Sobre a Conquista
A sociedade dos achievements é a sociedade que vivemos. Genial foi a ideia de colocar “troféus”¹ em tudo (jogos, aplicativos, trabalho², etc.), afinal o ser humano é competitivo por natureza. E a competitividade, busca, anseio e assim por diante, não são coisas ruins em si mesmas, por sinal nos ajudam a minimizar ou destruir a preguiça. Contudo…
“Excesso é o nome do mal” (Aristóteles).
O foco nesse estilo de vida ativo, focado no externo, nunca satisfeito, nos destrói. É comum ver pessoas que dedicaram a vida toda para conquistar o emprego dos sonhos, a mulher dos sonhos, o carro dos sonhos… Mas se não conseguem tudo isso, morrem infelizes… E se conseguem, morrem infelizes também… Retrocedendo um pouco, mesmo antes de morrer, essas pessoas não se sentem felizes. Parece-me que a euforia ocorre no momento da conquista e depois se esvai.
Quando eu era mais novo todos queriam ser milionários. Hoje a “música”³ fala que isso não basta, temos que ser bilionários. Pessoas tem carros, smartphones, videogames e os níveis de depressão aumentam de forma assustadora. Acredito que essa é uma forma do próprio organismo mostrar para a pessoa que a parte interna precisa de cuidado também, afinal você pode ser o “Mr Olympia” do lado de fora, mas internamente viver cheio de complexos.
Atribuo a essa cultura da conquista a culpa por parecer tão difícil, mesmo os exercícios mais simples, o ato de meditar para os ocidentais. Afinal somos muito matemáticos, “eu meditei 4 horas por dia durante um ano todo, cadê minha recompensa?”. Facilmente esquecemos a qualidade em nome da quantidade.
E você, o que tem buscado?
Quais são os seus sonhos?
Eles são meios para outra coisa, ou tem fim em si mesmos?
Pergunte-se e verás que muito do que buscamos externamente é facilmente conquistado dentro de nós mesmos.
Como diria Plotino:
“Mas suponha que dois homens sábios, um deles possuindo tudo o que é desejável, naturalmente bem-vindos (luxos, riqueza, amor, beleza, etc), enquanto o outro possui apenas com o inverso (fome, privações, indiferença alheia). É possível afirmar que eles possuem felicidade igual?
Sim, se eles são igualmente sábios.”
Minha interpretação é de que para o sábio as condições externas pouco importam, é legal ter um Xbox 360 e uma cópia do GTA V4, mas a falta ou a presença de algo tão ínfimo não deveria abalar você.
¹ é assim que algumas pessoas traduzem o termo achievements.
² funcionário do mês é um achievement que muita gente briga pra conseguir.
³ Billionaire – Bruno Mars
4 Eu nem sou fã de GTA, mas vamos concordar que é um exemplo atual.
Sobre a Prática e o Caminho Espiritual
Certa vez eu ouvi:
“Se você acha que prática espiritual deve ser feita, de manhã tantos minutos, de noite tantos outros, você está errado.
A prática espiritual é algo que deve ser feito com cada respiração e cada batida do coração.
Deus não definiu que para atingir união com Ele precisamos estar sentados. [aqui acrescendo, dentro de um círculo mágico, uma igreja, uma ordem magística, etc]
Podemos conseguir isso em pé, dançando, lavando os pratos, trabalhando num cubículo, atendendo o telefone, etc… Se nós colocarmos Deus lá.
Deus quer estar em todos os momentos da nossa vida.
Deus está em todos os momentos da nossa vida, mas nos o ignoramos. Então coloque Deus em tudo que você faz.
Se você vai cozinhar, cozinhe para Deus.
Se você vai trabalhar, trabalhe para Deus.
E assim você terá um progresso incrível, pois será uma questão de tempo para o seu coração se abrir e você ser inundado pelas energias espirituais.
[…]
“No fim das contas a síntese do caminho espiritual é acalmar a mente e pensar em Deus”.
Exponho esse texto, pois acredito que existe uma diferença gritante entre o caminho esotérico oriental e ocidental, que é o foco. Enquanto vários grupos em sua sede por algo diferente (ver um espírito, controlar os elementos, etc), iniciam diretamente no trabalho ritualístico e o máximo que conseguem é um arrepio na coluna aqui ou um vulto acolá, os grupos orientais desdenham dos siddhis¹ e buscam apenas a união com Deus, eles sim apresentam habilidades de deixar James Randi de queixo caído.
Essa é uma das grandes ironias do mundo em que vivemos.
Sejam Vitoriosos!²
¹Siddhis, poderes espirituais.
²Saudação, irmão para irmão, que exprime o desejo de que o outro supere seus vícios.
Textos da série Contemplum, de Aurílio Santos, um dos autores do blog O Alvorecer.
Respostas de 6
Texto inspirador!
E como sempre falando o que eu precisava ouvir 🙂
Paz e Luz!
@Jeff – E como sempre sincronicidades. Paz Profunda, meu irmão.
Compartilho da apreciação do Dorival. Principalmente em relação aos Siddhis. Pratico a caridade e busco ajudar os que estão à minha volta. Mas nos momentos do exercício tenho muita ansiedade em acertar e realmente acabo visando o desenvolvimento que vem com as práticas.
é interessante como venho ultimamente batendo nessa mesma tecla.
Essa insistência em seccionar as realidades por causa da nossa atenção restrita, muitas das vezes em ECC (estado comum de consciência), é o que causa maior problema e que considero uma doença.
no último texto lá no Zzurto coloquei a seguinte coisa:
” Sendo assim há de fato um dialogo eterno entre você que pensa e você que faz. Esse paradoxo não prova que somos feitos de pedaços (que somos de fato divididos), mas que somos capazes de dinamizar uma realidade em várias outras por meio da “atenção dedicada”. Fragmentamos por meio da atenção, muitas vezes sem nos darmos conta e sendo assim distanciamos esse eu pensante do eu atuante como se fossem dois. No meio encontramos as emoções a borbulharem freneticamente criando uma amalgama nessa separação. Por fim continuamos inteiros, mas nos dividiremos cada vez mais dependendo do quão difícil se torne a responsabilidade em sermos unos. E ai está a doença.”
Trazer a espiritualidade e fundir-se a ela para mim é a grande sacada. Contudo sempre achamos que a realidade não permite isso e na verdade que não permite somos nós mesmos.
link para o texto: http://zzurto.blogspot.com.br/2014/01/nao-ha-pecado-estudo-i.html
muito bom o texto! parabéns.
@Jeff – Obrigado pelo comentário e pelo texto de complementação, Djaysel.
suponhamos que querer ter na maioria das vezes signifique querer ser, então ter é a busca de algo externo para atingir um significado interno, assim, a força do querer ter é definida pelo necessidade do querer ser. Então se excesso é o mal, qual o ponto de equilíbrio, como proceder com a morte em marcha e atingir o limiar do que é ego/orgulho e do que é amor próprio? Por favor, peço humildemente que me desculpe se divaguei ou me afastei do tema, é só que seria muito útil uma resposta de alguém que está em outro ponto da montanha….hahaha…….
a paz profunda
@Jeff – A busca do TER é ligada diretamente ao âmago do SER? Acender uma lâmpada fora, ou ver uma acesa, vai acender a sua lâmpada interna?
Estava tão perdido com meu jeito de ser, e esse texto me explicou tanto. Li muito sobre filosofia oriental e sempre me identifiquei profundamente com tudo, mas as comunidades aqui no Brasil são tão “ocidentalizadas” pedindo isso, pedindo aquilo, buscando serem iluminados e não a iluminação, que comecei a acreditar que eu só podia estar doido de tão só que estava me sentindo.
Eu amo a vida e ela já é a maior demonstração do poder de Deus.
Muito obrigado!
Namastê
@Jeff – Namastê.
Talvez esse post não seja visto ou respondido, mas..
O estudo do ocultismo as vezes me parece um tanto quanto paradoxo em suas finalidades.
Ora, dize que a magia é provocar alterações de acordo com a vontade.
Porém, dize também os renomados autores, que o desenvolvimento mágico deve ser acompanhado do desenvolvimento moral e espiritual do ser.
Ora, um ser evoluído espiritualmente não desejará mudar a realidade, mas trabalhará com ela de bom grado.
Logo, qual seria o proveito de evoluir-se magicamente a fim de alterar a vida de acordo com a vontade, se para essa evolução é necessária a concomitante evolução do ser que invariavelmente nos levará a não desejar nada deste mundo?
Perdoem me se não consegui ser claro o suficiente.