(Discípulo) Mestre, acabei de ler sobre uma pesquisa que fizeram no Ocidente – Perguntaram o que as pessoas tem de indispensável para o seu dia a dia, e a maioria respondeu que era o seu celular!
(Mestre) Que curioso…
(D.) Um absurdo, todo esse materialismo…
(M.) Mas o que deveria ser indispensável em sua vida?
(D.) Ora, penso que meus amigos, minha família, minha mulher…
(M.) Mas como? As pessoas não nos pertencem… Essa resposta não nos serve.
O discípulo pensou por um longo momento e acrescentou:
(D.) Muito bem, agora entendi: tudo o que temos é a sabedoria! Ela sim é indispensável.
(M.) Concordo… Mas me diga: como saberemos com certeza se temos mesmo alguma sabedoria?
(D.) Ora, pela opinião dos outros, mestre – Eu mesmo afirmo: você é um sábio!
(M.) Fico imensamente grato… Mas, e se estiver enganado? Outros podem aparecer por aqui e afirmar exatamente o oposto: que sou apenas algum louco… Ou pior, um charlatão…
(D.) Mas mestre, todos que conviverem um dia que seja contigo hão de concordar que é mesmo um sábio…
(M.) Como?
(D.) Ora, porque passarão a amá-lo como todos os outros discípulos tem lhe amado.
(M.) Mas… Amar assim tão depressa? Será que primeiramente não amariam o saber?
O discípulo acenou com a cabeça, concordando.
(M.) Então, não seria esse amor ao saber o que inicia todo esse caminho espiritual que temos percorrido juntos?
(D.) Sim mestre! Agora percebo que foi assim: primeiro me interessei por seu conhecimento, e só após nosso convívio foi que passei a amá-lo como a um pai…
(M.) E já que agora somos tão amigos, será que quando viajamos para longe um do outro o telefone não passa a ser indispensável para mantermos contato?
(D.) Bem, pode ser… Mas o telefone é apenas um objeto material…
(M.) Meu amigo, o problema não é o objeto, mas o uso que fazemos dele… De fato, não temos um telefone, não temos nossa casa e nem mesmo nossa roupa, o que temos é essa vontade tão antiga de nos conectarmos um ao outro – Eis o indispensável em nossa vida.
raph’11
(em homenagem ao blog de Aoi Kuwan: Magia Oriental)
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Crédito da imagem: budgetplaces
O Textos para Reflexão é um blog que fala sobre espiritualidade, filosofia, ciência e religião. Da autoria de Rafael Arrais (raph.com.br). Também faz parte do Projeto Mayhem.
Respostas de 7
Completamente sem palavras! belissimo texto
@raph – Obrigado 🙂
Texto excelente! Um dos problemas da sociedade realmente está em supervalorizar um objeto que nem utilizará daqui a um ano (ou uns meses). Se aprendermos a usar os objetos enquanto precisamos, sem se “apegar” neles ou transformar eles em algo insubstituível, acredito que a sensação de vazio que está tão comum hoje em dia será algo pouco visto entre nós futuramente.
Até mais 🙂
@raph – 🙂
O texto é de sua autoria Raph?
Mas de qualquer forma. É excelente.
Vou assinar o feed do seu blog já.
Abraços.
@raph – Sim é meu. Lembro que escrevi enquanto esperava o voo num aeroporto, e havia acabado de ler sobre a tal pesquisa numa revista.. Eu tentei seguir o estilo dos contos zen, mas no fim acabou ficando algo bem diferente do que havia planejado, por isso deixei “diálogo zen” e não “conto zen” 🙂 Abs.
Adorei! Admiro sua sensibilidade. Parabéns por mais um texto tão bonito. Abs.
@raph – 🙂
Já havia lido esse texto em algum outro lugar, só não sabia que era seu. Parabéns!
@raph – Pois é, acho que agora ele aparece pelo menos em 3 blogs diferentes, este, o meu, e o Autoconhecimento e Liberdade, se não me engano… Abs.
lindão mesmo.
Assim sendo, agradeço o tempo “perdido” no Facebook, quando converso e brinco com amigos que moram longe =]