova temática nessa coluna novinha em folha de nome “Filosofia Oculta”.
Mas, como já diz o título que encabeça este breve ensaio, o que seria ‘Filosofia Oculta’?
Na acepção original do conceito, não existe uma “Filosofia Oculta”. Esse é um termo construído ao longo de várias gerações para o que hoje conhecemos por “Ocultismo”, acreca de tudo o que diz respeito a espiritualidade, esoterismo, magia e Iniciação. O fato é que esse termo pegou e se tornou sinônimo para a gama de conhecimentos de diversas tradições mágicas, em grande parte da Europa dos séculos XVIII e XIX, como Teosofia, Astrologia, Cabala, etc.
Entretanto, partindo para a questão semântica, analisemos o termo:
“Filosofia”, do grego “Φιλοσοφία” cujo significado objetivo é “amor a Sabedoria”, um campo do conhecimento humano que busca estudar e entender todas as questões da existência do indivíduo. Até então, é um conceito já assimilado pelo pensamento coletivo ao longo da história. Mas e “Oculta”, o que estaria “oculta”?
Para isso, precisamos voltar um pouco no tempo e nos debruçarmos para idos de 1500s, quando a Europa, na sua “pax romana” estabelecida pela Igreja Católica – cujo domínio político hegemônico se estendia por todo Ocidente conhecido – estava dividida entre reinos e nações em sua grande parte monárquicos e ainda sob o sistema feudal de regime social. Nesse cenário, a propagação do conhecimento esotérico ocorria à revelia das leis religiosas e da perseguição promovida pela Inquisição, que punia severamente todos que fizessem oposição aos seus principais dogmas religiosos ou fossem uma ameaça ao poder temporal e espiritual da mesma.
A única maneira da qual o conhecimento esotérico poderia sobreviver naquele período seria se submetendo ao jugo religioso do Cristianismo, e foi o que ocorreu na medida que alguns membros esclarecidos do clero católico passaram a preservar os diversos conhecimentos da Antiguidade e suas diversas ciências em vastas bibliotecas, cujos livros “perigosos”, “pagãos”, eram terminantemente proibidos de circularem, sendo por fim trancafiados e protegidos por superiores da hierarquia eclesiástica.
Mas alguns clérigos mais corajosos e outros sábios ordenados de instituições monásticas conseguiram perpetuar grande parte desse conhecimento que era ainda mesclado com as ciências da natureza muito antes do surgimento e consolidação do Iluminismo e seu método racionalista de educação. O mais famoso entre eles fora o eminente abade Johannes Trithemius, que cuidava da maior biblioteca versada em clássicos da tradição hermética, tornando assim um polo acadêmico e ponto de encontro de diversos pensadores que foram influenciados por essa vertente mística, tal como Giordano Bruno e Marcílio Ficcino.
Não se sabe se o referido abade fora um mago praticante, mas a ele é atribuída a autoria de obras como “The art of drawing spirits into crystals” e “Steganographia”, ambas versadas em invocações angélicas. O principal conceito de trabalho para Agrippa se situava no que ficou convencionado como “A Arte do Secretário”, como um modo de transmitir mensagens e segredos ocultos na própria natureza por meio da Astrologia e da Magia Natural.
Cornelius Agrippa, seu principal aluno, adotou o conceito de “Arte do Secretário” aplicado ao conhecimento das “ciências naturais” até então indistinguíveis dos conhecimentos esotéricos sobre a mesma. Assim sendo, compilou grande parte do conhecimento considerado clássico de sua época numa espécie de enciclopédia ou almanaque que hoje é historicamente conhecido como “Os Três Livros de Filosofia Oculta”, a quem dedicou a todos os mestres e buscadores do período.
Hoje com o avançar das tecnologias de informação temos a oportunidade de aprendizado com um volume incalculável de informações acessando os sítios da internet. O próprio site “Teoria da Conspiração” pode assim ser equiparado a esse formato enciclopédico, claro, com a devida proporção pela época em que vivemos. O livro de Agrippa num período em que o avanço industrial com a imprensa de Guttemberg podia proporcionar fora capaz de influenciar grupos e indivíduos ao logo das décadas, sendo referência até hoje dentro das ordens esotéricas e agremiações místicas e religiosas.
Mas o responsáveis finais por terem vingado o termo “Filosofia Oculta” e “Ocultismo” foram personalidades como Papus, Eliphas Levi (e seu conceito de “Ciências Ocultas”, de seu eminente “Dogma e Ritual”) e, claro – com um legado bastante prolífico – Madame Blavatsky, e que hoje caiu ao gosto popular em nosso cenário ocultista nacional
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Sendo assim, a linha dessa coluna seguirá em grande parte assuntos gerais e tópicos específicos que tangem a “Filosofia Oculta” sob o enfoque das diversas tradições espirituais. Aliás, “Tradição”, “tradições” e “tradicionalidade” mágica serão termos frequentemente citados nos próximos ensaios. Sigo uma linha tradicionalista de pensamento e prática que pode ser novidade para muitos de vocês, e haverão momentos propícios para isso, claro. Minha formação pessoal é como estudioso e pesquisador das tradições, em especial a ocidental e hermética, mas um pouco diferente do que o público está habituado em perceber.
Então esperem temas aqui como Astrologia, Alquimia, Astrosofia, Tradição Hermética, grimórios, textos antigos e conceitos ímpares explorados por autores de referência como Julius Évola, René Guénon, Alexander Dugin, dentre outros, aplicados pontualmente ao tópicos citados, com traduções exclusivas, resenhas e outros tipos diversos de abordagem tradicional a fim de enriquecer o cenário nacional, para deleite de vossas mentes e almas.
Abração! 🙂
Respostas de 4
Parabéns pela seguida ascensão. Que se consolide nos campos justos e leve sempre consigo o destemor e obstinação características de quem convictamente sente a própria senda e submete-se à verdadeira vontade.
Um grande abraço de um amigo.
Grato pelas palavras de encorajamento! 🙂 – K.’.
Fico feliz em saber que existirá uma nova coluna sendo atualizada aqui no TDC, já acompanho o site há um bom tempo e vendo novos ares com coerência de escrita e conhecimento me deixa mais empolgado nas visitas diárias!
Curiosamente hoje tive um encontro do “acaso” com uma leitura que a princípio eu baixei somente para ver se as ofensas ao assunto proposto seriam pesadas ou não:
Sou umbandista e encontrei um livro que achei no início ser escrito por alguém da religião, mas era o contrário, era de uma outra religião para atacar a ideia, o livro se chama “A Umbanda no Brasil – Orientações para católicos”.
O interessante é que sem querer, o Frei que escreveu o livro em 1961 fornece toda uma base cultural e histórica de como houve a miscigenação de raças no período do Brasil colônia e de suas crenças, todas evidenciados com fontes de livros que chegam a 100 anos de idade, muitos provavelmente já perdidos no tempo.
Para mim foi uma excelente aula de história com uma visão da religião vista de fora, ele fez um grande favor ao buscar criticar a Umbanda e suas magias!
Aguardo novos posts!
Fico feliz que esteja animado com essa novidade!
“O interessante é que sem querer, o Frei que escreveu o livro em 1961 fornece toda uma base cultural e histórica de como houve a miscigenação de raças no período do Brasil colônia e de suas crenças, todas evidenciados com fontes de livros que chegam a 100 anos de idade, muitos provavelmente já perdidos no tempo.
Para mim foi uma excelente aula de história com uma visão da religião vista de fora, ele fez um grande favor ao buscar criticar a Umbanda e suas magias!”
Curti bastante essa parte. Eu gosto muito de saber a história das diversas correntes de pensamento por dar um panorama de visão integrada na hora de tecer qualquer comentário a esse respeito. Fora os ganchos de pesquisa. Compartilho do seu sentimento de quando pegamos uma boa referência bibliográfica e nos engajamos àquele espaço particular de tempo que ficara perdido, mas acessível ao passar dos olhos.
No mais, aguarde que vai vir bastante novidade nessa coluna com relação a reviews de obras literárias! Sucesso nos estudos! – K.’.