por Hugo Borges de Sá
Aparentemente, “As Aventuras de Pi” (The Life of Pi), filme mais premiado do Oscar de 2013 (Melhor Fotografia, Melhores Efeitos Visuais, Melhor Trilha Sonora e Melhor Diretor), é apenas um filme com fotografia de encher os olhos que conta a história de Piscine Patel, vulgo Pi, que tenta provar a existência de Deus a um escritor desencorajado, relatando sua luta por sobrevivência em um bote salva-vidas, após um naufrágio em alto-mar com seu companheiro de viagem: o tigre Richard Parker. Porém, pode-se considerar redundância fazer uma análise cabalística deste filme, tão óbvio é o viés cabalístico presente em sua essência.
Pi nasce na Índia, filho caçula do dono de um zoológico e de uma botânica. Inabalável em sua crença no sagrado, quando criança, ele encontra espaço o suficiente em seu coração para abraçar as três maiores fés do mundo: o hinduísmo, o cristianismo e o islamismo, ignorando as diferenças de dogmas e preconceitos. Pi entende a unicidade e onipresença da luz de D’us, independente das formas e dos avatares existentes na história da humanidade.
Em um episódio peculiar com Richard Parker, em seu primeiro contato íntimo com o tigre, o protagonista tenta alimentá-lo com a própria mão, encarando-o nos olhos. Pi enxerga a alma do animal e a impressão que temos é que tudo correria bem, se o pai de Pi não o tivesse impedido, com medo do que aconteceria com o filho. Para ensiná-lo uma lição, o Sr. Patel alimenta o tigre com uma cabra, pedindo-o para ficar de olhos abertos, presenciando a selvageria do animal. Pi fica desolado. Seu mundo perde a cor, e sua fé fica completamente abalada. Assim o protagonista cresce, à procura de algo que trouxesse novamente significado em sua vida.
O auge do filme, porém, ocorre após a decisão do Sr. Patel de se mudar com toda a família para o Canadá, embarcando em um navio japonês, denominado Tsimtsum, para vender os animais do zoológico. Depois de quatro dias de viagem, Pi acorda no meio da noite em meio a uma violenta tempestade. Curiosamente, ele pede “mais chuva, mais chuva” ao “Deus da Tempestade”, e o Tsimtsum afunda, deixando-o a deriva no Oceano Pacífico.
O grande cabalista Isaac Luria descreveu um fenômeno curioso. No começo não havia Nada, apenas Luz Infinita. Nesse estágio pré-Criação, não existia lugar onde algo pudesse existir. Quando Ele decidiu criar, sabendo que nada poderia existir onde existisse a Luz Infinita, tamanha sua potência, o Criador retraiu sua Luz em um determinado espaço e o circunda, resultando em um vácuo dentro da Luz Infinita. Só então Ele estendeu para dentro deste vácuo circular um raio de Luz que gerou toda a Criação.
Esse ato de contração de si mesmo para que pudéssemos existir, Luria chamou de Tsimtsum. O Criador, ao criar este espaço, delimitá-lo e enviar um raio de Luz, revela os conceitos de limite e restrição tão necessários à criação, muito similar à função do número irracional Pi.
Pi, durante a tempestade, age como a Criatura foi programada para agir: ele pede mais e mais, pois assim é a criatura em essência, em seu desejo egoísta de receber. E é nesse instante que o Tsimtsum afunda, em uma linda cena com alegorias sobre o momento da Criação para satisfazer qualquer estudante de cabala (talvez até mesmo o próprio Isaac Luria).
Após o naufrágio, o protagonista passa por diversas situações em sua luta para sobreviver. Sozinho, tendo perdido sua família, alimentando e ao mesmo tempo dominando Richard Parker, o que pode claramente ser uma alusão ao nosso Adversário, ao nosso ego e ao constante desejo de receber para si.
Durante toda a viagem de Pi e Richard Parker em alto mar, é possível identificar diversas referências cabalísticas. Em certo ponto, por exemplo, os personagens passam pela esfera de Yesod, antes de terminarem sua jornada, chegando finalmente a Malkuth. Para não entregar o ouro tão facilmente, deixemos aos leitores a percepção destes pormenores.
Ao final de sua história, Pi conta para o jornalista que existem duas versões da história e que ele deve escolher qual é a verdadeira: a que ele acabara de contar, repleta de significados, amor e milagres; e a outra, com fatos realistas e cruéis.
De acordo com Pi, D’us é a “melhor história”. Acreditar em D’us torna a vida mais rica e mais repleta de sentidos – e ainda assim, a vida é a mesma. Ele viveu seu momento pessoal de re-criação do seu universo, sobrevivendo a todas as mazelas e vendo a beleza do Criador em todas elas.
A escolha, na verdade, é sempre nossa: ver apenas o sofrimento e a dor do mundo ou descobrir o significado profundo de todas as coisas.
D’us, ao criar o Universo, oculta sua Luz de nós, para que nós possamos fazer nossas próprias escolhas. Mas Ele permanece imanentemente presente, mesmo estando oculto. De certa forma, ele está mais presente em Sua ausência que em Sua presença.
Do excelente blog CEMEC – Centro de Estudos e Meditação Cabalista
Respostas de 45
Quando assisti ao filme cheguei a escrever no meu blog um comentário despretensioso sobre o filme e algumas historias curtas sobre naufrágio, como forma de entrar na “brincadeira” proposta no final da película.
Não me senti apto, no momento, a fazer uma análise aprofundada dos aspectos espirituais da história. Sabia, porém, que significados profundos poderiam ser depreendidos dali e aguardava que alguém o fizesse neste ou em outro espaço.
Enfim, gostei bastante do texto!! Grato por compartilhar Hugo e MDD!!
D’us, luz infinita, imanentemente presente, eu leio textos como esses assim como leio Blavatsky, e me deparo com coisas como “o uno não nascido que sempre é no estado manifestado”, coisas que não tem o menor sentindo para quem convive com ciências exatas como a matemática, eu entendo os radicais livres e as dizimas periódicas, mas esse mimimi exotérico aí é foda de compreender, por que parece que parte da premissa de que você tem que acreditar em algo, tem que se submeter ao dogma pra entender, tem que fazer parte da porra do clubinho, NÃO PODEMOS SER MAIS OBJETIVOS? tipo entender o absolutamente nada, é só pensar na tríade oxigênio, carbono e nitrogênio, o nada existe por que o oxigênio quer queimar o carbono e o nitrogênio não deixa, e esse equilíbrio e só esse equilíbrio faz com o que o absolutamente nada exista. Não tem que ter criador, por que estamos falando do nada, do absolutamente nada. que só existe por conta de 3 forças, da passiva, da ativa e da neutralizadora. A pergunta não é QUEM criou essas forças mas sim O QUE criou essas forças. Essa conversa de escolha, em escala cósmica é ridícula, por que não passamos de bactérias dentro de um tubo de ensaio, para nós, o espaço dentro do tubo é infinito mas pro tubo é nada, é como uma gota de agua dentro de uma piscina é só agua e por mais que possa querer ser mais do que isso, vai depender de mais agua, chuva talvez, pra poder vencer o limite de suas bordas. Estamos numa nova era, onde o sânscrito já não serve mais, precisamos de objetividade, não de subjetividade e menos desse mimimi, do tipo só os iniciados irão entender, por que se informação não for direta e clara nos tornaremos, da pior maneira, como essa legião de evangélicos que só leu e lerá um único livro na vida.
A informação direta e clara que você quer só é válida se vier de você mesmo. Caso seja o contrário, você estará apenas seguindo os pensamentos de alguém sem saber nem ao menos o porquê…
Mais estudo, mais auto-conhecimento, muito menos informações prontas.
Precisamos de indivíduos pensantes e não de pessoas seguidoras de frases prontas de facebook.
Do meu ponto de vista a coisa é mais simples. Ou melhor, é possível simplificá-la. De fato a análise feita acima é muito conveniente e comovente. É claro que o filme trata de assuntos de maneira tão aprofundada, no entanto, não foi feito só para pessoas “iniciadas”. Para mim, leigo em estudos cabalísticos, o eixo do filme está numa conversa que Pi tem com sua família, na qual seu pai e sua mãe o colocam num grande dilema (aliás, um dilema ocidental desde a Idade Média): seu pai acredita na razão e nas explicações científicas, enquanto sua mãe mantem-se firme na fé que professa. Esta conversa abre um precedente de debate no filme: religião VS ciência. Aparentemente Pi resolve a questão imediatamente, pedindo para ser batizado. Aparentemente, durante toda narrativa de suas desventuras em alto mar, este debate ficou esquecido. Nas últimas cenas do filme, quando a equipe de investigadores do Tsimtsum vai ao Canadá entrevistá-lo acerca do naufrágio do navio, o debate ressuscitou na figura do escritor, que achou a versão contada aos investigadores fria, embora parecesse mais real. Pi responde que “com Deus é a mesma coisa”, de modo a afirmar que, embora a versão “científica” (que foi a contada para os investigadores) parecesse mais convincente, devido ao fato de explicar racionalmente, ela também não contempla a verdadeira razão que levou ao naufrágio (talvez o naufrágio seja uma metáfora que se refere a grandes questões que a ciência não consegue resolver, mas que cada religião explica de uma maneira diferente). De qualquer modo, não é possível acessar a verdadeira essência das coisas, nem através da ciência, nem da religião. Até porque, de ambos os lados não há discurso unívoco. Desta maneira, acreditar em Deus ou não passa a ser uma escolha subjetiva. De fato, acreditar nele, segundo a perspectiva de Pi aparentemente adotada pelo escritor até então incrédulo, torna a vida mais feliz, bonita e “poética”. Pi, embora prefira a histórica com tigres, ilhas e suricatos, não nega a perspectiva “científica” na qual os animais eram metáforas dos seres humanos. Assim resolve-se a questão suscitada no início do filme: pode-se ter fé e acreditar em Deus, sem deixar de acreditar na ciência e no progresso de suas descobertas, de modo que cada uma segue seu curso, explicando a realidade intangível à sua maneira.
Confesso que é dificil pra mim formar uma opinião. Não por medo de não entrar no reino do céu, mas por medo de correr atraz de algo erra. Percebi um pouco disso no filme e acho q este filme definitivamente deve ter sido duro de assistir pra uma pessoa que pensa como vc. Como já disse eu fico dividido, mas fui bom ler seu post…
att
fgm
Cientificismo – significa admitir que “fora da ciência não há salvação” e acreditar que ela é capaz de uma completa racionalização do saber. Não deixa de ser uma questão de fé mas em vez da religião, na ciência. É o mito da razão afirmativa ou seja, a ciência mitologizada. A religião e a ciência respondem a questões diferentes. Se por um lado é demasiado fantasioso explicar tudo via religião, é por demais pretensioso tentar reduzir tudo ao método científico. A ciência não faz juízo de valor, só de fato e estão fora do alcance dela questões morais, estéticas e metafísicas. Então, cada um no seu quadrado.
Como dizia Francis Bacon; “saber é poder”. Mesmo a ciência continua sendo coisa para “iniciados”. Ou você acredita que a ciência tem mesmo a intenção de após clarificar e objetivar, popularizar todo o saber? O que é o nada? Ninguém até hoje respondeu isso. O que vem antes do começo e o que vem depois do fim? O nada? Isso nem a religião nem a ciência respondem.
A ciência vem a cada dia se atrelando mais com espiritualidade. Falar de física quântica e não falar de subjetividade é quase improvável. Poderia não falar mas convém citar alguns cientistas de renome que trabalham com as duas faces da moeda. O Geologo Gregg Graden, O grande cientista indu Amit Goswami e o grande cientista brasileiro Laércio Fonseca e esse movimento vem de muito tempo. Meus primeiros contatos com o ocultismo são de 2007 e já tinha acesso a informações sobre física quântica e seus questionamentos cada vez mais profundos, quem procura acha, a quem pede é dado e um dia a ciência vai ver.
um video sobre física e espiritualidade.
A Ciência dos Milagres (legendado) 1/5
https://www.youtube.com/watch?v=mxztUNhNPyQ
caminhe na paz e entre os anjos.
Sinceramente,
eu não estava com coragem de assistir o filme, pois assisti um outro “PI”, e fiquei pensando se esse das aventuras de pi não seria mais um dos filmes indicados a oscar que só tem efeitos especiais e aquela mesma história de auto-ajuda americanalhada… hehehe
Vejo o quanto me enganei! Mas que bom! Agora me des-enganei!
Ótimo texto! Valeu pela abertura de janela!
Não fiquei interessado em ver o filme quando lançou, depois fiquei sabendo do caso de plágio (Que acredito que todo brasileiro deveria ter conhecimento). Confesso que li o texto sem muito entusiasmo, por melhor e abundante que tenha sido em sua qualidade.
Porque, no final das contas, se acreditamos em Deus, não temos nada a perder. Teríamos muito mais a perder se descobríssemos que Ele não existe do que o contrário.
O filme é otimo, mas ainda sinto pontadas quando lembro que o livro e praticamente um plagio de um brasileiro, e quase inevitavel…
Escritor esse chamado Moacyr Scliar,que era judeu,portanto….nada é por acaso!!!
“Em um episódio peculiar com Richard Parker, em seu primeiro contato íntimo com o tigre, o protagonista tenta alimentá-lo com a própria mão, encarando-o nos olhos”
isso me lembrou Tyr…
!?!?
Colocar deus nessa história é totalmente falha de lógica, basicamente crentelha.
Quer dizer que morre 99% dos seres do barco, incluindo os animais… Sobra um cara que, na vista do autor do texto(e mesmo do filme/livro onde o autor acha que pedir chuva teve alguma influência), esta sendo o centro do universo!
E foi DEUS que salvou ele, oculto, sem se mostrar?!?!? Para uma pessoa só? Só faltou dizer que quem matou os outros 99% foi o diabo…
Meu ponto de vista é, que pode ir até contra o autor do livro, uma história de superação, que não inclui deus, onde o Pi teve que aceitar suas sombras, seu lado animal, e mesmo aceitando os seus erros, como ter matado a hiena(cozinheiro), não ter salvo sua mãe(poderia ter matado a hiena antes), ele conseguiu fazer o verdadeiro trabalho da Força e da Morte(e outras cartas mais) e dar um significado especial para seguir adiante o resto da sua vida, pois não existe erro, apenas aprendizado.
Tudo, sem ´e´´.
A metáfora não se estende apenas à fábula dos quatro animais, mas, em sentido amplo, a história de Pi representa a jornada espiritual de cada indivíduo para experienciar e se reunir a Kether (O motor imóvel, o criador incriado, presente em TODAS as mitologias conhecidas).
Essas Reflexões vieram em boa hora, obrigado!
Venho meditando esses dias, como as coisas e detalhes da vida, são tocadas pela imperfeição e pela perfeição… ao mesmo tempo em que a luz está ao seu lado, pouco depois as sombras se assenhoriam de sua mente e lhe incutem a dúvida e o medo… Quando passo por momentos de refrigério e equilíbrio, agradeço cada amanhecer e anoitecer, sorrindo que mesmo que ao cair da próxima noite eu esteja em meu pior estado, naquele dia pelo menos eu fui agraciado com a lúcidez suficiente de poder enxergar a presença de “D’us” ao meu redor…
Também fiz essa análise do filme, sobre como e o que preferimos enxergar durante nossa existência, à que perspectiva estamos mais abertos na vida, se sempre a notar o lado negativo ou positivo das experiências.
Já disse alguém que não lembro o nome que a moral da história depende de quem a conta.
Olá!
Muito bom o texto!
Já havia passado por seu site anteriormente e sempre gostei bastante de muitos posts.
Poderia falar mais sobre essa situação onde o Criador faz a limitação de sua Luz Infinita?
Obrigado
Bruno,
Neste post explicamos essa questão com bastante clareza. Espero que ajude.
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=561928543840990&set=a.514766161890562.119896.513700881997090&type=1&theater
Boa noite!
Eu fiquei bastante curioso com o significado da ilha no formato de uma silhueta humana… para mim pareceu que os lagos estavam localizados nos chakras…
Alguem explica mais?
Silvio
O interpretei a mensagem do “assim é com Deus também” no sentido de que as historias que nos contam, desde o hindu, com um Deus com cabeça de elefante, até a bíblia com homem sendo engolidos por baleia são na verdade parábolas para contar a magnitude de um acontecimento, para que além das palavras as historias ganhem um sentir…
Muita gente diz: ahh ta bom que um cara abriu o mar vermelho, ou ahhh ta bom que o universo estava na boca do menino indiano…
Na verdade são historias como a do Pi… fabulas sobre coisas reais a fim de passar determinadas mensagens.
E é totaaaaaal cabalistico! Eu até chorei quando consegui “pegar” uma essência!
Yesod seria a parte em que ele olha os olhos do tigre e enxerga o universo todo ali naquele momento, no mar, enfim, um UNO igual ao TODO.
wikipedia: Quando o iniciado percorre esse caminho, a experiência espiritual que tem é a visão do mecanismo do universo.
Malkuth penso que é a ilha carnívora… onde ele se alimenta e até se diverte nadando… mas Malkuth consome… Malkuth é carnívoro. Vc se alimente dela e ela se alimenta de vc.
Tiphareth eu acho que é quando ele chorando com fome abraça o tigre.
Será? rss
Off topic, mas… O POVO CLAMA PELA TERCEIRA EDIÇÃO DA ENCICLOPEDIA DE MITOLOGIA!
Alguma previsão? Aguardo há anos (sem exagero). Um material desse não merece permanecer esgotado.
Ótimo texto, devemos sempre tirar algo bom de tudo. Basta abrir um pouco a mente!
Namastê !
Esse filme foi espiritualmente gratificante para mim.
DD, depois desse texto ficou muito mais claro o filme. Aproveitando, indico assistir Oz, Mágico e Poderoso, que é a história de como Oz chegou na terra maravilhosa. Mas acredito que vale a pena assistir o original antes, para reviver todo o cenário e saber bem quem sao as figuras e o que ta se passando.
Para quem é iniciado, assistir ao final do Oz Mágico e Poderoso terá uma surpresa.
Tenho certeza que não vai faltar associacoes cabilisticas e iniciáticas nos dois filmes.
Abçs.
Interessante. Pode ser entendido superficialmente, com um olhar ateu, de que trata-se de uma ilusão infantil acreditar em Deus (que foi o que senti quando assisti, shame…), mas tem mesmo um significado profundo, que ainda me esforço a entender, mas deve ter a ver com o versículo, “se os seus olhos forem bons, todo o teu corpo será luz, mas se forem maus, todo o seu corpo será tenebroso.”
Só não entendi um ponto do texto
“Em certo ponto, por exemplo, os personagens passam pela esfera de Yesod, antes de terminarem sua jornada, chegando finalmente a Malkuth”
Isso discorda um pouco do que eu tinha entendido. Achei que ele estivesse “subindo” no pilar do meio e não descendo. Assim Malkuth estaria representado entre muitos outros elementos pelo pai (materialista, descrente) e as provações do seriam a passagem por Yesod (até pela associação do barco com o psicopompo Caronte, e a frequente aparição da Lua), para conduzir à Tiferet (o estado búdico, a iluminação, a compreensão espiritual)…
Um pouco depois de ter assistido ao trailer desse filme e ter conhecido algumas idéias sobre o seu enredo escrevi esse texto poético.
Sozinho com o tigre.
Eu vivo sozinho com um tigre terrível. Em uma casa pequena demais. Pequena demais! Assim me parece, oh Senhor!
Bailamos em fúria durante muitas luas. E eu contemplo sua pelagem magnífica. Enquanto ele me estrangula. O tigre me concede sua raiva. Eu lhe concedo meu medo. Matar um ao outro não nos é permitido. Matá-lo seria morrer, diz a voz.
“Oh Senhor, ajude-me a domar este animal, ajude-me a respirar.
“Ajude-me a respirar.
“Ajude-me”.
Dormimos exaustos lado a lado, todos os dias. E ele aparece em meus sonhos.
Então o tigre é o tigre.
A casa é a casa.
E o homem é o homem.
Uma voz exaltada grita dentro, soa como a voz de meu pai:
“Ensine o tigre a amar.
“Amar infinitamente.
“Até os ossos se partirem, até a morte.
“Aceite o tigre, ensine o tigre, ame o tigre”
Não me parece justo, oh Senhor.
Um tigre é um tigre.
Eu sou só um homem.
A voz dos sonhos me incita a continuar. Mesmo que eu já não saiba o que fazer. Enquanto o tigre me rasga em pedaços. Sem nunca me matar. A voz dos sonhos não se cala. Porque eu a deixo falar. E já não me sinto sozinho. Não estou mais sozinho… com o belo tigre.
parece a musica do dio
“Em um episódio peculiar com Richard Parker, em seu primeiro contato íntimo com o tigre, o protagonista tenta alimentá-lo com a própria mão, encarando-o nos olhos. Pi enxerga a alma do animal e a impressão que temos é que tudo correria bem, se o pai de Pi não o tivesse impedido, com medo do que aconteceria com o filho. Para ensiná-lo uma lição, o Sr. Patel alimenta o tigre com uma cabra, pedindo-o para ficar de olhos abertos, presenciando a selvageria do animal. Pi fica desolado. Seu mundo perde a cor, e sua fé fica completamente abalada. Assim o protagonista cresce, à procura de algo que trouxesse novamente significado em sua vida.”
Podemos associar isso à nossa alma “pré-humana” quase adquirindo livre arbítrio, ou melhor, já tendo um pouco, e querendo se deixar seduzir pela inconsciência novamente (tigre), pelo lado animal egoísta sem livre arbítrio, mas chesed está lá para não deixar isso acontecer, pois precisamos é ascender, e em um momento de disciplina (por amor) o alerta (o pai); pouco depois, a alma com características totalmente humanas, pede mais e mais, obtém e foge do equilíbrio do criador.
Posso estar enganado, mas no filme existem referências ao poema The Tyger e também ao Dilúvio?
Navegado na net achei o seguinte comentário:
Faz sentido ?
“paulootus: Galera! a ilha representa o canibalismo do próprio pi. ou seja quando ele, sem outra alternativa come a mãe, o cozinheiro e o marinheiro mortos. Percebam que a ilha é bem atípica com raizes que mais parecem entranhas deterioradas. os suricatos nada mais são que os vermes dos corpos, que vcs podem reparar que apenas se afastam quando pi chega perto, tem uma cena que na qual aparece a ilha inteira e vc pode perceber que é uma pessoa deitada. ele encontra um dente humano em uma fruta que é uma prova dessa tese. Imaginar essa ilha foi a unica forma dele comer sem perder a humanidade dele. Faz umas 2 semanas que esse filme não sai da minha cabeça.”
Bom, realmente tudo se torna muito mais fácil se interpretado de uma forma ilusória, portanto isso só acontece quanto temos que enfrentar algo real i injusto.
Acredito de devemos nos pegar em algo, mas no que? Sabemos que a realidade é algo em que não queremos e a todo momento fantasiamos afim de dar um brilho na história.
Isso faz com que o ser humano se socialize e fuja da realidade que é a sobrevivência nua e crua e isso foi bem posto no filme na ora de conquistar comida.
Tenho um respeito por livros que seguem por décadas e ditam as regras de um povo, mostra quanto somos frágeis e de quanto precisamos de heróis.
É por essa fragilidade que temos que nos socializar e assim ter um equilíbrio dos povos, nessa briga por comida é onde os mais fortes sobrevivem e com suas descobertas da ciência se tornam ainda mais cruéis.
E é somente não termos mas o básico para nossa sobrevivência, que nos tornamos cruéis uns com os outros.
Que nem diz o filme, acredite, fantasie e seja feliz, pois feliz é o quem não sabe e não o sedento por sabedoria.
A certeza é uma, todos nós corremos com um só objetivo… O de encontrar a felicidade e só temos isso através das perdas é onde deixamos para trás tudo e criamos um novo começo.
Oi Deldebbio, lhe conheço desde a época dos RPG’s se não me engano o nome, e do 3d&d também. Acredito que o seu primeiro nome é Marcelo e atualmente, depois de vários anos esperando (pra lhe ser sincero, 13 anos), estou começando o meu primeiro livro. Motivo? Na época eu era inexperiente, não havia lido muito e tudo o que eu buscava era conhecimento e experiência. Adquiri experiência, derrubei muitas lágrimas e súor. Conheci algumas belezas naturais (não só mulheres, mas muitos terrenos inóspitos) e enfim comecei a escrever.
Claro, adquiri uma base de conhecimentos o que me permite escrever algumas linhas sem pesquisar antes, e com o devido respeito, troco alguns termos técnicos por palavras menos questionadoras…
Escrever uma história é isso. Basicamente ocultar o que existe para que os verdadeiros buscadores vão atrás. Pelo menos é dessa forma que eu enxergo hoje em dia, sem causar certos preconceitos que existem em nossa sociedade radical religiosa.
Por isso, acredito que muitos livros com essa temática são vendidos aos bilhões, despertam o imaginários das pessoas além de lhes dar um “passe livre” para a imersão.
Sem Harry Potter não teríamos tantas pessoas iludidas no poder da escolha, isso é considerado bom para a escritora? Além dela ter chupado tantas lendas e te-las modelado ao seu bel prazer e ter ganho dinheiro com isso? Ela está no caminho de ignorância e sinceramente quando um escritor escreve um romance ele possui essa escolha arcando com as consequências mas eu ainda acredito que quanto mais uma obra de arte se aproxima da convenção, mais ela “protege” e menos ela corrompe. Eu acho que é o dever da pessoa manter as tradições ou pelo menos não inventar ou criar certas irrealidades (acho q é a palavra mais adequada) para não criar mais contenda entra as comunidades. Sim, estou sendo um pouco radical no comentário, mas penso em como isso afeta a tradição de forma simplista, pois qualquer um hoje em dia acredita que pode abraçar qualquer caminho e dessa forma, ser superior as outras pessoas faltando o respeito pela diferença.de escolha. Acredito que críticas ajudam, mas são melhores se forem para solidificar a sí mesmo e não para enfraquecer os outros. Depois dessa recomendação eu já queria assistir o filme e agora mais do que nunca, irei faze-lo pois toda obra que agrega luz necessariamente não é aquela que fala somente do bem, mas dos fatos ruins que devemos encarar como mal.
Pessoal,
Assisti o Filme e fiquei competamente apaixonado pelo conteúdo, consegui identificar tudo que foi falado nos posts acima, mas ate então, nunca tinha ouvi falar em cabala e coisas do tipo, sinto uma enorme vontade de aprender mais coisas sobre o assunto e sinto que vai me acrecentar e preencher muitas duvidas que eu tenho, não só sobre religião mas sobre mim mesmo, sobre meu Deus interior, fiquei muito curioso e ate estou pesquisando sobre o assunto alguem pode me indicar artigos, livros, filmes e algo que possa me ajudar a entender um pouco mais?
Gostaria que me indicassem uma ordem das mais simples (inciante) ate as mais complexas para que possa aproveitar melhor.
Obrigado pela atenção
Thiago, dês uma olhada naquele ícone do Willy Wonka ali no topo da página, no canto esquerdo. Lá estão todos os textos iniciais do blog, para não pegar o bonde andando nas futuras postagens. Também podes ir no link “Bibliografia”, onde estão livros básicos sobre os assuntos que quiseres aprender mais!
Abraços!
Pax et lux!
O melhor de tudo é perceber que o ser humano existe para fazer todo o sentido da vida. Único ser pensante, forte e ao mesmo tempo fraco diante de um mundo ainda tão misterioso. Prefiro acreditar que somos guiados por um Deus imenso e criador ao crer na incerteza de que não passamos de matéria de origem nenhuma.
Assisti o filme, mas fiquei inquieta com o final. Eu sabia que não tinha entendido bem. Vim para a internet e achei o seu texto. Não conheço a Cabala, não sei quase nada do judaísmo, mas adorei suas explicações. Vou estudar mais sobre isso. E o filme ficou ainda mais colorido e instrutivo, digno de ser visto novamente, com novo olhar. Obrigada:)
Sensacional suas análises! Agora espero que você faça uma do Noé, hehehe!
AMEI!
O filme é bom mas nao gostei tanto assim. Penso que o filme diz que Deus é apenas uma crenca infantil e para sobreviver voce vai precisar de ser muito realista fazer coisas que voce é contra. mas que mesmo assim o ser humano precisa acreditar em algo maior do que ele mesmo.
Ao meu ver, ele contou a história substituindo as pessoas pelos animais, mas tenho a impressão que ele ficou no barco com os seres humanos. Mas tamanha crueldade pela sobrevivência o fez passar a história de uma maneira mais lúdica.
A cena da ilha flutuante seria chesed?
Não entendo muito de cabala mas é o meu chute.
É uma cena emblemática eu queria entender mais a natureza dual daquele lugar.
Havia alimento e água doce durante o dia mas a noite a ilha digeria os animais nela.
Nas palavras de Pi “Tudo o que a ilha dava de dia ela tirava durante a noite”