Equivalência da Forma: O Decodificador Cabalístico

A sabedoria da Cabala é algo que hoje, mais do que nunca, exerce um enorme interesse sobre as pessoas, o que pode chocar à primeira vista, mas que já era previsto por nossos sábios. No século XXI, onde as mídias democratizaram tanta coisa., uma informação se espalha como rastilho de pólvora e a facilidade de se correlacionar sabedorias diferentes, comparando duas páginas de internet acabou por simplificar o processo. Com certeza, exige-se muito menos tempo do que no passado, quando pesquisas duravam uma infinidade de tempo.

O lado negativo disso, chama-se “autodidatismo”. A pessoa acha-se capaz de apreender TODA E QUALQUER forma de conhecimento simplesmente porque fez uma pesquisa de internet ou leu alguns pares de livros. Por isso, canso de receber pedidos para traduzir livros em hebraico (o que de fato estou fazendo, mas com fins de aprendizado verdadeiro no CCI), ou ver pessoas que ao invés de dedicar-se a aprender DE FATO à ciência cabalística, preferem unicamente consultar uma ou outra fonte, acreditando piamente que podem revelar o que nossos sábios demoram tempos razoáveis para adquirir, até que pudessem transmitir aos seus alunos.

Certa vez eu ministrava uma palestra, na qual abordava a bibliografia cabalística de importância primária, tendo levado alguns livros, simplesmente para fazer uma demonstração. Neste evento havia um rapaz muito inteligente, que volta e meia me interrompia com alguma pergunta interessante, sendo que a última pergunta que ele me fez, foi se não poderia passar à ele a lista bibliográfica para que ele pudesse estudar a cabala sozinho, em casa. Rindo, eu peguei dois volumes do Zohar e falei, enquanto passava os livros às suas mãos: “por que não começa então estudando agora?”. Ele pegou os livros e começou a ler, deixando com que eu conduzisse a palestra, sem mais me perguntar.

Ao final da palestra, antes de liberar as perguntas para os participantes, indaguei: “o que o meu amigo achou?” E ele disse: “Nossa, é humanamente impossível aprender isso aqui sem orientação!” Após ele dizer àquilo, eu afirmei que não só era humanamente impossível para ele, como seria também para qualquer pessoa, ainda que falássemos de mentes inteligentíssimas. Isto porque em cabala, há um conceito, que nossos sábios nos transmitem há milhares de anos, que hoje é chamado cientificamente de EQUIVALÊNCIA DE FORMA.

Isto significa, que escritos cabalísticos profundos como a Torá, o Talmud, O Zohar, O Sêfer Yetzirá, o Bahir e outros, foram escritos por pessoas que estavam sob efeito de forte Ruach Hakodesh (Inspiração Divina), o que nos leva simplesmente à conclusão que existem códigos em seus escritos. É verdade que todo código pode ser quebrado, mas trata-se de algo tão engenhoso, que os mistérios para a revelação e entendimento da sabedoria ocultos nestes livros, não são algo que estão fora e sim, dentro do “decodificador”.

Vamos por um exemplo: imagine que você ama uma mulher, e que ela não sabe nada disso. Você a admira pela cultura que ela tem, porque é inteligente, se comunica bem e aprecia música clássica. Sabe falar sobre várias coisas, em especial cinema, literatura e teatro. É muito correta com os assuntos do trabalho e em todas as ocasiões possíveis está folheando um livro. Você então se olha e constata que odeia ler, não é interessado em cinema, música, assim como acha teatro um saco. Está num trabalho por falta de opção melhor, o que o torna extremamente desleixado com os assuntos dele. Não estou dizendo que você precisa ser idêntico com uma pessoa para que se apaixonem, mas é preciso ter uma proximidade e questões internas afins, isto é o caminho para a equivalência de forma.

Então você aprende, que se realmente quiser se aproximar da mulher de seus sonhos, você só tem uma opção. Buscar as qualidades que lhe faltam e que podiam causar interesse nela, e nas qualidades que você já possui, você precisa refiná-las, até que levem automaticamente á uma proximidade. Com certeza as suas chances sairão de 0%, para algo mais elevado. Pode ser que você não conquista ESTA MULHER, mas com certeza abrirá as portas para alguém semelhante na sua vida.

A verdade é que usei um exemplo cotidiano para explicar algo profundamente espiritual. Em Cabala para que possamos desvendar certos códigos, é necessário que nos aproximemos do alvo a ser desvendado. Se pegarmos um livro como o Zohar, para entendê-lo não se trata somente de uma questão de leitura, mas sim uma aproximação espiritual com o autor daquele livro. Isto significa que é preciso que eu tenha uma aproximação com as qualidades daquele autor, para que possa de fato vir a compreendê-lo.

Mas como posso compreender ou provocar um estado que vai me levar até a equivalência de forma com os autores dos livros cabalísticos, se eu nem ao menos conheço as características espirituais que eles cultivavam? Aí entra o papel do Rav (Mestre). Tendo ele percorrido tal caminho, ele será capaz de evocar no estudo da Cabala, situações, através das quais estes estados serão atingidos, até que você vai ler o livro ou partes dele, uma, duas, três vezes, sentindo que em cada lida, um novo véu está sendo revelado. Aí, a equivalência de forma vai acontecendo e quanto mais eu cultivo em mim as características daqueles sábios, mais eu os compreendo e mais o conteúdo transmitido por eles fica claro.

No final das contas, nossos antigos sábios dizem, que tudo no universo nos “empurra” para a equivalência de forma, já que o objetivo final do ser humano é a similaridade com D´us. Até que sejamos tão parecidos com ele em qualidades espirituais, até o ponto em que não aja eu ou D´us e sim nós. Como na matemática cabalística: 1+1= 1.

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Respostas de 15

  1. Observo q a equivalencia de forma seja um principio que esta correlacionado com a subjetividade da interpretaçao da realidade. Pois, seja na leitura de um livro,ao assistir um filme ou ouvir uma musica cada um interpreta de acordo com sua forma. Fato observado na incompreensao e ate miséria de grandes genios da humanidade que morreram no ostracismo. Para, finalmente, terem suas obras ovacionadas em futuras geracoes.
    Assim com,o equivalencia de forma permite uma maior sintonia com a mensagem transmitida, seu inverso tambem eh verdadeiro. Ou seja, uma assimetria de forma permite que a mensagem ganhe vida propria e adquira signifiados variados.

    Creio que este seja um assunto muito profundo que requer meditaçao.

    Obrigado pelo excelente texto.

  2. Acho que ocorre exatamente assim.

    Como não posso falar do Zohar (ainda), citarei alguns poetas aos quais obtive alguma espécie de aproximação: Tagore, Gibran, Fernando Pessoa e, mais recentemente, Rumi.

    Uma das características mais impressionantes da poesia espiritualista, da linguagem da alma, é que ela pode de fato “aproximar”. E mesmo que passem os séculos, acredito que esta aproximação ainda se faz… A alma é atemporal.

    Ou, pelo menos, não tenho outra boa explicação para como consegui escrever isso logo após conhecer Rumi (o estilo não lembra o meu em quase nada, ou melhor, não lembrava, pois hoje acho que foi “aproximado para dentro de mim”):

    Quando eu voava exaurido por seu jardim,
    Sorvendo todo néctar das flores ao redor,
    Estava feliz, mas nem tanto assim…

    “O que está te incomodando, amante da flor?” – você me perguntou.
    “Uma saudade, uma dor.” – eu respondi.
    “O que há nesse jardim para se ter saudade?”
    “Tudo! As flores, o néctar, o cheiro de jasmim”…

    Eu ansiava pela idade em que cresceria
    Num pássaro maior, dono do céu, dono de mim;
    Que poderia voar para bem longe de seu jardim.
    Eu sabia que precisaria alçar voo,
    Mas temia, mesmo assim…

    “Eu irei encontrar néctar nas flores de outro país?”
    “Todas as flores tem néctar.”
    “Mas, e se não existirem flores noutro país?”
    “Todos os países tem flores.”
    “E porque tanta vida, porque tanto amor, o que você ganha em troca?”
    “Amante da flor, lhe contarei meu segredo”…

    E você me explicou que enquanto eu sorvia o doce de cada flor,
    Suas pétalas espalhavam por meu pequeno corpo o pólen
    Que iria fecundar outras flores, para que cada uma delas
    Conhece-se em segredo o ingrediente do néctar
    Umas das outras…

    “Mas como se faz tal milagre?”
    “Qual deles?”
    “Ora, o da criação do pólen e do néctar, isso nunca termina?”

    E você me explicou que desde muito cedo tudo coube aos pássaros,
    Os amantes das flores, que por demais amarem seu néctar,
    Distribuíam ao pólen por todos os cantos do jardim;
    E que agora já era tarde,
    Isso jamais teria um fim…

    ***

    “Mas Shams, serei eu realmente um pássaro amante das flores?”
    “Todo ser é o que sonha.”
    “E o que é essa corda pendendo do meu pé?”
    “O lembrete da realidade.”
    “Mas, seria isso tudo real? Existe mesmo esse néctar infindável?”
    “Você só vai saber se continuar voando, e distribuindo meu pólen pelo coração da realidade – mas voe em silêncio!”

    (O néctar de Shams – Rafael Arrais, 2012)

    1. Porque será que as coisas profundas, por serem profundas, dão a impressão de ser tão etéreas, tão simples e ao alcance da mão?
      Não sei se é a qualidade que dá leveza e mostra a essência ou é o fato de ser essência que se traduz em beleza e simplicidade…

    2. Cara, eu fiquei ainda bem distante da sua alma para apreciar melhor os versos
      Mas ainda assim, senti um pouco da plenitude
      Fantástico!!

  3. Certa vez, uns conhecidos de Nasrudin vieram até a sua casa:
    Um certa hora da noite um deles pergunta:
    – Nasrudin, gostaríamos de conhecer aquele seu azeito de 40 anos
    Nasrudin recusa o pedido e os conhecidos vão embora bravos, eis que ele vira para a sua mulher e diz:
    – Como eles querem conhecer meu azeite de 40 anos, se eles não tomaram o azeite de 1 ano, de dois anos, de 3 anos ….

  4. Autodidatismo produzindo religiões distorcidas, graças às interpretações forjadas e literais.

    Equivalência da Forma e Princípio de Vibração.

  5. Acho interessante esta ideia de imergir no universo e nos sentimentos de quem transmite para entender o que ele está transmitindo profundamente, e isto poderia ser aplicado até ao cristianismo, como uma pessoa egoísta poderia entender as passagens de Cristo? Não entendem e as deturpam em prol de seus próprios interesses egoístas. Assim jesus se torna uma figura distante a ser admirada pelas suas qualidades e não um exemplo a ser seguido, uma vez que não estão dispostos ase aprofundarem no amor ao próximo e no desapego do ego e das ilusões da matéria.

    jesus é exemplo, um caminho, mas é mais fácil terceirizar esta jornada e adorá-lo e rezar para que ele interceda para aquele que não está disposto a fazer seu próprio caminho, mesmo que mapeado por Cristo.

    Seria por ai?

  6. E quanto à Kabbalah Hermética? também é imprescindível um professor? Eu vejo que muitas ordens inclusive publicam mini-manuais para seus membros estudarem por si só…

    Perdão a ignorância…

    @MDD – Manuais e livros só conseguem avançar até um (pequeno) pedaço… mas é necessário um professor para organizar e conduzir as ideias e práticas, não apenas pela questão da egrégora, mas para ter uma base para tirar duvidas e corrigir desvios, que uma pessoa que estuda sozinha geralmente comete.

    1. Existe alguma Escola Iniciática que ensina a Cabala Hermética? Participando de uma ainda é imprescindível um professor?

      @MDD – O próprio AA tem toda a base da Kabbalah Hermética no grau de Probacionista e aprofundamentos nos graus posteriores.

  7. O verdadaeiro mestre é o interior…Li o ZOHAR sozinho e considero que compreendi, não a sua totalidade, mas ele me transformou elevando meu estado de consciência a uma vibração nunca antés experenciada…Naõ se trata de inteligencia e sim de abertura espiritual…O MESTRE EXTERNO SÓ SERVE PARA DESPERTAR O NOSSO MESTRE INTERIOR…PAX E LUX PROFUNDAS…

  8. Belo post, me interessei demais pelo assento.(assunto). Queria ter mais tempo para pesquizar estes trópicos. Como eu saber dum tsunsmi antes dele ocorrer, ou um terremoto por exemplo da ciência que se envolve também. Admiro muito este site adoro os textos!!! Abraços!!!

  9. O zohar inteiro tem cerca de 23 volumes. O proprio autor do zohar rabi shimon bar bar yochai. Declara que e fundamental a relacao entre meste e Aluno. Ao ler todo o zohar em seu formato original percebemos que e uma narrativa da vivencia entre o rabino e seus discipulos. O mestre serve para muito mais. E amor, ensino, amparo, correcao e parametro para algo fundamental na apreensao da cabala, alem de achismos: A bitul, auto anulacao e humildade. Mesmo o rabi shimon teve seu mestre chamado rabi akiva. com amor rafael.

  10. O Que a Cabalá Não é:
    A Cabalá não é religião, misticismo, magia, água benta, fitas vermelhas, amuletos e um bocado de outras coisas que foram associadas.

    Pra quem quiser conhecer e ter aulas gratuitas de Cabalá.

    Instituto de Educação Bnei Baruch.
    – Aulas e material (e-books) gratuitos, da pra baixar até o Zohar.
    http://www.kabbalah.info/pt/

  11. Não lembro bem onde li, mas era um dos meus livros de música que ando lendo para minha tese, ou pra passar aos meus alunos nas aulas, e tinha uma citação bem focada neste tema. Era algo do tipo “a relação mestre-discípulo é bem mais do que uma aula, uma passagem de conhecimento de um para outro. É uma relação que promove a empatia mútua, o somatório de duas almas para o enriquecimento dentro da arte da música”.

    Acho que floreei um pouco, mas o sentido era este. Curioso, não? Foi a primeira coisa que me veio à mente quando li este artigo.

  12. esse texto parece dar base a uma conclusão de uma reflexão minha de que os ensinamentos da maioria dos grandes mestres só servem para confirmar aquilo que já sabemos, o resto fica incompreensível para quem ainda não sabe, não tem experiência de vida”s”

    cheguei nessa conclusão enquanto lia algumas poesias sufistas e notei que quem entendia a poesia não era meu ego ou meu intelecto, mas sim meu coração, meu eu superior. Daí lembrei dos ensinamentos de Jesus e como eles são mal interpretados até mesmo pela própria igreja e seus teólogos

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