As Edições Textos para Reflexão publicam o conto mais conhecido de H. P. Lovecraft, o escritor que revolucionou o Horror Fantástico. Traduzido do inglês original por Rafael Arrais.
Na cosmologia de Lovecraft, os chamados Mitos de Cthulhu, o ser humano é uma coisa insignificante, que mal compreende as Coisas imensas e antiquíssimas que habitam o seu mundo, como deuses anciãos e raças multimilenares. Em O Chamado de Cthulhu, temos uma apavorante introdução a este universo.
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Abaixo, segue uma amostra com o trecho inicial do conto:
“De tais poderes grandiosos ou entidades é concebível que possa haver restado um vestígio […] um vestígio de uma era regressa onde […] a consciência era manifestada, quem sabe, em contornos e formas há muito submersos diante da maré do avanço da humanidade […] formas das quais tão somente a poesia e as lendas puderam guardar alguma memória fugidia, e então os chamaram de deuses, monstros, criaturas míticas de todos os tipos e espécies […].”
(por Algernon Blackwood – isto foi encontrado entre os papéis do já falecido Francis Wayland Thurston, em Boston)
A coisa mais misericordiosa neste mundo, penso eu, é a incapacidade da mente humana de correlacionar tudo o que nele existe. Nós vivemos numa pacata ilha de ignorância em meio a mares escuros vastos de infinito, e não era a intenção que velejássemos muito longe. As ciências, cada uma vagando em sua própria direção, até hoje pouco mal nos causaram; no entanto, algum dia a junção de conhecimentos desconexos nos abrirá os olhos para visões tão terríveis da realidade, e da nossa posição assustadora em seu meio, que nós deveremos ou enlouquecer diante da revelação ou fugir da sua luminosidade fatal, rumo à paz e a segurança de uma nova idade das trevas.
Os teosofistas têm especulado acerca da grandeza abissal do ciclo cósmico no qual o nosso mundo e a raça humana não passam de incidentes passageiros. Eles vêm aludindo a estranhos vestígios usando termos que gelariam o sangue dos incautos, não fossem mascarados por um tolo otimismo. Mas não foi deles que surgiu o breve vislumbre de éons proibidos que me arrepia quando penso no assunto, e me enlouquece quando aparece em meus sonhos.
Tal vislumbre, como todos os pavorosos vislumbres da verdade, surgiu de uma conexão acidental de duas coisas separadas – neste caso, um recorte de jornal antigo e as anotações de um professor falecido. Eu espero que ninguém mais consiga chegar a esta conexão; se eu sobreviver, é certo que jamais irei revelar propositadamente elo algum desta corrente hedionda. Eu penso que o professor também tinha a intenção de manter silêncio acerca da parte que sabia, e que teria destruído as suas anotações caso não fosse surpreendido por uma morte tão súbita.
O meu conhecimento do caso começou no inverno de 1926-27, com a morte do meu tio-avô George Gammell Angell, professor emérito de línguas semíticas na Universidade Brown, em Providence, Rhode Island. O professor Angell era amplamente reconhecido como uma autoridade em inscrições arcaicas, e era frequentemente consultado por diretores de museus importantes acerca do tema; assim sendo, o seu falecimento aos noventa e dois anos deve ser lembrado por muitos.
Localmente, no entanto, tal interesse foi intensificado pela causa da morte ser um tanto obscura. O professor sucumbiu enquanto retornava da barca de Newport; segundo testemunhas, foi uma queda súbita, após um encontrão com um negro com aparência de marujo que havia surgido de um dos pátios escuros e sinistros que podiam ser encontrados na encosta íngreme que servia de atalho da praia até a sua casa, na Williams Street.
Os médicos foram incapazes de encontrar qualquer doença visível, porém chegaram à conclusão, após debates cheios de perplexidade, que alguma lesão obscura no coração, induzida pela subida de um morro tão íngreme para um homem de idade avançada, foi a responsável pela morte. Na época eu não vi razão para divergir desta conclusão, mas ultimamente eu tenho me inclinado a questioná-la – e até mais do que isso.
(continua no ebook…)