Entrevista com Marcelo Del Debbio sobre Thelema

Concedida a Kayque Girão e Natasha Lacerda

Faze o que tu queres deverá ser o todo da Lei.

Nosso primeiro contato com Marcelo Del Debbio através de seus escritos se deu em meados de 2006 e.v. quando eu porventura tinha em mãos um exemplar surrado da primeira edição do jogo Trevas. Foi basicamente durante minha adolescência jogando R.P.G. que pude ver sua participação com outros aficionados no hobbie daquela que ficou conhecida como “geração xérox”, pioneira nos jogos de interpretação de papel em terras tupiniquins por meio da antiga (e saudosa) Dragão Brasil.

Quando decidi voltar ao estudo das ciências ocultas meu primeiro contato também foi com o mesmo na sua coluna “Teoria da Conspiração” do “Sedentário e Hiperativo”, algo que me deixou bastante surpreso e que nem imaginava que houvesse uma personalidade pública que defendesse abertamente o estudo do esoterismo, magia e iniciação contra a desinformação e o preconceito. Hoje não existe quem não saiba ou tenha ouvido falar no “tio” (como muitas vezes é chamado por seus admiradores), seus livros temáticos de RPG, seus artigos acerca de ocultismo e magia, o Projeto Mayhem e o atual Arcanum Arcanorum.

Hoje bem quisto na mídia (tendo inclusive participado de diversos programas de TV, blogs e podcastings), o mesmo fez valer o adágio “sucesso é tua prova” e deixado sua própria marca como expressão de sua vontade e aspiração pessoal. Não se considera, nas suas palavras, “100% Thelemita”, mas faz valer o seu propósito em vida e em auxiliar a descoberta pessoal de outros buscadores. Foi assim comigo, sendo de grande ajuda ao ocultismo nacional e aos buscadores que necessitavam de maiores informações sobre o assunto.

Esperamos que gostem!

Amor é a lei, amor sob vontade.

Kayque Girão & Natasha Lacerda

Marcelo Del Debbio, é um arquiteto luso-brasileiro, escritor e ocultista, com especializações em Semiótica, Simbologia e História da Arte. Membro da Maçonaria, Diversas Ordens Rosacruzes e Fraternidades Iniciáticas, autor de 42 livros de R.P.G. e da Enciclopédia de Mitologia, o maior trabalho sobre Mitologia Comparada em língua portuguesa, hoje é considerado um dos maiores pesquisadores sobre Ordens Iniciáticas, Kabbalah, Oráculos e Ocultismo no Brasil, responsável pelo site Teoria da Conspiração e pelo Projeto Mayhem. Marcelo Del Debbio pode ser contatado pelo seu site, www.deldebbio.com.br.

O Indivíduo

Espaço Novo Æon: Marcelo Del Debbio, conhecido dentro e fora da Internet como ocultista e divulgador de ensinamentos iniciáticos e herméticos, e organizações esotéricas. Mas quem é realmente o famoso “tio DD”, (apelido que ganhou carinhosamente com sua coluna no site Sedentário e Hiperativo, por sempre abrir seus textos com o: “Olá crianças”). O que pode nos contar?

Marcelo Del Debbio: Eu sou apenas um cara que estava no lugar certo na hora certa na maior parte do tempo (risos). Hoje, depois de mais de vinte anos dentro de Ordens Iniciáticas e Magísticas, depois de conversar com meu Sagrado Anjo Guardião e entender o que eu vim fazer no planeta, é fácil olhar para trás e compreender toda a jornada; entender que eu já faço isso há várias encarnações e que todos vocês que chegaram ao blog de uma maneira ou outra também estão nessa caminhada. Cada um de vocês os seus dons.

Espaço Novo Æon: É notável seu trabalho didático e literário como escritor de R.P.G.’s , os famosos “jogos de interpretação de papel”, pode falar mais a respeito?

Marcelo Del Debbio: O R.P.G. é um jogo de interpretação de papéis. Uma espécie de teatro onde não há script, apenas um conjunto de regras e personagens e a aventura. É uma das melhores e mais poderosas ferramentas de ensino e estudo que pode ser usado para uma infinidade de aplicações. Na magia, ele facilita e treina os aspectos da Visualização Criativa, que é a BASE de toda a magia cerimonial e astral. Claro que quando eu comecei a escrever e trabalhar com R.P.G.s eu não tinha total conhecimento de como o R.P.G. é importante na formação de um magista; isso foi antes de conversar com o S.A.G.[1].

De qualquer maneira, “inconscientemente” eu sempre fui guiado para escrever jogos que estavam mergulhados na temática do ocultismo, hermetismo, alquimia e ordens iniciáticas. Meu primeiro livro, Arkanun, surgiu em 1995, enquanto eu trabalhava em um projeto acadêmico chamado “Enciclopédia de Mitologia” no qual estava organizando e catalogando deuses, anjos, demônios, heróis e monstros de todas as mitologias.

Jogávamos R.P.G. desde 1984 e não existia nenhum jogo que lidasse com esses temas da maneira “histórica” (entre aspas, porque estou incluindo aqui a parte mística, esotérica e mitológica da história) envolvendo templários, inquisição, rosacruzes e alquimistas.

Na época, ofereci o projeto ao Marcelo Cassaro, editor da Dragão Brasil, que me deu a chance de publicar Arkanun. Foi um sucesso imediato. TREVAS, o mesmo cenário, no mundo moderno, vendeu mais de 20.000 exemplares em sua primeira edição e comecei a trabalhar com isso.

Espaço Novo Æon: Entendemos a importância do R.P.G., mas ainda assim nos perguntamos sobre a possibilidade da banalização do Ocultismo nesses meios. Como você sente isso com o seu público?

Marcelo Del Debbio: Acho improvável que conseguiríamos banalizar o ocultismo mais do que uma revista de Wiccas com tiragens enormes todos os meses ou revistas de horóscopos ou livros de simpatias nas bancas de jornal; numerólogas irmãs do Gugu ou a cabala da Madonna ou feirinhas místicas além das lendas… O R.P.G. é um produto extremamente de nicho e os dois títulos pesos-pesados no Brasil que lidam com magia (Trevas e Mago: Ascensão) trabalham muito bem com este tema. Estamos bem representados.

Espaço Novo Æon: Você pode entrar um pouco mais na questão de como o R.P.G. é importante na formação de um Magista? Você acredita que seria essencial?

Marcelo Del Debbio: O R.P.G. desenvolve nossa maior ferramenta como deuses em formação, que é a capacidade de criar mundos e universos. Além disso, treina a visualização criativa e desenvolve a imaginação, a ponte de conexão entre Malkuth[2] e Yesod[3] e o portal de abertura para as consciências superiores do ser humano. Acredito que seria muito importante, sim.

Espaço Novo Æon: Você já pensou em criar um jogo de R.P.G. baseado no Tarot de Thoth, levando assim o pensamento e filosofia do Novo Æon (já que ele é O Livro da Lei ilustrado) para o seu público de jogadores?

Marcelo Del Debbio: Na primeira edição de TREVAS, os jogadores criavam seus Personagens usando o tarot. Depois tive de mudar porque os editores na Dragão Brasil pensaram que seria muito complicado, já que os R.P.G.s passaram a ser distribuídos em bancas de jornal para todo o país e seria complicado para jogadores no interior ou em cidades afastadas conseguirem esses Arcanos (lembrem-se que era um período nos primórdios da internet!).

Espaço Novo Æon: Seguindo no caminho de uma ferramenta profana ajudando no processo Iniciático, você já encontrou mais alguma?

Marcelo Del Debbio: Creio que o Teatro e as artes sejam o que está mais próximo do R.P.G. neste quesito. Representação e criação de universos dentro da mente das pessoas. A leitura constante de livros, forçando a mente a construir a narrativa, cenários e personagens também, em um grau menor. E os quadrinhos.

Espaço Novo Æon: Falando ainda sobre R.P.G. e seu contato com jovens, como você vê a crescente procura do Ocultismo e Thelema por jovens e até mesmo adolescentes? Isso é benéfico? Ou é a chave para os Thelemitas e Ocultistas de Facebook e Orkut que não percebem a seriedade do processo? Como mudar esse cenário?

Marcelo Del Debbio: Como costumo dizer sempre que me perguntam se eu gosto das revistinhas de Wicca nas bancas, “eu prefiro uma Wicca-teen na banca do que o mesmo espaço sendo usado para uma evangélica-Teen”. Se de cada 100 “Thelemitas de Orkut” tivemos um que efetivamente leia os livros e comece a estudar a sério, então é UM salvo… Os outros pelo menos já estão meio-passo no caminho. Eles podem fazer as coisas erradas, mas pelo menos, não estão dando dízimos por aí. Já é um bom começo.

Espaço Novo Æon: Quais são seus livros publicados sobre R.P.G?

Marcelo Del Debbio: Putz… deixa ver… Arkanun, Trevas, Grimório, Anjos, Cidade de Prata; Demônios, a Divina Comédia; Vampiros Mitológicos, Clube de Caça, Inquisição, Templários… a lista é grande. Foram 42 títulos publicados, incluindo ai a série R.P.G. Quest, que são livros de R.P.G. voltados para iniciantes e crianças, com sete livros, e os livros que escrevi em coautoria com outros escritores.

Todos estes livros surgiram do período de dez anos em que passei pesquisando os dados para escrever a Enciclopédia de Mitologia. Pesquisava sobre Anjos? Acabava reunindo dados para um R.P.G. de Anjos… pesquisava sobre vampiros? Um R.P.G. de vampiros e assim por diante… tanto que a maioria dos meus R.P.G.s são elogiados pela pesquisa profunda e organizada que fizemos. Mesmo depois de mais de quinze anos, ainda estamos entre os R.P.G.s mais jogados do Brasil, ao lado de pesos pesados como AD&D, GURPS e Vampiro.

Espaço Novo Æon: E sobre outros assuntos?

Marcelo Del Debbio: Tenho um romance, “Princípia Discórdia”, sobre vampiros em Londres, que escrevi tendo como base o período que morei na Inglaterra, e a Enciclopédia que citei acima. E tem o blog. Não conta como “livro”, mas são mais de 3.500 textos e ensaios sobre magia e ocultismo, totalizando mais de 9.200 páginas de texto se fossem publicadas.

Espaço Novo Æon: Falando sobre a Enciclopédia da Mitologia, notamos que é um pouco difícil encontra-la à venda, tem uma nova edição vindo por aí? E para os interessados, onde eles devem procurar? Tem um local onde seja fácil encontrar?

Marcelo Del Debbio: No momento ela está em sua quarta edição esgotada. Temos planos de reimpressão em 2019.

Espaço Novo Æon: E seus livros de R.P.G., onde você indica pesquisar e comprar?

Marcelo Del Debbio: O site: www.lojaderpg.com.br.

Ocultismo e Senda Iniciática

Espaço Novo Æon: Quando e como começou seu envolvimento com as Ciências Ocultas?

Marcelo Del Debbio juntamente com os Irmãos do Grande Priorado do Brasil
Marcelo Del Debbio: Em 1989. Fiz intercâmbio na Inglaterra e acabei caindo “sem querer” em uma casa de druidas. Além da Bruxaria Inglesa, os membros daquele grupo tinham iniciados na Golden Dawn, Maçonaria, SRIA, Ordens Rosacruzes e outras. Era um grupo grande, invisível, do tipo que não tem página na internet (risos). Quando voltei para o Brasil passei um bom tempo me comunicando apenas com eles e praticando, em uma época sem internet e com pouquíssimos grupos organizados sérios no Brasil. Em 1992, entrei em contato com rosacruzes, membros antigos da O.T.O. (antes da Guerra do Califado) e maçonaria. Quando comecei a trabalhar com R.P.G., muitos Mestres Maçons e Rosacruzes entraram em contato comigo tentando descobrir “da onde eu tinha conseguido aquelas informações” (risos) e a partir daí conheci muita gente nesse meio. Entrei para a A.M.O.R.C., a Maçonaria e fui conquistando espaço dentro destas ordens. Fiz os graus mais avançados da Maçonaria, até chegar a Cavaleiro Templário, onde hoje ocupo o cargo de Grande Marechal Adjunto. Fora isso, por estar sempre próximo de muitos pais-de-santo ligados ao trabalho de Rubens Sarraceni e Alexandre Cumino, graças à Loja Madras, entrei em contato com a Umbanda através deles, do Candomblé através do pai Waldir Persona, que tem mais de 40 anos dentro destes estudos, e da Umbanda Iniciática. Estudei Kabbalah Judaica com Edmundo Pellizari e Astrologia Hermética dentro das ordens rosacruzes. Estudei qliphoth[5] e o caminho da mão esquerda dentro da Dragon Rouge e o caminho da mão direita em Ordens Martinistas.

Para quem é leigo, pode até parecer muita coisa “diferente” ou “mistura”, mas não é (mesmo porque a maioria dos grandes magos estuda duas ou três vertentes de magia e, claro, ninguém trabalha ao mesmo tempo dentro de mais de uma egrégora… existem horas e locais certos para cada prática). Quando se estuda profundamente estas ordens, percebe-se que tratam das mesmas coisas, das mesmas entidades e seres, apenas com ritualísticas e nomes diferentes, que são as manifestações das mesmas magias e rituais ao longo de épocas culturais e temporais diferentes.

A minha “base” é a Alquimia e o Hermetismo, no que chamei de “Estudo da Árvore da Vida”. Dentro desta estrutura simbólica conseguimos entender todos os sistemas magísticos, do I-Ching ao Enochiano; da Umbanda à Thelema. É uma verdadeira Tabela Periódica da espiritualidade.

Espaço Novo Æon: Como surgiu a ideia de escrever para blogs falando sobre o Ocultismo em geral, como a coluna do Sedentário e Hiperativo de nome “Teoria da Conspiração”? E o “Projeto Mayhem”?

Marcelo Del Debbio: A ideia surgiu em Fortaleza, em 2007, quando eu estava fazendo uma palestra sobre a Vida de Jesus pelo ponto de vista iniciático e o Eightbits, um dos editores do site “Sedentário e Hiperativo” perguntou se eu não queria uma coluna para falar sobre esses assuntos. Na época, eu nem fazia ideia do que era um blog, mas achei que poderia ser algo bacana. Em menos de um mês era a coluna mais lida do blog, com quase 30.000 leitores. Os textos eram semanais, mas o pessoal pedia por textos diários, então acabei montando outro blog, só para isso. Todo o processo foi crescendo e hoje o TdC tem cerca de 10.000 visitas por dia. O Mayhem foi um passo a mais, um fórum de debates sobre ocultismo, pois o Orkut estava um lixo nesse quesito e as pessoas queriam um lugar onde pudessem conversar em paz sobre assuntos iniciáticos.

Espaço Novo Æon: Aliás, o qual o significado do nome “Projeto Mayhem”?

Marcelo Del Debbio: O nome vem do Livro “Fight Club” de Chuck Palahniuk (adaptado para filme e dirigido por David Fincher). Pessoas com empregos comuns, vidas comuns que se reúnem ao redor de uma causa incomum.

Espaço Novo Æon: É notável sua presença em diversas organizações de cunho iniciático, como a A.M.O.R.C., Maçonaria, Colégio dos Magos, dentre outras. Você poderia nos contar um pouco mais sobre suas experiências nessas organizações e como elas lhe ajudam em sua vida profana e em sua carreira iniciática?

Marcelo Del Debbio: Um frater[6] do Arcanum Arcanorum disse uma vez:

“Pertencer a uma Ordem Iniciática não faz de você uma pessoa melhor,
Ter muitos conhecimentos magísticos não faz de você uma pessoa melhor,
Estar em uma religião não faz de você uma pessoa melhor,
Ser uma pessoa melhor faz de você uma pessoa melhor.”

Não adianta nada fazer o R.M.P.[7] perfeito e não dar bom dia para o porteiro. Magia é algo que você trabalha em tempo integral. Ou você é um mago ou é apenas um moleque brincando de ler textos na internet (e sendo massacrado pelas egrégoras oponentes). As ordens iniciáticas lhe darão ferramentas para utilizar, mas quem faz todo o trabalho é o estudante.
Espaço Novo Æon: Agora falando de seus cursos, você pode nos falar sobre eles e quais são seus focos?

Marcelo Del Debbio: No início, os cursos eram fechados apenas para maçons e rosacruzes ou pessoas que fossem iniciadas em alguma ordem esotérica. Por fazer parte de muitas ordens, frequentemente eu era convidado para ministrar cursos nessas entidades. Meus irmãos me pagavam para fazer cursos, comprar livros, viajar e compilar os estudos para ministrar cursos para eles. Era basicamente uma forma moderna de mecenato (risos). Eles tinham dinheiro e recursos, eu conhecimento e facilidade imensa para compilar estes dados e didática.

Quando comecei o blog, os leitores começaram a perguntar se eles não poderiam fazer os cursos também. No início, fui relutante, porque achava que iriam aparecer esquisotéricos ou criaturas além das lendas, mas tive uma surpresa. O pessoal que se matricula nos cursos geralmente já é dedicado e procura algo para ter uma base para ampliar seus estudos. Mesmo nos cursos básicos, como Kabbalah e Astrologia Hermética.

Graças aos cursos, podemos manter o blog, o projeto Mayhem e o Arcanum Arcanorum de maneira gratuita, levando conhecimento para um público ainda maior.

Espaço Novo Æon: Nas respostas anteriores você falou que tomou conhecimento e iniciou a conversação com o seu Santo Anjo Guardião (S.A.G.) e descobriu sua Verdadeira Vontade (V.V.) neste plano. Poderia explanar sobre estes conceitos, no que seria sua definição pessoal para os termos?

Marcelo Del Debbio: Minha definição pessoal é que o S.A.G. é você mesmo no futuro. Um Estado de consciência que chamamos de Tiphareth[8], no qual estamos livres de Samsara (a Roda das Encarnações) e temos plena consciência de todo o processo deste planeta. A conversação com o S.A.G. seria, portanto, conversar com você mesmo do futuro para acelerar seus acertos até chegar a este futuro. Note que, segundo o Budismo Tibetano, além de um Sagrado Anjo Guardião, Existiria um Sagrado ARCANJO Guardião, que seria o seu S.A.G. no futuro, ou o S.A.G. do seu S.A.G…. e assim por diante… até o Universo consciente. E, como não existe tempo, existe apenas o processo e, eventualmente, tomamos consciência que somos todos uma consciência apenas, experimentando individualidades em diversos graus.

Claro que este conceito é muito avançado e parece assustador a princípio… para uma pessoa com menos entendimento, um S.A.G. parece ser uma entidade externa… um “Anjo da Guarda” ou “Guia” ou “Eu Maior” que se confunde com outra pessoa… Mas responda: se você pudesse voltar dez, vinte anos no passado e dar conselhos para você mesmo, o seu EU do passado acreditaria que você é ele ou acharia que você é outra pessoa?

Espaço Novo Æon: Você mencionou que está no processo de Iniciação há várias encarnações, Como você vê esse processo Iniciático no ciclo de encarnações e o processo de encarnação em si? Você pode falar um pouco mais sobre esses pontos?

Marcelo Del Debbio: No Budismo tibetano não existe o conceito de encarnações. Como não existe o tempo (é um produto da matéria), não existem reencarnações, mas sim vidas paralelas que nossas consciências compreendem como sendo sequenciais enquanto estamos encarnados como indivíduos. Desta maneira, não apenas o meu processo, mas o de todo mundo passa por tentar atingir a Verdadeira Vontade em alguma destas vidas. Assim como eu, qualquer pessoa que se interessa pelo Hermetismo ou Thelema certamente não iniciou este interesse nesta vida; é um processo longo e que envolve diversas vidas dentro destas sendas. No meu caso específico, praticamente todas as encarnações que consegui resgatar envolviam escolas iniciáticas ou templos religiosos ou bibliotecas. E estas características refletiram em muitas coisas que tenho feito nesta encarnação. Assim como um médico nunca terá sido médico apenas nesta vida, ou um guerreiro de M.M.A. profissional certamente foi um gladiador em alguma outra vida, procuramos seguir nossa Vontade, inconscientemente.

Espaço Novo Æon: Em sua explicação sobre o S.A.G., você aborda que em Tiphareth há a quebra da “Roda de Samsara”. É possível afirmar isso? Qual seria o próximo passo de um desencarnado que está em Tiphareth? Você poderia nos explicar esse ponto?

Marcelo Del Debbio: Um dos meus professores, um monge tibetano, dizia que tornar-se iluminado era uma armadilha. Para atingir o grau de evolução necessário para se escapar de Samsara (eles não usam os mesmos termos que nós, nunca falam em Tiphareth ou Árvore; monges “sentem”), o ser torna-se tão consciente da beleza do universo e da humanidade que seria para ele impossível abandonar o planeta até que a última criança com fome do planeta fosse socorrida. Muita gente me pergunta no blog “por que eu ajudo tanta gente respondendo perguntas o tempo todo?” a resposta para isso seria outra pergunta: “por que eu não ajudaria, se tenho o conhecimento e os meios?” Esse é o próximo passo de qualquer pessoa em qualquer grau.

Espaço Novo Æon: Sendo o S.A.G. você mesmo no futuro, qual seria o conceito da conversação, poderíamos dizer que seria um tipo de manifestação de uma projeção psicológica no futuro? Você pode ir mais a fundo neste assunto?

Marcelo Del Debbio: Imagine que você volte quinze anos no passado e possa conversar com você mesmo. Você do passado acreditaria no que você mesmo de hoje teria a lhe dizer? Sobre as coisas que faria? Nossa Consciência em Tiphareth trabalha em tempos e espaços que não conseguimos nem conceber direito, por isso muitas vezes pensamos se tratar de outra entidade (ou nossa consciência em Malkuth assim a interpreta). Há casos de Êxtases religiosos nos quais algum crente encontra o próprio S.A.G. e acredita ter “conversado com Jesus” e assim por diante. Alguns dizem ter escutado uma voz em suas mentes, outros alegam terem encontrado um anjo com toda a exuberância de uma fantasia de baile de carnaval celestial… vai de pessoa para pessoa. No meu caso, nem poderia dizer que foi uma conversa: ele falou, eu escutei. “Falou” não é bem o termo. Melhor seria “inundou minha mente de projeções de tempo, espaço, sensações e sentimentos do que estava por vir”.

Espaço Novo Æon: Qual mensagem você poderia deixar para aqueles que ainda não alcançaram o conhecimento e conversação com o S.A.G. e por isso ainda não descobriram suas V.V.?

Marcelo Del Debbio: Digo que nada do que vocês fizeram até hoje em suas vidas está longe da Verdadeira Vontade de vocês. Podem ser aparas de outras vidas, resgates ou tentativas limitadas por outros fatores como dinheiro ou necessidade, mas se você imaginar que sua essência é uma jóia lapidada e que estamos no estado de gemas brutas, cada ação que fazemos é um pequeno golpe de lapidação. Existe um exercício dos monges tibetanos para acelerar a consciência que estudamos a partir da terceira monografia do A.’. A.’. que consiste em mapear sua vida para compreender os pontos cíclicos e os vetores para onde você têm caminhado.

O Mapa Astral (eu recomendo o projeto de Hospitalaria do Blog: www.deldebbio.com.br/mapas-astrologicos-e-sigilos-pessoais/) também é uma ferramenta muito boa para compreender a Verdadeira Vontade.

Novo Æon e Thelema
Espaço Novo Æon: Como foi seu primeiro contato com Thelema e Magick? O que te atraiu? Você se considera um Thelemita?

Selo da Besta 666, Therion
Marcelo Del Debbio: Meu primeiro contato foi através de um Venerável Mestre Maçom chamado Sérgio Pacca, antigo membro da O.T.O. e um dos maiores estudiosos de Thelema daqui de São Paulo. Através dele conheci o Frater Ael e mais tarde o Frater Goya, estudiosos e divulgadores incansáveis da Thelema e amigos pelos quais tenho profunda admiração e respeito. No Rio de Janeiro, conheci o Euclydes Lacerda de Almeida e o Jair Rosa de Miranda (Panyatara) que hoje está na FRA-RJ e escreveu o livro “O Livro da Lei para o Povo Suplicante”, o melhor texto a respeito do Liber Legis que eu já li. O que me atraiu nas obras do Crowley foi a erudição e a dedicação que ele teve ao reunir e organizar diversos sistemas magísticos (o Liber 777 é o mais conhecido de seus trabalhos), o Liber Samekh e o Liber LXXVIII que trata de seu Tarot, até hoje um dos melhores e provavelmente só vai ser superado quando o Allan Moore publicar o seu (risos).

Não posso me considerar 100% Thelemita porque tenho uma queda maior pelo Caminho do Meio (Samekh). Se tivesse de escolher um rótulo, eu me consideraria um Alquimista.

Espaço Novo Æon: O que é o Novo Æon na sua visão pessoal? E a Lei de Thelema? Você acredita na visão de aplicabilidade completa da Lei de Thelema em todos os campos da vida humana, conforme Crowley disseminava ou vê isso como uma utopia?

Marcelo Del Debbio: Crowley estava muito além do entendimento do indivíduo médio. A Lei de Thelema é muito difícil de ser seguida pela “gente comum” porque as pessoas se acostumaram a ser gado, a seguir qualquer mídia ou pessoa que queira comandar, a assistir novela, big brother, futebol e cerveja e churrasco e Michel Teló nos finais de semana, não a serem líderes de si mesmos. A máxima “Do what thou wilt shall be the whole of the Law”[9] implica em fazer o que sua Verdadeira Vontade comanda, não seus desejos mundanos e egóicos, e o que mais se vê por ai é gente achando que “Crowley é legal porque eu faço o que eu quero e não preciso arrumar meu quarto mais”, o que nem tenho palavras para descrever o quão torto e tão fora do que Aleister propôs isso está. Os livros do Crowley foram idealizados para criar leões, não ovelhas… o que acontece com as ovelhas no meio dos leões?

Nas ordens, os estudos magísticos eram levados ao mesmo passo que estudos acadêmicos, hoje os Thelemitas de Orkut leem dois ou três livros (quando leem), se vestem de preto e saem por ai queimando o filme da Thelema, como se a Igreja já não fizesse o suficiente.

Espaço Novo Æon: Como você vê a difusão do pensamento Thelêmico no Brasil e no mundo?

Hexagrama Unicursal
Marcelo Del Debbio: Ainda é muito fraca, mas não por conta dos thelemitas e sim porque o pensamento sério dentro desta filosofia não é para qualquer um. É muito difícil imaginar um grupo thelêmico muito grande, simplesmente porque as pessoas que chegaram verdadeiramente neste grau de estudos não veem mais a necessidade de se reunirem em grupos. Todo o material está ai, em PDF e gratuito se quiserem… basta dedicação, estudo e prática… MUITO estudo e prática.

Espaço Novo Æon: Sobre da sua resposta sobre o que acha do movimento Thelêmico atual no país. Em sua opinião, o que é preciso ser feito para que essa situação seja revertida para um quadro mais positivo?

Marcelo Del Debbio: Ajudaria compreender que o “faça o que Tu queres” implica em fazer o que a ESSÊNCIA quer, não o que o EGO quer (risos). “Vontade” não é “Desejo” e os textos do Crowley não são uma desculpa para fazer qualquer porcaria e achar que está certo. Muitos thelemitas se comportam como evangélicos fanáticos. Crowley queria preparar leões, não ovelhas! Ovelhas não convivem com leões…

Espaço Novo Æon: Em sua opinião qual é a raiz do comum fanatismo entre alguns Thelemitas?

Marcelo Del Debbio: A mesma raiz de todos os outros fanáticos… Fechar a mente com algo que se sinta confortável e expurgar qualquer coisa que incomode e esteja fora da caixa. É algo inerente do ser humano e ocorre desde os evangélicos e demais crentes até a nova geração de ateus.

Espaço Novo Æon: Ainda sobre a questão Thelemita: entendemos os motivos de você não se considerar 100% Thelemita, mas você poderia dizer que aceita Liber Legis e o Novo Æon? E quanto a Lei de Thelema, você procura aplicar suas fórmulas em sua vida?

Marcelo Del Debbio: Sim, eles são extremamente válidos. Como disse acima, não aceito o rótulo de Thelemita assim como não aceitaria o de Umbandista, ou Kardecista, ou Satanista ou qualquer outra religião. Eu prefiro me considerar “Estudioso da Thelema” e estar sempre aberto para aprender com todas as filosofias. Nomes têm poder. Quando você se atribui um rótulo, você se lacra dentro destas amarras que você mesmo cria.

A parte do Liber[10] que eu mais gosto e procuro seguir é a seguinte:

“Faze o que tu queres há de ser o todo da Lei”[11]. “Amor é a lei, amor sob vontade”[12]. “Não há lei fora Faze o que tu queres”[13]. Isso significa que cada um de nós estrelas somos para mover-nos em nossa verdadeira órbita, como demarcada pela natureza de nossa posição, pela lei de nosso crescimento, e o impulso de nossas experiências passadas. Todos os eventos são igualmente lícitos e cada um necessário, na longa jornada para todos nós, em teoria; mas em prática, somente um ato é lícito para cada um de nós em um dado momento. Portanto Dever consiste em determinação em experimentar o evento correto de um momento de consciência para outro.”

Espaço Novo Æon: Aliás, como você vê Liber Legis e o Novo Æon? Poderia conceituar? Indo um pouco além, você poderia nos falar qual é sua visão sobre Liber OZ? Acredita que suas fórmulas são aplicáveis na sociedade moderna?

Marcelo Del Debbio: Vou responder as duas perguntas em uma resposta só.

Os vejo como a visão particular de Crowley para expressar seu Caminho até o desenvolvimento da Verdadeira Vontade de cada pessoa. Não deixa de ser um paradoxo, pois se “cada homem e cada mulher é uma estrela”, então cada homem e cada mulher deveriam escrever seus próprios Liber Legis e não seguir o que foi escrito por outro alguém. Como estes homens e mulheres não são capazes de escreverem seus próprios Liber Oz, não são estrelas, são seguidores…

Ambos os livros (e posso acrescentar todos os livros sagrados de todas as outras religiosidades) focam em fornecer um mapa que em algum momento da história funcionou para alguém alcançar a Iluminação. Mas cabe a cada buscador escrever seu próprio livro, não seguir fielmente os passos de outro. Desta maneira, acredito que NÃO; o Liber está muito acima do patamar evolutivo da sociedade onde vivemos e na prática, é quase inaplicável à população em geral (por culpa da própria população… mas, novamente, Crowley já sabia disso, pois deixou claro que “os escravos servirão”, outro de seus versos que é muito mal interpretado por ai).

Espaço Novo Æon: De fato, como você afirmou antes, O Livro da Lei é de difícil compreensão para leigos, assim como também é complexo até mesmo para Iniciados. Por exemplo; em vários trechos é afirmado que a ritualística antiga se baseia em práticas estabelecidas no Velho Æon de Osires, sendo assim, não elas não podem coexistir com a evolução da Nova Era (até por que são energias incompatíveis, dentro desse aspecto). Como você vê essa incompatibilidade?

Marcelo Del Debbio: Concordo totalmente com Crowley. É impossível coexistir a prática de “obedecer a tudo que o pastor falar” e “cada homem e cada mulher é uma estrela”. Isto invalida e contrapõe basicamente TODA a filosofia das Igrejas dogmáticas.

Espaço Novo Æon: Você pode nos explicar um pouco mais sobre o porquê você considerou o livro “O Livro da Lei para o povo Suplicante” um dos melhores livros que já leu sobre Liber Legis? Em sua opinião, ele superou os comentários oficiais de Mestre Therion (os antigos e os novos)? Indo um pouco além, você não acha que comentários sobre o Livro podem tendenciar a leitura e minimizar o efeito Dele em seu leitor, eliminando assim a relação íntima criada na leitura?

Marcelo Del Debbio: São trabalhos diferentes: Nos Comentários (http://hermetic.com/legis/new-comment/) são feitas explicações sobre o Liber e sua função como um todo, sem aprofundar no detalhamento que os outros textos possuem; “O Livro da Lei para o Povo Suplicante”, que em breve estará disponível gratuitamente no blog do Jayr Miranda, é um trabalho comentando integralmente o Liber Legis parágrafo por parágrafo, dentro do escopo thelêmico de alguém que está envolvido em ordens Iniciáticas thelêmicas e rosacruzes a mais de 40 anos e é uma leitura complementar ao Djeridensis Working (O Comentário de Djeridensis, www.thelema.com.br/espaco-novo-aeon/livros/o-comentario-de-djeridensis/). Não acredito que eles diminuam o efeito do Liber no leitor, pelo contrário. Muitas das partes do Liber são mesmo bem complicadas, especialmente para quem não tem um background maçônico ou rosacruz e estes trabalhos diminuem o fosso entre o líber e as pessoas que têm curiosidade de conhecer o trabalho de Crowley sem conhecimento prévio de suas obras.

Espaço Novo Æon: Se os raios da Lei da Vontade são Liberdade, Amor, Vida e Luz, você não vê aplicabilidade Thelêmica na via do Pilar do Meio?

Marcelo Del Debbio: Com certeza que sim! Como coloquei acima, acredito que, na essência, todas as filosofias que genuinamente buscam o aperfeiçoamento humano são compatíveis e, portanto, podem e devem ser estudadas em comum. A pessoa pode buscar um Método que a atraia mais, mas deve SEMPRE estar disposto a estudar e aprender (ou pelo menos conhecer) todos os outros… não existe algo como “o que eu sei é suficiente” para um Buscador.

Espaço Novo Æon: Você disse que não se considera 100% Thelemita, por seguir uma via do Pilar do Meio que é Sameck. Pode nos falar mais a respeito desse caminho particular e que tanto define sua expressão pessoal de Verdadeira Vontade?
Marcelo Del Debbio: Tradicionalmente (não fui eu quem fez esta divisão, claro) existem três caminhos: o da Mão Esquerda, que é voltado ao Estudo e a Razão; o Caminho da Mão Direita, que é o Caminho da Devoção e do Sentir; e o Caminho do Meio, que engloba um equilíbrio de todos. Dentro destas definições, eu me enquadro no Caminho do meio, pois não existe um todo sem a luz e a escuridão. Acredito ser necessário dominar todos os aspectos da magia para podermos realmente chegar a uma iluminação e compreendermos tudo o que está acontecendo nessa Orbe. Como estudioso das religiões e ordens magísticas, não me atenho a nenhuma doutrina, mas sim tento compreender qual seria a “Origem” delas… tento não medir a água em Celsius ou Fahrenheit, mas estudar por quê ela está borbulhando ou congelando. Desta maneira, se eu seguir alguns estudos do Crowley, porém seguir os textos de San Martin ou Ramakrishna, isso me faria deixar de ser 100% Thelemita. Creio que na essência, todos os exemplos que dei acima convergem para o mesmo ponto, por detalhes diferentes ajustados a cada cultura.

Espaço Novo Æon: Você é membro de algumas Lojas Maçônicas com nomes ligados à Thelema (A?R?L?S? Aleister Crowley, nº 3.632 e A?R?L?S? Thelema, nº 3.692), essas lojas tem também cunho Thelêmico e visam a difusão da Era de Hórus?

Marcelo Del Debbio: Sim. Estas lojas foram fundadas por ex-membros da antiga O.T.O. em São Paulo e muitos de seus tópicos de estudos incluem material thelêmico. São duas das lojas mais sérias dentro dos estudos magísticos (em paralelo com a loja Madras, que é hermética, e a loja Jerusalém Celeste, do RER, que é focada no martinismo e martinezismo) na Maçonaria do Grande Oriente do Brasil.

Espaço Novo Æon: Você vê algum problema em um Thelemita ser Maçom? Explique sua visão.

Marcelo Del Debbio: Absolutamente nenhum. A Maçonaria aceita livres-pensadores e membros de qualquer religião, ordem ou filosofia, estando plenamente compatível com as virtudes praticadas pelos thelemitas. Claro que devo alertar que estou falando de Thelemitas, não dos chamados “Thelemitas de Orkut” que leem (e não entendem) o Liber Legis e acham que “Faze o que Tu queres” significa “faça qualquer coisa que quiser que está bom”. Estes não conseguem se adaptar ao rigor da ritualística maçônica e acabam caindo fora. Estão mais próximos de magistas caóticos metidos a pseudo-satanistas do que Thelemitas…

Porém, os estudantes sérios perceberão muitas semelhanças nos rituais maçônicos e thelêmicos, embora eu não possa comentar detalhes sobre isso.

Espaço Novo Æon: Como Maçom, você já leu “Carta a um Maçom” de Marcelo Motta? O que você pensa a respeito do que ele expôs na carta?

Marcelo Del Debbio: Sim, mais de uma vez (você pode lê-la na integra neste link: www.thelema.com.br/espaco-novo-aeon/ensaios/carta-a-um-macom/). É uma explicação sobre as origens e maneira como a Igreja Católica trabalha o nome de Jesus em sua egrégora. Hoje em dia, talvez, esteja mais adequado às Igrejas caça-níqueis evangélicas que abundam neste país.

Gosto do seguinte trecho, onde ele explica claramente como ocorre o processo de vampirização dentro das igrejas (aplicável perfeitamente a todas as Igrejas evangélicas também):

“Após mil e seiscentos anos de vitalização por multidões de adorantes, e a absorção das cascas vazias de padres, freiras e fanáticos que se deixaram vampirizar por ele, o Egrégora existe no assim-chamado plano astral; e é um demônio, quer dizer, uma entidade ilusória. Não é um verdadeiro Microcosmo, mas uma gestalt de cascões vitalizados, um foco para tudo que há de negativo, derrotista, piegas, preconceituoso e introvertido na natureza dos cristãos: um lodaçal completamente hostil ao progresso e á evolução espiritual deles.”.

O Arcanum Arcanorum

Espaço Novo Æon: Seu trabalho mais recente na difusão do ocultismo de forma didática, está presente no Arcanum Arcanorum. Poderia nos falar um pouco mais a respeito de como surgiu a ideia e do que a diferencia das tradicionais organizações do ocultismo moderno?

Marcelo Del Debbio: O A.’. A.’. surgiu como evolução natural do projeto Mayhem, que por sua vez já era uma evolução natural do Blog Teoria da Conspiração. Muitos leitores procuram ou já participam de ordens Iniciáticas ou frequentam centros espiritualistas (umbanda ou kardecismo) e possuem vontade de aprofundar mais os estudos. O A.’. A.’. foi criado como um método que não interferisse com os métodos de quaisquer outras Ordens, mas que trabalhasse diretamente com exercícios práticos que pudessem ser aproveitados em outras escolas também. Desta maneira, trabalhamos com Visualizações, Templo Astral, Exercícios de respiração, expansão de consciência, criação de Altar Pessoal, Servidores, consagrações, o estudo dos 32 Caminhos, 7 Planetas e o Mapa Astral de cada membro. O conceito do A.’. A.’. é melhorar a pessoa para que ela possa fazer uma diferença positiva dentro da Ordem que já faça parte, melhorando sua vida e a vida daqueles ao seu redor.

Espaço Novo Æon: O Arcanum Arcanorum tem em sua metodologia alguma similaridade com a A.’. A.’. de Jones e Crowley? A Instituição aceita a Lei de Thelema?

Marcelo Del Debbio: Há similaridade, não apenas com as ordens Thelemitas, mas com todas as ordens e processos iniciáticos do planeta, é a tentativa de proporcionar uma maneira de seus membros de conseguirem a comunicação com seu S.A.G. (Sagrado Anjo Guardião) e descobrirem suas Verdadeiras Vontades, de modo a obterem uma expansão de consciência. O A.’. A.’. não possui nenhum tipo de dogma, sendo composto de monografias com exercícios pessoais que podem ser feitos por membros de quaisquer outras ordens. Aliás, o A.’. A.’. incentiva seus membros a fazerem parte de pelo menos uma ou duas outras ordens iniciáticas, religiosas ou filosóficas para que possa comparar seus métodos e obter um vetor maior de estudos.

Espaço Novo Æon: A quem se destina o Arcanum Arcanorum? Quais são os requisitos para se tornar membro? E quais são as formas de contato?

Marcelo Del Debbio: Até a data desta entrevista (21/5/2012) temos 1938 membros que já receberam a monografia de Átrio 01. Destes, 583 são médiuns ou possuem mediunidade pouco desenvolvida; 734 já fazem parte de alguma Ordem. Como praticamente todos os primeiros membros são leitores do blog Teoria da Conspiração há algum tempo, creio que a Egrégora já conta com muita gente que estuda e tem afinidade com o hermetismo e alquimia.

Mesmo assim, não há nenhum requisito para candidatos. Qualquer pessoa pode acessar a página inicial do A.’. A.’. (www.deldebbio.com.br/a-a/) e requisitar a primeira Monografia de Átrio. A partir daí, só depende do esforço pessoal de cada um.

Espaço Novo Æon: Você explica que não há pré–requisito para participar do Arcanum Arcanorum. A ordem está organizada a passar conteúdo até ao mais leigo dos aspirantes? Ou você indicaria alguma leitura preliminar?

Marcelo Del Debbio: O próprio blog serve como leitura preliminar. As pessoas estão acostumadas a julgar algum autor magista pelo numero de livros que publica ou títulos ou os leitores pelas páginas de livros que possuem nas bibliotecas. Hoje, no Æon de Hórus, mudamos este paradigma. Outro dia pedi a meu irmão que salvasse os textos completos do blog no formato DOC. Meus 200 textos deram mais de 1.200 páginas de leitura, em Times 10. Se fossem impressas no formato tradicional de livros, dariam quase 2.000 páginas!

Espaço Novo Æon: Como você definiria os benefícios de ser um membro do Arcanum Arcanorum? E os deveres?

Marcelo Del Debbio: Todos os benefícios só dependem da própria pessoa. Não há como obtê-los sem trabalho duro. As monografias trazem exercícios que, se forem feitos disciplinadamente, ajudarão a desenvolver sonhos lúcidos, capacidade de concentração, visualização criativa, autoconhecimento, experiências sensoriais e até mesmo contato com o S.A.G., mas nada disso cairá do céu… depende muito do esforço de cada um.

Não há deveres para a Ordem, apenas para você mesmo. Avança-se somente através da dedicação aos estudos e exercícios práticos. Não há taxas ou mensalidades de nenhum tipo. Por outro lado, é impossível “comprar” os graus… um membro do A.’. A.’. que possua o grau de Zelator, certamente fez por merecer este título.

Espaço Novo Æon: Como você poderia definir a manifestação (espiritual e física) do Arcanum Arcanorum?

Marcelo Del Debbio: Uma Ordem Alquímica. Uma estrutura de exercícios guiados que visam desenvolver internamente seus membros, para que eles possam fazer diferença de dentro para fora em outras ordens iniciáticas.

Espaço Novo Æon: Você poderia compartilhar conosco qual é a estrutura de graduação do Arcanum Arcanorum e traçar uma relação com sistemas já conhecidos, de forma a ajudar na compreensão de processo como um todo?

Marcelo Del Debbio: O A.’. A.’. começa com três monografias de Átrio. São exercícios básicos de visualização, concentração, sonhos, ensina a utilizar e trabalhar o diário mágico, escrever seu obituário, criação e trabalho inicial no templo astral e o básico de servidores, sonhos lúcidos e a estrutura de trabalho para entender vidas passadas. Aos que sobreviverem, o Grau de Probacionista conta com 13 monografias nas quais o membro trabalhará seu altar pessoal, ferramentas magísticas, servidores de defesa, estudo do Mapa Astral e todos os 32 Caminhos da Árvore da Vida. A partir daí há a Iniciação para o grau 1=10. Dentro da Ordem Interna trabalha-se com os 4 elementos, 7 planetas, 12 signos, e qliphoths.

Para quem já faz parte de outras Ordens, há “equivalências”, ou seja, se você já tem experiência com Templos Astrais por fazer parte de ordens xamãnicas, avançará mais rapidamente por estes exercícios, se estuda o material da Golden Dawn, terá facilidade em alguns pontos, se é maçom, terá facilidade no obituário; se for de uma ordem martinista, terá facilidade nas questões, se fizer yoga, terá facilidade nas respirações e assim por diante. Na somatória, o A? A? engloba o melhor de cada ordem Iniciática conhecida e, ao mesmo tempo, não concorre com nenhuma, podendo ser estudada em paralelo com qualquer outro caminho iniciático.

Espaço Novo Æon: Se o Arcanum Arcanorum não possui dogmas, podemos dizer que pessoas de quaisquer religiões podem fazer parte sem comprometer suas crenças?

Marcelo Del Debbio: Sim.

Espaço Novo Æon: É possível definir qual é a eficácia do método aplicado?

Marcelo Del Debbio: O A? A? é um método e, como qualquer método, vai ser mais eficaz ou menos eficaz para cada pessoa, dependendo de suas afinidades e de suas vontades. Como os exercícios vão sendo estudados em graus crescentes de complexidade; o desenvolvimento de cada pessoa será único e pessoal.

Espaço Novo Æon: Entendemos que o objetivo do Arcanum Arcanorum é a conversação com o S.A.G. e a busca e realização da Verdadeira Vontade, você poderia nos explicar como se dá esse processo?

Marcelo Del Debbio: Fica um pouco complicado resumir 20 monografias em uma resposta, mas basicamente é o processo de compreender e transformar todos os defeitos em virtudes, entendendo o que diabos você veio fazer no planeta, qual o seu dom e como utilizá-lo para melhorar a humanidade.

Finalização

Espaço Novo Æon: E novos projetos, vem algum pela frente? Em caso positivo, poderia compartilhar conosco?

Marcelo Del Debbio: Acredito que o A.’. A.’. seja o derradeiro projeto do Blog, mas nunca se sabe. Quando terminei de publicar a Enciclopédia de Mitologia, depois de dez anos de trabalho, acreditava que havia chegado a um ponto final em termos de pesquisas, mas depois comecei o projeto da Wikipédia de ocultismo, que possui potencial para se tornar muito maior e mais fácil de consultar do que a Enciclopédia, ou seja: sempre que pensamos ter chegado ao pico de nosso potencial, aumentamos o cacife e partimos para algo maior. É uma espiral crescente… se trabalhamos dentro da nossa Verdadeira Vontade, não existe limite para o que podemos atingir.

Espaço Novo Æon: Estamos chegando ao final da entrevista, e com isso deixamos aqui um espaço aberto para que você possa expor tudo que acredita ser necessário e que não foi coberto pelas perguntas anteriores. Fique à vontade!

Marcelo Del Debbio: Gostaria de dizer que esta foi uma das melhores entrevistas que já participei, com perguntas pertinentes, profundas e complexas, que exigiram bastante tempo e elaboração para respostas satisfatórias. Gostaria que todos os blogs levassem este trabalho de divulgar e pesquisa tão a sério quanto vocês.

93 93/93.

Notas de Rodapé
1.Santo Anjo Guardião. – Nota do Editor.
2.A décima esfera da Árvore da Vida na Qabalah. – Nota do Editor.
3.A nona esfera da Árvore da Vida na Qabalah. – Nota do Editor.
4.Setembro de 2012 e.v. – Nota do Editor.
5.Estudo da Árvore da Morte na Qabalah. – Nota do Editor.
6.Do latim, irmão. – Nota do Editor.
7.Ritual Menor do Pentagrama. – Nota do Editor.
8.A sexta esfera da Árvore da Vida na Qabalah. – Nota do Editor.
9.Do inglês, Faze o que tu queres deverá ser o todo da Lei. – Nota do Editor.
10.Do latim, Livro. – Nota do Editor.
11.Liber Legis, O Livro da Lei: I:40. – Nota do Editor.
12.Liber Legis, O Livro da Lei: I:57. – Nota do Editor.
13.Liber Legis, O Livro da Lei: III:60. – Nota do Editor.

Publicada originalmente em http://www.thelema.com.br/espaco-novo-aeon/thelemitas/entrevista-com-marcelo-del-debbio/

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Respostas de 8

  1. Sem palavras para definir o quão excelente e proveitosa foi esta entrevista. Continuem assim, caríssimos irmãos de Senda. “Quando crescer quero ser igual vocês”!

  2. Querido MDD, parabéns pela entrevista, realmente ela é muito boa.

    Achei particularmente interessante quando vc citou a questão dos SONHOS LÚCIDOS, pois tenho bastante interesse pelo tema. Procurei aqui no site algum artigo específico sobre o assunto, ou sobre SONHOS de um modo geral, mas ñao encontrei. Portanto seria muito bacana ler um artigo seu sobre o universo dos sonhos e a importancia de seu estudo para o buscador.

    Obrigado!

  3. Ja ouviu algo sobre a teoria Antrópica,MDD?

    http://ciencia.hsw.uol.com.br/principio-antropico.htm

    O universo direcionado a existência de vida,os múltiplos universos como frações dentro de frações,tudo isso me soa como nossa consciência observando a existência e as múltiplas arvores dentro de arvores.
    E com a Teoria Antrópica Participativa,na qual não somente o universo direciona seu funcionamento a criação de vida inteligente,mas existe em função dessas inteligencias que criam a existência,tudo parece ir de encontro ao que a Kaballah Hermética ja afirmava.

  4. Confesso que essa foi a melhor explicação do Eu maior que eu pude ter. Confesso que nomes como SAG me fazem torcer o nariz, talvez pela bad bagagem cultural que palavras como essa trazem, do catolicismo e tal, mas tenho conseguido superar.

    Nada mais sensato do que inferir que somos nós mesmo no futuro. Antes dessa explicação, minha reação ao ler sobre isso era sempre de “WTF?!”, ao imaginar que se trata de alguém que seja eu mesmo oO, e que é externo. Achei bacana também pois coloca esse contexto mais no mundo real, tendo em vista que hoje a ciência, através da complicada física quântica trata sem problema de assuntos como a existência simultânea de passado,presente e futuro. Gostaria até de ler mais a respeito.

  5. Entrevista simplesmente maravilhosa. Um momento de muita sabedoria, trocas energeticas e equilibrio por parte dos tres. Otimas perguntas de Kayque Girao e Natasha Lacerda.
    Maravilhosas respostas dadas pelo mestre MDD. Me sintonizo bastante com o caminho do meio. Talvez por isso nao me filiei a uma so filosofia mesmo sem saber como definir essa minha postura e anseio. Dentro do contexto apresentado pelo mestre MDD, acredito que o nome do que abracei e este: “O Caminho do Meio.”
    Obrigado. P.P. – 93…

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