Existem várias interpretações para o significado de carma, de acordo com as doutrinas hinduísta, budista, jainista, e posteriormente do espiritismo (que o chama, em realidade, de “lei da causa e efeito”), da teosofia e do movimento new age. A essência do termo pode ser associada a lei física que diz que “para toda ação existe uma reação de força equivalente em sentido contrário”. A analogia, no entanto, deve ser feita com cautela: primeiro porque o carma não é uma lei científica que possa ser medida em laboratório (embora seja uma lei natural); segundo porque a “reação a ação” geralmente não se dá imediatamente, como em reações físicas, e pode até mesmo levar anos, ou vidas.
Há uma forma superficial e outra profunda de interpretarmos o carma. Imaginemos um exemplo: um inquisidor acusa e mata inúmeros inocentes nas fogueiras durante a época negra medieval, numa outra vida, ele precisará “resolver seu carma”… Na visão superficial, entende-se que ele deva morrer queimado na nova vida, exatamente como suas vítimas. Na visão profunda, entende-se que ele possa também optar, por exemplo, por ser um médico de instituições que auxiliam em zonas de guerra, tratando das queimaduras daqueles que foram vítimas da ignorância dos homens. Existe a via da dor, e a do amor, mas nem sempre estamos aptos a cumprir nossas promessas de caridade – nem sempre o futuro médico se torna, efetivamente, um médico de almas.
É importante, portanto, compreender que o carma não é um sistema de crédito e débito, de “aqui se faz aqui se paga”. Seu mecanismo não atua para “punir os maus” com uma dose de seu próprio veneno. Na realidade, se trata de um remédio, às vezes de gosto amargo, mas que visa sempre impelir aos seres da ignorância para a sabedoria, dos instintos animais para a consciência abrangente, da terra para os espaços cósmicos adiante.
Tendo essa compreensão em mente, acredito que ela possa nos trazer algumas lições:
Adeus inveja
Para quem realmente crê no carma, a inveja não faz sentido. Ora, se tudo o que somos, tudo o que temos, é resultado direto do que fizemos com o tempo que nos foi dado, com as escolhas que nos coube a decisão, então invejar o que os outros têm ou são é tão somente uma forma de ignorância persistente.
Afinal, se tudo o que somos e temos é resultado de nossa própria caminhada, jamais poderemos conseguir alguma coisa apenas porque “desejamos”, porque invejamos de outro alguém… O que parece ser mais sábio é usar os outros como modelo, como incentivo, como a meta a ser alcançada. Não exatamente o que os outros têm, pois tudo o que temos é transitório, mas o que os outros são. Não devemos invejar nem desejar a sabedoria, devemos afinar nossa própria vontade para nos movermos em sua direção. O mero desejo é estagnação, pois nada “cairá do céu” – mas a vontade é o movimento em direção à luz.
A dor aguarda os que ficam para trás
Em dado momento, todos somos livres para escolher a via do amor ou da dor. Qualquer estudioso das doutrinas cármicas saberá que viemos ao mundo para desenvolver nossas potencialidades, e não nossos vícios. Viemos caminhar à frente, e não ficar estagnados na ignorância. Que a evolução espiritual segue a física: nada anda para trás, mas a natureza não costuma poupar os que se arrastam pelo caminho.
Nessa longa trilha, em que as vezes possa parecer que somos como um cão selvagem acoleirado a uma velha carroça rodando lentamente pelos velhos sulcos, podemos optar por seguir a frente, antes que a coleira nos puxe, ou podemos ladrar como cães raivosos, e nosso latido não impedirá que a coleira nos force o pescoço, que nos provoque dor. No fim, seguiremos a frente, quer queiramos, quer compreendamos aonde vamos, quer não. Melhor escolher o amor, enquanto há tempo, pois as dores desse mundo não se comparam as dores da alma.
Suportamos o que podemos suportar
Conforme a roda avança, a cada um é dado apenas os desafios que podem suportar. Podemos imaginar uma universidade cósmica: o calouro de física não poderá compreender as equações de física quântica ou da teoria das cordas já em seu primeiro ano, mas aqueles que se arrastam nas repetências terão eventualmente que resolvê-las, pois os reitores sabem muito bem que eles já têm a capacidade para tal.
É preciso saber avaliar os desafios por aquilo que são: não desastres, tragédias, ou problemas insolúveis, mas oportunidades de progressão, de entendimento, de edificação de nossas potencialidades.
Muitas vezes, amamos e perdemos, e essa nos parece a maior dor do mundo. Porém, curioso de se pensar: é melhor amar e perder do que nunca haver sequer amado… Os seres vêm e vão, mas a capacidade de amar é uma das potencialidades que jamais andam para trás, e que molda nosso despertar da consciência desde as eras pregressas.
Da próxima vez que estiver a se lamentar por uma perda, e desejar se ver livre do amor que sentia, e que agora dói tanto, pense novamente: a sua dor é uma luz. Os seres que se arrastam nas sombras de si mesmos, que ainda não descobriram o amor, podem parecer mais felizes, mas sua dor é muito mais profunda do que a sua – e você certamente sabe disso, mesmo que de alguma forma obscura, pois todos já estivemos na escuridão.
Só Deus o sabe
Quando nos deparamos com tragédias humanas em pequena ou larga escala, existe essa tentação própria dos seguidores de doutrinas cármicas em elaborar teorias mirabolantes sobre o porque de tais seres terem sofrido este ou aquele infortúnio… Tudo em vão!
Assim como não podemos saber por que o vento sopra aqui ou acolá, jamais poderemos compreender exatamente o que outra parte da substância cósmica experiencia. Somos todos conectados, filhos da mesma substância, formados pelos mesmos átomos e as mesmas fagulhas divinas, mas cada um pode saber apenas de sua própria visão do Cosmos. Não há nenhum ser onisciente além de Deus, ninguém que possa realmente ter habitado nosso âmago profundo e visto o horizonte da mesma forma que nós, e experienciado a caminhada dando exatamente os mesmos passos.
Quando um espírito incorpora, ele habita um corpo, e não outro espírito. Jamais estaremos dentro uns dos outros, de modo que as razões que fazem o mecanismo do carma operar desta ou daquela maneira, só o próprio ser que ama e que sofre tem um breve entendimento, e só Deus o sabe. Ele está dentro de todos nós.
O aflorar da consciência
Se na evolução física das espécies, a vida é a função do sistema, na evolução espiritual, da qual o carma é o mecanismo primordial, o afloramento da consciência é o grande objetivo a ser alcançado. Nosso caminho foi longo: de fagulhas divinas criadas sabe-se lá onde, neste ou nalgum planeta próximo habitamos coletivamente os reinos mineral, vegetal e boa parte do animal… Nas savanas africanas despertamos, compreendemos ao longo dos séculos que a vida era, afinal, muito mais do que caça e coleta, muito mais do que uma mera luta pela sobrevivência…
Até o dia em que optamos por viver, e não apenas sobreviver. Quando nossas potencialidades amorosas, artísticas e técnicas começaram a aflorar. Quando nos indagamos de onde viemos, e para onde vamos, e o que somos, e surpreendentemente começamos a encontrar elaboradas teorias para o que nos parecia inatingível. Quando olhamos para as estrelas e vimos deuses, e depois vimos fornalhas cósmicas, e depois vimos um turbilhão de galáxias além de tudo aquilo que poderíamos imaginar… Quando vimos o infinito, e lhe estendemos a mão.
A mente que adquire um novo conhecimento jamais retorna ao seu estado anterior. A alma que se abre para o Cosmos, jamais volta a se fechar novamente. A função do sistema não era, afinal, apenas a vida, mas a vida eterna.
A lei do carma
Faça ao próximo aquilo que gostaria que o próximo fizesse contigo.
Resta-nos saber quem são nossos próximos: será nossa família, nossos amigos, nossa cidade, nossa nação, nosso planeta? Serão apenas seres enquanto humanos, ou também os animais, os vegetais, os minerais, a natureza como um todo? Da próxima vez que levantar uma pedra, ou observar um galho partido, saiba que todo o infinito nos abarca, que o reino de Deus está em todo lugar… Apenas esperando que finalmente abra teus olhos para ver.
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Crédito das imagens: [topo] John-Francis Bourke/Corbis; [ao longo] Nacho Uranga
O Textos para Reflexão é um blog que fala sobre espiritualidade, filosofia, ciência e religião. Da autoria de Rafael Arrais (raph.com.br). Também faz parte do Projeto Mayhem.
Ad infinitum
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Respostas de 29
Lindo texto… Parabéns!
Fico imaginando se a verdade é que todos nós sabemos o porquê de estarmos aqui; porém, lá no fundo, não queremos enxergar…
A gente sempre tem uma opinião formada sobre o que o “outro” trm que fazer para evoluir. Mas como é difícil olhar pra dentro de si…
@raph – Pois é Vanessa, conforme Tolstói já dizia: “todos pensam em mudar o mundo, mas quão poucos pensam em mudar a si mesmos”.
Complementando a resposta do @raph, eu li uma frase que me impactou muito.
‘Ontem eu era inteligente, e queria mudar o mundo. Hoje sou sábio, e estou mudando a mim mesmo’.
@raph – 🙂
Um dos textos mais interessantes sobre carma que eu li na internet!
Parabéns mesmo e obrigado pelo ar puro!
@raph – Direto das montanhas 🙂
Fantástico raph. Você traz toda a beleza da Luz em seus textos. Abração !!! Shalom !!!
@raph – Shalom!
Uma orientação magnifica…. O manancial de sol que habita em vós á fazer luz no atrio humano tão sofrido. O gesto deste artigo que instrui e plasma intendimento ao crescimento interior. Ação sublime posta em angulo máximo á verdade no espaço justo á premiar a existência do todo. Tempo disponível glorificado com vossa mental participação.
@raph – Dia virá que todos compreenderemos o quanto toda a participação é mental. Obrigado 🙂
Ame a teu próximo como a ti mesmo.
Belo texto!
Obrigado por compartilhar conosco.
Texto muito bom,me inspirou bastante as tuas palavras exatamente o que eu precisava ler…
Sempre pensamos que os nossos problemas são maiores do que o dos outros mas isso na verdade não passa de uma distração para não nos voltarmos para nossas próprias questões, ai nos estagnamos ao passo do outro.
Excelente pax et lux.
Belas palavras num texto que explica o todo sem ser o todo ..digamos sem precisar ser aquele que sabe o tudo..apenas Deus ou energia ou como cada uma gosta de chamar e pensar…..
A linguagem faz o mundo ….e seu texto faz parte do meu cadinho…
Obrigado
Sois Grato
Muito bom texto! Mais interessante refletir. A vida não é penosa pra quem conhece suas regras. A única pergunta que fica é: Estamos a deriva ou até essas dificuldades fazem parte do plano divino?
É que as vezes da uma sensação que existem muitas forças lutando para o ser humano perder sua humanidade e muito poucas lutando a favor da nossa verdadeira natureza e essência.
No documentário do Alan Moore, ele da sua opinião que estamos em meio ao caos e não existem vilões, conspirações, ordens secretas. O que existe é uma falta de direção ao ser humano. Confesso que não consigo tirar isso da mente…
@raph – O que falta é o que sempre faltou a maioria: autoconhecimento. É o que os sábios tem nos avisado desde milênios atrás… No entanto, ainda que estejamos a deriva, jamais poderemos navegar, querendo ou não, para fora ou além de Deus.
Faz muito sentido!
Quando como vc começa a perceber O que vc é, as coisas ficam mais fácil. Todo conflito interno tende a nos deixar meio perdido. Mais no fundo é mais um passo pra subir um degrauzinho nessa evolução. Realmente, não estamos a deriva, só estamos perdidos dentro de nós mesmos! Valeu cara! 🙂
@raph – O melhor de tudo é que quando começamos a descobrir os caminhos internos, sabemos que finalmente estamos no caminho certo: o nosso caminho, que não é o caminho de mais ninguém, além de nós! Abs.
Uma grande IDIOTICE esse texto: feito por um CONFINADO, que está nessa merda de MATRIX, não tem CORAGEM de sair desse teatro, e quer ludibriar às vaquinhas de presépio com palavras bonitas, porém vazias, e sem NENHUM SENTIDO. Se vocês quiserem seguir nessa ILUSÃO de carma, estejam à vontade. Mas percebam que são apenas FANTOCHES, e a Matrix adora puxar às cordas de vocês. Fiquem a vontade, acreditando nessa ilusão. Depois que explodir na cara de cada um, não chorem… FELIZ MATRIX para todos os fantoches.
@raph – Você parece estar bastante incomodado com o que os outros pensam…
Muito bom!
Achei impressionante este texto ter chegado pra mim hoje…
Estava muito desencantada com essa teoria de carma e/ou causa efeito, achando tudo uma grande perversidade…
Considerando até a possibilidade do ateísmo…
Mas agora estou com mais esperanças!
Forte abraço!
@raph – O ateísmo não é mal… Muitas vezes, serve para que encontremos o verdadeiro Deus.
Rumi, o poeta sufi, recitava assim: “Se você não me achar em você, nunca me achará, pois tenho estado em você desde o início de mim”.
“Deus” é também apenas uma palavra. Sócrates, Jesus, Espinosa, foram todos condenados por ateísmo… E todos chegaram muito mais perto de Deus do que os que os condenaram…
Abs!
Raph, aconteceu comigo. Virei ateia por um tempo. Foi aquela “birra” de adolescente revoltada com os ensinamentos. Logo após, passando por algumas experiências, voltei a crer em algo superior. Agora eu estudo o que posso, criando todo o dia a minha filosofia interna. Obrigada por compartilhar seus conhecimentos para nos enriquecer! 🙂
@raph – Oi Daniela. Se ler, por exemplo, a Ética de Espinosa, verá lá um Deus muito distinto das concepções de um deus pessoal, que precisa intervir aqui e ali nas leis naturais, que se incomoda profundamente com o que os seres humanos fazem com seus falos e orifícios sexuais, e que se preocupa em ser “adorado” acima dos “demais deuses” (o que por si só já torna o monoteísmo um tanto relativo)…
Virar ateu para este tipo de deus, pode ser um primeiro passo extremamente necessário para que possa começar a enxergar este Grande Deus em parte, de relance. Um Deus que é o Todo, e que está em toda parte: a substância que não poderia haver criado a si mesma, incriada e eterna – mas não exatamente um deus pessoal.
É, foi para o velhinho barbudo que virei ateia.. 🙂
Ainda estou longe de conseguir ver um deus pessoal em mim, mas gosto de pensar que há uma Criador e que Ele está em tudo e em todos.
Foi depois de meditar sobre o carma, em alguns materiais que eu li a algum tempo, percebi que não adianta invejar os outros. Cada um tem experiências de vida diferentes, e eu não sei o que a pessoa que conseguiu tal feito passou para chegar até ali, ou o que teve que sacrificar para mostrar uma felicidade falsa. Estou tentando ver em cada situação que passo um aprendizado. Foi difícil a transição, mas estou fazendo meu melhor!
Namastê!!
@raph – Nasmastê, é isso 🙂
Sim, Deus é uma concepção mais semântica mesmo.
Busco me aproximar do panteísmo…
Apesar de culturalmente, ainda pensar neste Deus Cristão. E ainda me pego lutando contra alguns dogmas que nos foram impostos.
Quando falei ateísmo, foi em relação àquele bem materialista mesmo.
Também não o acho mal, de forma alguma.
Mas minha estrutura é meio misticóide, se ficasse totalmente no racional, ia achar meio chato, rssss
Jesus foi condenado por ateísmo? Agora fiquei desconcertada!! rsrsrs
@raph – Sim, na verdade ateísmo sempre significou algo mais como “não praticar a religião oficial” do que necessariamente não acreditar nalgum deus. Somente nos últimos 2 séculos, quando muito, a parte do “não crer em deus algum” passou a ter maior destaque. Anteriormente era ateu quem não acreditava no “deus oficial”.
Vale lembrar também que ser ateu não significa necessariamente “ir contra a crença alheia”, muito menos “tentar converter alguém para o racionalismo”. Este tipo de “ateísmo” eu prefiro chamar de antiteísmo, para evitar problemas de entendimento…
Gostei muito do texto, me levou a pensar… as vezes nos sentimos tão importantes que achamos grande injustiça ou escravidão estarmos presos a esta lei. Mas esquecemos que conhecer o Carma e refletir sobre ele antes de agir, nos torna muito mais livres, que ter responsabilidade pelo nosso futuro – responder por nossos atos – nos torna grandes e superiores. Compreender que iremos prestar conta das nossas ações, nos permite escolher melhor, ou pelo menos tentar escolher melhor.
Thx = )
@raph – Escolher hoje melhor do que ontem, e amanhã melhor do que hoje… Um pensamento de cada vez 🙂
Estou lendo um livro muito interessante do Osho: “Encontro com pessoas notáveis”. Já ouviu falar ou leu?
@raph – Nunca li Osho, mas conheço muita gente que gosta… Já li um livro de título muito parecido: “Encontros com médiuns notáveis”, de Waldemar Falcão. E há também este livro clássico do misticismo: http://pt.wikipedia.org/wiki/Encontros_com_Homens_Not%C3%A1veis
Que curioso, parece haver um padrão por aí rsrs…
Eu já assisti a adaptação em filme do livro “Encontro com homens notáveis” (até expliquei o título para minha esposa não pensar algo errado rs) de G. I. Gurdjieff
Alias, eu gostei do que eu vi
Belo texto!
Sempre me incomodou essa forma superficial de ver o carma como um sistema do “olho por olho, dente por dente”. Se o carma existe, é por demais complexo e foge à compreensão humana. Sistematizar o carma baseando-se numa “justiça” humana é no mínimo falta de humildade e desconhecimento da própria ingnorância. Seria o mesmo que mandar alguém para o presídio e querer que ele se recupere. Pode até acontecer de dar certo, mas é pouco provável. Se não funciona para nós, não deve funcionar em nenhum outro plano.
@raph – Há almas em diversos estágios de evolução em conflito umas com as outras, mas do conflito é que todos evoluem a frente… Se vivêssemos todos numa espécie de interpretação literal e superficial do Jardim do Éden, estaríamos fadados a estagnação pela eternidade… Mas foi o Rabi de Galileia quem nos disse: “sois deuses, dia virá que farão tudo que tenho feito, e ainda muito mais”. Penso eu que isto por si só responde muitas questões (ao menos, para os que creem nessas palavras).
-Lógica do Absurdo:
O Todo é mente. O Universo é mental.
Tudo o que se tira da mente é “mente-tira” ou mentira.
(E o que habita a mente ? Pensamentos).
Conclusão: O Todo é mentira. O Universo é mentira.
(E o carma também).
“As Trevas cobriam a Face do Abismo” … “Faça-se a Luz” …
“Luz” ou i-Lus-ão ou i-Lus-ionismo ou “Criação Divina”.
Penso, logo existo; fica: Penso, logo minto.
Você é o que você pensa; fica: Você é uma mentira.
“… era isso que eles queriam: Mentiras. Mentiras maravilhosas. Era disso que precisavam. As pessoas eram idiotas … ”
@raph – Ninguém está aqui obrigando ninguém a acreditar em nada. Autoconhecimento basta. Se não achar a sua verdade dentro de você, de nada adiantará julgar ou criticar a crença alheia. Se o que seu interior lhe diz é que “todo misticismo é bobagem e mentiras”, está ótimo. Neste caso, tampouco sei exatamente o que estaria fazendo lendo este post em específico…
Carma ? Cadê ? Onde ?
Lição ? Do quê ?
Nós vivemos num verdadeiro “Show de Truman”; não sabemos quem somos, de onde viemos e para onde vamos !?
E justamente por esse vazio existencial ser do tamanho do Universo, ele pode ser preenchido por qualquer coisa que aparenta esperança, significado, conforto, sentido etc; lembrando que aparência é a suprema ilusão.
Ilusão; o mecanismo de compensação, criado pela mente para suportar o vazio entre o nascer e o morrer.
Ilusão = trevas; que encobrem o abismo.
Uma hora a ilusão acaba; e você “cai na real” ou no REAL.
@raph – Eu acho de uma extrema arrogância acreditarmos que podemos saber exatamente porque as pessoas creem ou descreem no que quer que seja… Além do mais, toda generalização deste porte é uma grande falácia. Há cientistas geniais, extremamente racionais, que acreditavam em coisas não comprovadas em laboratório. Será que eles também sofriam deste tal “vazio existencial”? Não sei…
Nietzsche já havia dito que “Deus está morto” há mais de um século atrás, mas ele não disse isso como uma crítica, mas sim como um alerta para o niilismo que se instaurava no mundo moderno, e pós-moderno. Buscar algum sentido existencial é automaticamente se iludir? Então todo o místico é o maior dos iludidos, um grande louco!
Além do que, todos os que acreditam no amor são lunáticos de antemão, pois ninguém nunca “viu” ou “comprovou em laboratório” o amor…
Mas que nossa loucura seja feita de luz!
Um dia vi o Lázaro Freire (já ouviram falar?) comentar…
Nada mais ilusório que o mito, epistemologicamente.
Nada mais real, fenomenologicamente.
Penso que o cético se prende muito mais no mito do que o crente radical, e esquece de observar fenômenos bem reais que justificam as metáforas evolutivas…
Ótimo texto, muito obrigado Rafael
Gostei muito da explicação sobre a via da dor ou via do amor, não conhecia este conceito.
Algo que me traz muita dúvida é com relação a “…a evolução espiritual segue a física: nada anda para trás…”, eu já havia escutado explicação semelhante de amigos espirita, mas quando ouvi explicações sobre a roda de samsara entendi que é possível retroceder na evolução, e em outro livro que fala sobre Krishna é explicado que se gostamos de comer carne, poderemos voltar como predador para que possamos saciar esta vontade…
Enfim, entendo que existem muitas “linhas” de pensamento, e eu sou curioso e acabo lendo um pouco sobre muita coisa e fazendo uma salada rs
@raph – Há diversas interpretações para o carma, é um conceito quase tão antigo quanto o próprio hinduísmo… Mas ao longo dos milênios ele também foi extensivamente discutido e reinterpretado. Eu pessoalmente não creio que um espírito que habitou um cérebro de homo sapiens possa retornar habitando um cérebro de outro mamífero como um boi ou um porco. A complexidade, a organização das informações, nada disso “anda para trás”… É nesse sentido que “a evolução espiritual anda lado a lado com a física”.
Para quem se interessar em aprofundar o tema, uma boa parte do meu livro, “Ad infinitum”, é dedicada ao assunto da reencarnação e da tentativa da compreensão da “justiça” do carma. Não que os personagens cheguem a alguma “conclusão final”, mas há um debate aprofundado do assunto.
Eu me interesso sim! Já adquiri e estou lendo, próximo da página 100.
Novamente, obrigado 🙂
@raph – Obrigado você. Acredito que talvez acabe saindo com mais dúvidas do que certezas acerca dessa história toda… Mas serão dúvidas iluminadas 🙂
Eu tenho muita dificuldade em, mais do que acreditar, aceitar a Lei do Carma.
Por exemplo, quando pensamos em alguém que julgamos como uma pessoa cruel, tendemos a acreditar (e até desejar) que ela arcará com os seus atos, nesta vida ou em outra.
Mas quando alguém me fala de um indivíduo que nasceu todo estropiado (com várias deficiências físicas), e isso é resultado de um mau feito na vida passada, ah, aí eu me incomodo demais.
@raph – Também me incomodo. É por isso que alerto para o fato de que somente o ser em si, e Deus, sabem dos motivos dos infortúnios… Não cabe a nós julgar.
Acho muito arbitrário e cruel afirmar isso. O cara já está sofrendo, e tem que assumir a responsabilidade de uma vida passada, que ele nem mesmo se recorda.
@raph – Nós não somos os mesmos de 15 anos atrás, nenhuma célula do nosso corpo tem mais de uma década. Morremos e mudamos ainda nesta vida. Das vidas passadas, então, nem se fala… Em meu livro aprofundo mais o tema, mas gostaria de tentar resumir brevemente aqui: Há a personalidade e há a potencialidade. A personalidade morre e muda, apenas a potencialidade perdura. Podemos pensar, por exemplo, na “potencialidade de amar” – ela perdura por diversas vidas e personalidades, mas não importa a máscara que utilizemos hoje, não importa nada daquilo que não tenhamos escolhido (e que Outro escolheu para nós); o que importa é viver da melhor forma possível com o tempo que nos é dado, com nossas escolhas atuais, para que desenvolvamos esta potencialidade para o Amor. Hoje melhor do que ontem, amanhã melhor do que hoje: um pensamento, um sentimento, uma escolha de cada vez.
Não consigo ver como a mesma pessoa, e sim como duas diferentes, ainda que me falem que o centro é o mesmo.
@raph – Não são a mesma, e nem mesmo são duas, mas centenas de personalidades bailando num turbilhão… Ainda que a essência seja a mesma.
Outro exemplo mais concreto: tem gente que fala que os africanos que vivem naquela miséria toda são reencarnações de nazistas. Acho que afirmar isto é similar quando o Feliciano afirma que os negros são amaldiçoados por Noé.
@raph – Exato, tudo fruto da ignorância. É que há aqueles que preferem julgar os demais, pois não olham para dentro de si mesmos… Se olhassem, preocupariam-se antes com o andar da própria alma – o que já é preocupação mais do que suficiente!
Além do que, o homo sapiens veio da África, e portanto, todos somos, de uma forma ou de outra, filhos da mesma tribo. Todo iniciado, todo xamã, é um irmão, um “renascido da terra”. Os africanos foram tão somente os primeiros… Mas eis que há ainda muitas moradas no Reino 🙂
Oi Rafael!
Admiro a forma como os conceitos mais complexos ficam claros nas suas palavras!
(Além da sua paciência em atender até mesmo às solicitações carregadas de raiva…)
Estou terminando um livro muito interessante – “Muitas vidas, uma só alma” do Brian Weiss – que aborda questões interessantes sobre o assunto.
Além da admiração mencionada acima, também sou muito grata pelos “momentos de luz”, proporcionados pela leitura dos seus textos.
Até a próxima 🙂
@raph – Obrigado Chris 🙂 Me parece que os livros do Weiss são uma excelente introdução ao assunto… Claro que, num aprofundamento mais místico ou filosófico do assunto, serão necessários livros mais “densos”. Mas o importante é dar um passo de cada vez, e seguir sempre a própria Vontade 🙂 Abs.
Eu gostaria de saber se alguém que usa a sugestão mental para fins egoístas, para fazer alguém realizar algo que não deseja, as consequências carmicas são pesadas?
Raph, como sempre com ótimos textos! Obrigado!
É interessante notar que o karma também está bem guardado na nossa mente.De modo que mudando nossa mente mudamos muitas coisas ditas kármicas.
Obrigado