Os fenômenos dos ciclos, o aparente começo e fim dos acontecimentos na Natureza, são, possivelmente, os mais primitivos exemplos da lei natural que foram percebidos pelo ser humano. O movimento diurno da Terra, a chegada da alvorada, do crepúsculo, da elevação e baixa das marés, da sucessão das estações, tudo isto impressionou o ser humano.
Manifestou-se então a compreensão da inevitabilidade da mudança. O ser humano seria uma exceção a essa mutação? Seria a morte o fim? Haveria uma transição por meio da qual o homem, ou o que se supunha ser o seu espírito tangível, voltaria a viver? Dessas especulações, surgiram os mitos e lendas que se tornaram a base dos drama-rituais das antigas Escolas de Mistério do Egito.
Essas escolas, em forma dramática, chegaram a representar o nascimento do ser humano, sua vida, morte, ressureição e a nova vida. Essa nova vida era descrita como tendo lugar em um outro mundo, um mundo que transcendia a este. Nessas ideias e preceitos, tem suas raízes os dogmas de muitas das religiões modernas.
Fazia-se coincidir a ocasião de encenar esses eventos simbólicos com o nascimento de um novo ano. O início do ano novo relacionava-se com algumas importantes ocorrências cíclicas. Entre a maioria dos povos antigos, o Ano Novo ritualístico foi estabelecido na ocasião do equinócio vernal, ou início da primavera. Esse período era apropriado porque era uma época de renascimento.
Toda a natureza estava despertando da dormência do inverno e da morte aparente. Verdes rebentos emergiam do solo; flores e botões cobriam as árvores e arbustos. O próprio ar parecia revitalizado em contraste com a sombria atmosfera do inverno. Era uma época de alegria; a vida era boa. Consequentemente, para o homem primitivo, a morte parecia apenas uma mudança, desta para uma outra vida.
Em ocasiões como a do Ano Novo simbólico, grandes festividades eram realizadas. Cerimônias e ritos de significação esotérica eram levadas a efeito. Aqueles que deveriam tomar conhecimento do mistério da vida e da morte, eram preparados como que para uma iniciação solene.
Os alimentos e as bebidas eram simples, tendo, cada qual, um significado simbólico que favorecia o participante, perfeitamente cônscio das lições que encerravam. Essas festas eram, de certo modo, similares às festas comunais de algumas das religiões modernas, e, todavia, isentas da complexidade verbal e do ritualismo inexplicável.
Cada participante das antigas festividades era obrigado a compreender, perfeitamente, os atos que realizava. Embora atualmente chamemos a essas escolas de Escolas de Mistério, na verdade, naquela época, o candidato, ou iniciando, não era deixado na ignorância, na maneira como interpretamos este termo. A compreensão era um requisito para a sua iniciação.
Os rosacruzes, cujas raízes como ordem fraternal estão no passado distante, herdaram a cerimônia simbólica do Ano Novo. Também o Ano Novo verdadeiro começa com a primavera no hemisfério Norte, época do equinócio vernal.
A ocasião exata desse fenômeno tem lugar quando o sol, em sua jornada celeste, penetra no signo zodiacal de Áries. O ano Novo Rosacruz é comemorado em uma data tão próxima do equinócio quanto possível. O equinócio ocorre duas vezes no ano, em março e em setembro. No equinócio ambos os hemisférios da Terra encontram-se igualmente iluminados pelo Sol. O ponto do céu que o Sol ocupa no equinócio de março define o ponto vernal. Devido à precessão dos equinócios, a localização do ponto vernal ao longo dos milênios não é fixa, e define a era astrológica. Atualmente, encontramo-nos na era dos Peixes; ou seja, em dias atuais o ponto vernal localiza-se na constelação dos Peixes. No equinócio de setembro o Sol localiza-se na constelação de virgem.
Tornou-se, também, costume e tradição, todas as Lojas, Capítulos e Pronaoi Rosacruzes, em todo o mundo, comemorar o acontecimento com uma bela e tradicional festividade cerimonial. Esta festividade consiste de três elementos simples, de relação mística, dos quais podem participar todos os estudantes rosacruzes.
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