Num dos ensaios para a primeira Iniciação e Elevação em 1919, o Capelão perguntou a Dad Land: “Dad, eu estou tendo problemas com a minha parte. Não com as palavras ou a dicção, mas eu fui ensinado que nenhuma oração é completa se não dizemos que é ‘em nome de Jesus Cristo’. Nossas orações não possuem isso. Como assim?”
Quem pertence a alguma Ordem Iniciática sabe muito bem dos pré conceitos que as pessoas formam sobre elas sem antes tentar conhece-las. Pois com a Ordem DeMolay não é diferente. Nessa cultura em que o ódio e o preconceito foram implantados durante séculos pela religião sob aqueles que lutaram pela independência do ser humano e por sua liberdade, ao invés de se submeterem às doutrinas e dogmas Romanos, as Ordens Iniciáticas sofrem bastantes ataques. E por simples pré conceitos. Afinal, quem as conhece sabe muito bem que não existe nada que vá contra qualquer dogma ou estilo religioso. Aceitando em uma mesma Cerimônia Ritualísca um cristão, um yogue tibetano, um descendente indígena, um árabe, ou qualquer outro segmento que reconheça um Princípio Criador que arquitetou e sustenta a energia de Vida do Universo, independente do nome.
O Dogma
Numa Igreja Cristã (qualquer uma) eles irão te apresentar um herói chamado Jesus e o quanto é absurdo você não seguir ele e não seguir o que a Igreja te manda seguir. Todas Igrejas vão ter seus argumentos diferentes e porquê elas estão certas e as outras Igrejas erradas, por exemplo, algumas vão até te explicar o porque não seguir todos os 10 mandamentos. Temos os xiitas e o sunitas, que discordam entre si. Temos os umbandistas que limitam-se ao seu ritual e ensinamentos, evitando mais aprendizados. E assim por diante em todas as religiões. O dogma é uma imposição, inquestionável tida como verdade absoluta e ponto final. Dogma é uma energia que separa pessoas de costumes e culturas.
Pois é possível em um único local reunir pessoas de diferentes religiões, etnias e filosofias? Com tanta variação de pensamento e contradições? E ainda por cima sem que se tornem hereges?
Sim, é. Não vamos contra o que é ensinado na casa religiosa de cada um. Não lidamos com dogmas na Ordem DeMolay, lidamos com a Liberdade Religiosa, Intelectual e Civil. Que em outras palavras significa respeito.
Os problemas das Ordens, como a DeMolay, está na Religião contra elas. E não o contrario. A verdade é que o preconceito faz parte do dogma religioso há milênios. Eu particularmente nunca vou me esquecer de um Padre Católico rindo e ridicularizando a adoração da vaca pelos hindus, ou de quanto os umbandistas brigam para ter suas interpretações e entendimentos como verdadeiros. É a falta de enxergar todos os símbolos religiosos como sagrados e como eles podem trazer uma maior compreensão para sua própria religião.
Reverencia a tudo que é sagrado, a Fé
A questão religiosa no DeMolay lida com a Fé Universal, não com dogmas. Nós acreditamos e rezamos para um Ser Supremo, o Pai Celestial. O mesmo Pai Celestial que criou o homem a Sua imagem e semelhança, que é o mesmo Deus em todas as religiões.
As reuniões são de homens reunidos como homens, não de cristãos reunidos com judeus, hindus ou com umbandistas. Homens como homens em igualdade. Isso significa o respeito à crença alheia, seja esta crença dogmática ou não. O dogma é separacionista, a Fé é congregadora.
A Segunda Virtude do DeMolay diz respeito à sensibilidade espiritual. Lidamos com uma reverencia a tudo que é sagrado, não ao que é sagrado para um mas para outro não. Esse é o reconhecimento dentro da nossa Ordem de um Pai Universal comum a todas as Religiões.
Um dos pré requisitos para ser DeMolay é acreditar (ou compreender) num Ser Superior, e esse pré requisito é somado com ao valor da Fé. A Fé é uma virtude universal, podemos dizer que ela é como um cristal que decompõe a luz branca em todas as sete cores. Por analogia, podemos dizer que algumas religiões correspondem à cor Verde, outra a Azul, de maneira que utilizam dessa cor (ou caminho) para chegar na origem delas (religar), que é a Luz Cristalina ou Deus. São caminhos diferentes que vão ao mesmo lugar.
Por exemplo, o Judaísmo enxerga o caminho de Deus pela cor do Torá e dos Profetas, e cria sua Fé nessa cor e nela tem suas leis e dogmas. O Budismo enxerga a cor de Deus através do nirvana e do conhecimento, e nessa cor têm sua Fé de retornar a Deus.
O princípio é o Pai Universal que emana todas as cores e caminhos, dessa maneira podemos ter uma Fé Universal e reconhecermos todas as coisas como sagradas. Não exercer dogmas e cultivar a Fé. É dessa maneira que a Ordem DeMolay trabalha com a energia de todas as sete linhas, ou caminhos, da Luz que emana de Deus. Não indo contra a Fé e dogmas escolhidos por seus participantes, e sim aumentando-os, pois se tudo Deus criou, tudo é sagrado, e não só o fragmento de cor que seguem em sua casa religiosa.
O Homem como microcosmo
Nossos dads fundadores inseriram tantos símbolos religiosos de tantas tradições diferentes, que não é de se espantar que, para as mentes menos preparadas, tenhamos conflitos religiosos quando começamos a buscar o entendimento desses símbolos. Podemos evitar desconfortos lembrando da reverência a tudo que é sagrado, e ao valor da Fé universal implantado nos nossos rituais.
Sempre soube-se que o homem é matematicamente equivalente à natureza, e redescobriu-se hoje através da física quântica que o homem e cada uma de suas células e átomos são um pequeno Universo. Aplicando a Lei da Correspondência, vemos que o homem é uma criação análoga aos padrões da Natureza e do Universo que, em outras palavras, é a imagem e semelhança de Deus. O microcosmo é igual ao macrocosmo.
Eis o motivo pelo qual está inscrito no Oráculo de Delfos: conhece a ti mesmo e conhecerá os segredos dos Deuses e do Universo. O mesmo conhecimento que Djehuti transmitiu a civilização ocidental: o homem é a medida de todas as coisas. Assim como Hermes nos ensinou: o que está em cima (macrocosmo) é igual ao que está em baixo (microcosmo). Isso Michelangelo presentou muito bem em A Criação de Adão colocando Deus no local do cérebro humano.
Por isso é dito que a Verdade é uma só, e os sábios a interpretaram de acordo com sua cultura. E por isso existe uma Fé universal congregadora que é invocada pelo nosso ritual, abrangendo todas as linhas emanadas de Deus.
Os símbolos como arquétipos
Carl Gustav Jung identificou que as mitologias se repetem em todas as civilizações, história de filhos da Luz, morte e ressurreição, nascimento de virgens, crucificação, etc, e percebeu que todas essas histórias dizem respeito a potencialidades que existem na mente do homem, energias que temos e que algumas representam desafios que todos nós passamos, que foram expresso através dos tempos nas metáforas mitológicas. Dessa maneira, usando a Lei da Correspondência, Jung chegou à seguinte conclusão: “…assim como a anatomia do corpo humano é a mesma, apesar das diferenças raciais, assim também a psique possui um substrato comum, que ultrapassa todas as diferenças de cultura e de consciência. A este substrato dei o nome de inconsciente coletivo.”
Esse substrato da mente é composto de arquétipos, e esses arquétipos são exatamente todos os símbolos existentes nas religiões e mitologias. Vimos no post anterior que a Lua é uma representação do inconsciente, pois ela tem o mesmo significado para os Maias, Egípcios, e Hindus. A Lua do segredo e da magia, o arquétipo da Mãe que dá nascimento ao Filho da Luz, ou Cristo. Esse é um exemplo de arquétipo inserido no inconsciente coletivo, e que se torna um Símbolo Sagrado para o DeMolay.
É através dos Rituais que acessamos esses arquétipos, ou símbolos sagrados, e os trazemos à tona.
Conclusão
Assim como nos mostra a imagem de Michelangelo da Criação de Adão, os Símbolos Sagrados e Universais estão dentro de nós. Portanto quando um tio maçom ou DeMolay vier lhe pedir satisfação do por quê comparar o nosso ritual com símbolos religiosos, relembre-o da Segunda Virtude e diga que estamos somente usando do conhecimento deixado por nossos fundadores para aprender mais.
As Coisas Sagradas são em si mistérios, não importa o quanto nós cavemos e interpretamos os símbolos, nunca vamos chegar a toda sua descrição e definição, pois se conseguíssemos, estes não seriam nem Sagrados nem Mistérios. Conseguimos ter deles somente pequenos vislumbres daqui de onde estamos.
Então Dad Land respondeu a Richard, o primeiro Capelão: “Eu sei que adicionar a frase ‘em nome de Jesus Cristo’ é importante para você. Se nós usássemos isso em nossas orações, entretanto, nossa Ordem teria significado somente para os garotos cristãos como você. Não teria significado para garotos que viessem de uma família judaica ou de qualquer outra crença religiosa. Talvez até seja ofensivo para eles e faça com que eles não aproveitem nossa fraternidade. Entenda que a religião no DeMolay deve ser universal e aceita para todos.”
Leia também:
- http://www.ixnoites.com.br/2011/11/o-principio-da-correspondencia-e-o.html
- http://www.saindodamatrix.com.br/archives/2007/09/quem_e_este_pokemon.html
N.N.D.N.N.
Leonardo Cestari Lacerda
–
Leonardo Cestari Lacerda é Sênior DeMolay do Cap. Imperial de Petrópolis, nº 470, e Maçom da A.’.R.’.L.’.S.’. Amor e Caridade 5ª, nº 0896.
Virtude Cardeal é uma coluna com o propósito de desenvolver a reflexão sobre características fundamentais de todo DeMolay, bem como apresentar a Ordem aos olhos dos forasteiros.
Respostas de 4
Adorei o texto, que veio como sempre com a sincronidade em minha vida. Enquanto olharmos o mundo somente “de nossa cor”, teremos desavenças, brigas e muitos desentendimentos desnecessários. Obrigada por postar textos assim, para reforçar que as Ordens muitas vezes apenas colocam algum ingrediente a mais no entendimento da religião das pessoas. 🙂
@Leo: Exato! Nas religiões a prática pode ser feita por todos e o conhecimento está restrito a poucos. Nas Ordens Tradicionais temos a oportunidade de aprender o que e porquê das coisas, abrangendo muito mais assuntos e reforçando a prática religiosa.
parabens,viva a besta do abismo,que na verdade é o próprio deus altissimo. Esse desgraçado,cria a biblia,e ele mesmo é o inimigo no final,vai simular a queda de satanas e bancar a besta no reinado dos mil anos. É tudo armação. Leia Ezequiel 9 , a marca de deus obriga a matar todo aquele que se recusar a adora-lo.
Não é mera coincidencia, deus é a propria besta. O deus ecumenico da unidade e da paz.
Ou existe dois deuses,um falso e um verdadeiro?
Aquele que é,aquele que não é,aquele que parece que é mas não é,aquele que parece que não é mas é.
ASSIM COMO É LÁ EM CIMA,TAMBÉM É AQUI EMBAIXO.
Estudem fé bahai e saibam da terrivel verdade.
@Leo: é… ok. Tchau.
@Leo: é… ok. Tchau.
Rindo alto aqui… hahahahahah
As ordens iniciáticas são vistas como “aquele vizinho estranho” do 31. Ninguém conhece o cidadão, mas as vizinhas faladeiras inventam fofocas sobre suas idas e vindas.
O segredo gera curiosidade, e nem todos estão dispostos a participar de algo desconhecido, por conta de seus dogmas familiares. É muito difícil desvencilhar-se de “pré conceitos” enraizados no inconsciente,de coisas aprendidas na infância.
Ouvi certa vez de minha mãe de santo “Deus não existe só aqui em casa, é preciso respeitar as coisas que fazem nos outros lugares.” Tenho certeza que ela se referia apenas a outras casas de santo, mas no meu entendimento, esse “ensinamento” pode ser usado com todas as outras doutrinas.
Excelente texto, me fez pensar.
Obrigado! o/
O nome de Jesus faz toda diferença porque Jesus é o Deus que vocês chamam de criador.ou ou pai..ele encarnou como homem sem perder sua divindade e mandou usarmos seu nome para enfrentarmos o mal porque o seu nome é autoridade no mundo espiritual….abraços.