Eu gostaria que o anel nunca tivesse vindo a mim. Eu gostaria que nada disso tivesse acontecido.
Gandalf: Assim como todos que vivem para ver esses tempos. Mas não cabe a eles decidir. Tudo o que temos de decidir é o que fazer com o tempo que nos é dado. Há outras forças trabalhando nesse mundo, Frodo, além da vontade do mal. Bilbo estava destinado a encontrar o Anel. Nesse caso, você também estava destinado a tê-lo. E esse é um pensamento encorajador.
Quando é que saberemos o que fazer com nosso tempo?
Por tanto tempo também estive empacado nesse lamaçal.
Por que, Tiago?
Nesse meu mundo de teorias e probabilidades… de coisas que eu posso ser mas que nunca sou. Nunca faço. Nunca atuo.
De repente, tudo fica enevoado, indistinto. O que está na minha mente desaparece. Perde significado. Tão rápido, é como se minha memória estivesse falhando.
Às vezes não sei o que é real e o que é da minha mente. Quais possibilidades, quais ações são reais? Tento com todas as minhas forças discernir o que é do que não é. Mas parece que somente a mente não é suficiente.
Será que estou perdendo meu tempo, minha vida, jogando xadrez com as possibilidades da vida?
Por que estou aqui?
Tirando todos os livros e filosofias que li. Lidando com os fatos.
A carne degenera e morre. Eu sinto o mundo através dela. O que sou, então? A carne? O cérebro? Ou algo mais?
Por que eu escolheria uma existência como essa? Viver brevemente num corpo capaz de prazer e de dor. Num corpo que tem vida curta. Uma vida cheia de possibilidades, de beleza e de feiúra, de tristeza e de alegria. Por que?
O que há para ser vivenciado?
O céu e o inferno parecem coexistir nessa realidade. Parecem ser resultado de uma escolha. E essa escolha é: o que estamos fazendo nesse momento? O que vamos fazer AGORA?
Pois o agora é a única coisa que há para decidir. O que você está fazendo agora? O que vai fazer em seguida? O que fez não há volta. Mas, o que você fará também não lhe concerne. Porque, se você desperdiçar o agora pensando no futuro, não fará nenhum dos dois.
Percebe?
Decidir o que fazer, agora, e fazer. Simples, não? Vendo assim, é o que parece.
Ficar percorrendo as infinitas possibilidades do que pode ser feito e quais seus possiveis resultados podem levar à loucura. De fato, já estou enlouquecendo, depois de tanto tempo nesse universo estatístico e probabilístico.
E o tempo foi passando.
A mente, a razão, a lógica, são muito limitadas. Não se pode ter um vislumbre real do que pode acontecer. Não se pode saber que sentimentos terei ao chegar lá. Nem que sensações. Nem como será. Para saber, é preciso viver. É necessário ir em direção à vontade que urge do meu ser.
DO QUE é que sou capaz? Que coisas posso fazer?
Ninguém pode responder essas perguntas a não ser eu mesmo.
E para responde-las, tenho de decidir e agir, com o intuito de atingir minhas Reais Vontades.
Ter a coragem de seguir adiante.
Pois cada pessoa, em seu caminho próprio, terá um conjunto de dificuldades e de adaptações e de transformações pelas quais terá de passar para chegar onde quer. Para obter o que deseja, do fundo do seu coração.
E essas transformações em geral requerem deixar partir certas coisas da sua vida. Se desapegar de coisas que possui, de relacionamentos, de pessoas, de situações em que se encontra. O corpo sentirá desconforto. O coração se abalará, pois estará num novo ambiente. Todo o seu ser será chacoalhado, refinado, “purificado” para o caminho que você escolheu. Até que você esteja pronto.
Acho que, penso tanto pois tenho medo de tomar uma decisão da qual vá me arrepender depois. Tenho medo de arriscar e falhar. Medo de ir onde quero, e depois ver que não era bem o que eu queria.
Acho que titubeio pois estou tentando ter a maior clareza possível para tomar a melhor decisão. O problema é saber parar. Em que ponto a clareza é suficiente? Quando saberei que “já está bom de pensar, já sei o que quero, posso seguir adiante”?
Pois, a cada momento, vejo uma nova possibilidade. Ou, dentro das possibilidades já analizadas, vejo algum ponto positivo, ou negativo. E a balança da decisão parece sempre estar nivelada, nunca pendendo para um lado. Daí, fica difícil a decisão.
Acho que vou me arrepender de qualquer maneira. Então pra que se preocupar? Não sou capaz de ver todas as possibilidades e de saber todas as consequências, ora bolas. Então tenho que aprender a relaxar e a tomar o caminho que me parecer melhor. Mais intuitivamente bom.
No fundo, acho que sou um cético que acha que a vida pode simplesmente acabar e não haver espíritos ou reencarnação. Engraçado, não? Depois de tanto tempo com tanta convicção de que espíritos existem, meu instinto continua gritando com medo de não existirem. Acho que isso é pelo fato de nunca ter tido uma experiência que provasse isso em definitivo. Daí, essa dúvida angustiante, e o motivo de tanta demora em decidir.
Como faria para ter uma experiência definitiva sobre isso?
Acho que não posso pedir isso a ninguém. Isso tem de vir naturalmente. E, se eu for com essa cabeça de cientista cético, eu jamais vou ver a verdade, por mais que ela esteja na minha frente.
Pois, eu sabendo que existe uma continuidade após a morte, eu poderia ficar mais tranquilo e fazer uma escolha mais sossegado. Assim, eu saberia que poderia experimentar outras coisas. Como vou escolher se talvez tudo acabe no instante da morte? E se, dai, eu não tiver feito tudo o que queria? Como terei paz? Não. De forma alguma. E eu acho que uma vida só é insuficiente para se provar tudo, para se sentir tudo que se quer.
Eu quero muito. Uma vida não é suficiente. Será que estou querendo demais?
Eu não quero morrer. Eu adoro a vida. Mas talvez ela se torne um fardo, com o tempo…
As sensações, os sabores, as delícias de viver. Bem que no meu mapa astral diz que eu sou um amante da vida. Sou mesmo.
Isso tem o lado bom e ruim, como em tudo…
Acho que isso também me impede de ter uma experiência confirmadora da vida após a morte. Pois, sabendo que há uma vida além desta, instintivamente eu sei que perderia a motivação para a vida. Acho que eu ficaria completamente desleixado. Para que fazer algo, sendo que há mais vidas depois dessa? Sei lá. De que forma os espíritas encararam isso mesmo? Lembro-me de que eles disseram de uma forma bastante motivadora, mais ainda do que se você não soubesse disso. Preciso reler essa passagem.
Acho que preciso me desapegar da Vida. Não despreza-la nem almeja-la demais. Simplesmente… deixar que ela seja o que ela é, e se ela abandonar meu corpo, agradecer por ter me dado tudo o que recebi, e deixa-la ir em paz. Acho que preciso aprender a morrer.
Amar a Morte tanto quanto eu Amo a Vida. Amando as duas, estarei preparado para tudo. Para o Vazio e para a Continuidade.
Cada pessoa existe para contribuir um pouco para a humanidade. Para melhorar um pouco a experiência de vida de cada um que chega aqui, viver seu período, e para depois partir, também da melhor forma possível.
Cabe a mim dar o meu melhor para que as pessoas ao meu redor e a meus descendentes, compatriotas e irmãos terráqueos, se beneficiem do que eu podia dar, e usem isso para viver melhor do que viviam antes da minha influência e do meu legado.
Isso sem levar em conta se existe o Além-Vida ou não. Isso, de fato, não importa, nesse cenário. O que importa é o que eu disse na frase anterior. Ou seja, o legado que vai ficar para as gerações futuras. Isso é algo concreto e que com certeza repercutirá nas vidas das pessoas.
Se eu sentir que estou dando o meu melhor no dia-a-dia, então acho que terei paz. Poderei morrer em paz. Ainda mais depois de ter aceitado a Vida e a Morte de bom grado, ambas com o mesmo respeito, afeição e reverência.
E você? Está seguro de suas escolhas? Decide rapidamente e facilmente seus objetivos e metas? Você abraçou a Vida e a Morte, e está em Paz Profunda consigo mesmo?
***
@Tiago: agradeço profundamente a contribuição valiosa de todos nos comentários. Vocês são o ouro que enriquece a experiência de escrever aqui! Obrigado.
Respostas de 24
Respeito e até admiro a sua visão de mundo, mesmo não compartilhando da mesma.
Eu me sentiria muito mais confortável se tivesse certeza de que a morte física é o fim de tudo, vejo um certo pesar na obrigação de “existir”. Tanto que o “Fim”, o Samadhi, é a união com o Todo, o que implica em deixar-se morrer, deixar de ser uma individualidade, uma consciência, para poder ser Tudo. E não é o mesmo destino da visão materialista? Morrer, dissolver-se em tudo o que há e sempre foi, porém, agora, sem consciência e individualidade.
É bastante complexo e hoje, em nosso estado atual de evolução consciencial, não é possivel compreender o que é esse “intergrar-se ao Todo”, pois não é exatamente deixar de Ser como consciência individual é algo muito maior e mais elevado, que implica numa superconsciência dificilmente atingida por nós.
Em uma analogia bastante simplista, digamos que o nosso Planeta Terra é você. Dentro dele, há uma infinidade de coisas, Seres, Mônadas, moléculas, átomos, partículas ainda menores e ainda não descobertas, e por aí vai. Do mesmo modo, a Terra é apenas uma “partícula” frente à imensidão infinita do Universo. Compreender o Papel do “Ser Terra” nesses dois pontos de vista é algo extremamente complexo, mas reflete um ponto a ser pensado em relação a si próprio na Criação.
O que é realmente esse Todo? O que é realmente abrir mão de sua individualidade? Ou ainda, seria apenas uma teimosia do Ego querer manter a “individualidade”? Ou ainda, seria a “individualidade” a grande barreira a ser transposta para nossa verdadeira evolução aos páramos angelicais?
Incrível! Penso de maneira muito parecida (ou será que pensam por mim? rs) Obrigado pelo texto.
Gostei da sua forma simples de escrever, com sabedoria. Também me passa pela cabeça essas questões e são realmente complexas e desafiadoras! Um abraço!
“Mais intuitivamente bom.” Isso anda sendo meu mote de uns tempos pra cá, mesmo que eu vacile, às vezes. E espero que as coisas continuem caminhando pra frente.
Ontem assisti um filme simples e bonito, Tempo de Crescer, que me fez pensar exatamente nessas questões iniciais do seu texto. Chega um hora que é preciso deixar o mundo da imaginação e das probabilidades e escolher um caminho para seguir em frente.
Excelente texto. Tirando a parte da incerteza após a morte, todo dia penso nessas questões. Bateu muito com o tormento interior que vivo atualmente.
Está seguro de suas escolhas?
Refletindo muito sobre uma decisão ou agindo impulsivamente, estou sempre inseguro. Desisti da segurança.
Decide rapidamente e facilmente seus objetivos e metas?
Depende da decisão. Do momento. Da importância que dou à ela. Do tempo disponível.
O tempo varia bastante. Raramente são decisões fáceis. Mesmo assim, me arrependo de ter passado muito tempo pensando sobre algumas coisas. Antes
que eu chegasse a alguma conclusão – passou o momento. Era tarde de mais. As possibilidades e previsões serviram pra me deixar parado. Restam algumas recordações amargas. Uma vontade de fazer diferente daqui pra frente. Pra tentar cometer novos erros e novos aprendizados, uma das minhas metas tem sido “agir duas vezes antes de pensar”. Na esperança de que conhecendo dois extremos eu consiga descobrir meu ponto de equilíbrio.
http://www.youtube.com/watch?v=wkcYU699Jj0
Você abraçou a Vida e a Morte, e está em Paz Profunda consigo mesmo?
Minha paz é fugaz. Vem e vai embora de acordo com minhas emoções. Sempre estou num processo de
auto-avaliação. As vezes fico satisfeito comigo. As vezes fico decepcionado. O que quer que
esteja acontecendo, nunca é definitivo. Me esforço pra aprender. Crescer e tirar algo positivo
de cada uma dessas transiçoes.
Você abraçou a Vida e a Morte?
Esses conceitos tem me deixado confuso ultimamente. Parece que pra viver bem, preciso me matar a todo momento. Então como se vive afinal?
“Mil ondas gravaram na pedra mil ciclos de morte e ressureição.
Como vou confiar na areia, tão móvel como a água, se tenho a rocha tão forte quanto meu medo?
Apego-me à pedra.
Crucifico-me de vez.
Esqueço que a areia já foi pedra e que a água moeu a pedra, da pedra fazendo areia…
Toda pedra será areia.
Mas a água e a areia – tão móveis – são indestruitíveis.”
O melhor a se fazer é assumir o Paradigma do guerreiro como postura de vida e aproveitar os momentos.
Gostei muito do seu texto.
Me sinto muitas vezes assim… achando q estou fazendo o melhor e depois não… As decisões são dfificeis de serem tomadas as vezes deixo pra lá e ai a vida se encarrega de se decidir por mim. Se é certo tb não sei…
“Ficar percorrendo as infinitas possibilidades do que pode ser feito e quais seus possiveis resultados podem levar à loucura. De fato, já estou enlouquecendo, depois de tanto tempo nesse universo estatístico e probabilístico.”
Esse trecho resumo o “porque” de eu ter recorrido ao ocultismo. Bom, não posso dizer que esteja melhor hoje do que antes, mas tenho mais esperança, com certeza. Também compreendo melhor as coisas. É como se eu reaprendesse algo que me ensinaram a muito tempo.
Espero que essa agonia, essa ânsia pela melhor decisão um dia passe e eu possa ficar em paz comigo mesmo e com meus demônios.
Muito bom o texto, penso de maneira muito parecida!
Sou cético, ateu e materialista, mas não excluo o aprendizado e a beleza do simbólico inerente ao ocultismo, mitologias e religiões diversas.
Sacomé, a vida é feita de constante amadurecimento. Fugir dela é batalha perdida. Entrar nela é arriscar-se a ganhar e perder. Mais o importante é joga-la, queiram ou não queiram. Eu quero!
Bom artigo! 🙂
Uma vez um sábio recente disse…
” Na mudança do presente a gente molda o futuro!
Mude! que quando a gente muda, o mundo muda com a gente…
Até quando você vai ficar levando…?
Até quando vai ficar sem fazer nada?
Gabriel, O pensador
Link: http://www.youtube.com/watch?v=rH5TRzmOVFo
Bem Tiago não é?
Estive passando de vista na pagina e li o seu texto enfim, se quiser conversar sobre me adiciona…
@Tiago: ? Mas hein?
MASSA PRA CARALAHO A VIDA!
EU TORÇO PRO TIME DO NOSTARADAMUS!
ta tão chata esta rotina!
as vezes é bom formatar o computador…
Desligue a mente
Pare de ler
Pare de cogitar
Apenas sente e silencie.
E verá quão tolas são suas perguntas.
Muito me identifiquei!!! Feliz que não sou a única com essas filosofias e dúvidas que tanto parecem ser estranhas no meio “real” em que vivemos.
LI o texto e acompanhei os comentário. Uma oportunidade rara e preciosa para sentir mesmo que vagamente a ideia remota da unicidade. Temas e dúvidas que se apresentam a cada um como individuais, pessoais e exclusivas da caminhada em separado se manifestando em sentimentos compartilhados e vivenciados como um só ser que somos, integrados no Todo, mesmo que ainda de forma totalmente inconsciente. Grato a todos
Interessantíssimo o texto, gostei muito. Descreveu muitos pensamentos e sentimentos que às vezes tenho, porém, seja por displicência ou qualquer outro motivo, não os enxergo com clareza. Sobre desapegar da vida, te recomendo a leitura do livro ” A Arte de Morrer”.
Um grande abraço.
A vida é passageira, por isso vou morrer jogando vídeo. Tudo vai virá pó mesmo.
VV na impermanência.
Gosto de pensar que um dia vou perder a individualidade e voltar para casa , sinto tanto a sensação que não estou em meu lugar , algo em mim clama por voltar ao lar, mesmo tento amor e apego por pessoas, entes eu sinto que preciso de algo que não sei o que é… E quando isso acontecer vou me fundir ao todo e nunca mais serei essa formula que me faz única, e diferente do que dita o espiritismo ,minha formula jamais voltara, em lugar disso, do todo se soltara uma nova formula totalmente diferente que nunca representara o ser que eu fui mas sim terá todos componentes do meu ser por que de uma certa forma somos a representação do todo em cada fagulha ´presente neste universo
Meu,que texto bonito,nos primeiros parágrafos até me arrepiei