Arcano 8 – Teth – A Força


Hercules e o Leão, de Peter Paul Rubens

Uma mulher abre com as duas mãos as mandíbulas de um leão. É vista de três quartos e olha para a direita; o leão, por sua vez, está de perfil. A mão direita da mulher, está apoiada no focinho do leão, enquanto que a esquerda segura o maxilar inferior. O personagem veste uma saia azul e uma capa ou manto vermelho, com laterais de tamanhos diferentes, já que a da direita chega ao chão enquanto que a da esquerda não passa da cintura. Todas as partes visíveis de seu corpo estão representadas em cor carne; tem ainda um chapéu, cuja forma lembra o do Prestidigitador (O Mágico). Do leão, vê-se apenas a cabeça, a juba e as patas dianteiras. O fundo e o chão são incolores. Em algumas versões, a sandália da mulher, que surge debaixo da roda da saia, parece apoiar-se no ar“.

Significados simbólicos
Virtude. Coragem. Potência anímica. Integração harmoniosa das forças vitais.
Força moral, autodisciplina, controle

Interpretações usuais na cartomancia
Energia moral, calma, coragem. Espírito que domina a matéria. A inteligência que doma a brutalidade. Subjugação das paixões.
Lucro nos empreendimentos empresariais.
Mental: Esta carta traz uma grande agudeza para distinguir entre o verdadeiro e o falso, o útil e o inútil, e uma clareza precisa na avaliação.
Emocional: Domínio sobre as paixões, poder de conquista. Para uma mulher que está para se casar: conseguirá que sua personalidade não seja anulada pelo afeto que sente pelo marido. Proteção afetuosa.
Físico: Vontade para vencer os obstáculos, domínio da situação; faz valer seus legítimos direitos. Capacidade para tomar direção em todos os assuntos materiais.
Sentido negativo: A pessoa não é dona da sua força; é brutal, desatenta, deixa-se levar pelo poder em vez de utilizá-lo.Os fatos ou as pessoas o abatem; sua força será aniquilada, e será vítima de forças superiores. Impaciência.
Cólera, ardor incontido. Insensibilidade, crueldade.

Luta, guerra, conquista violenta. Operação cirúrgica. Veemência, discórdia. Incêndio.

História e iconografia
A Força, simbolizada pelo homem triunfante sobre os animais ou sobre a natureza, foi amplamente glorificada na literatura antiga e na arte medieval. No Antigo Testamento aparece a história de Sansão, e na mitologia greco-latina a saga dos trabalhos de Hércules. A batalha do herói com o leão de Neméia foi usada provavelmente como alegoria da força desde a antigüidade mais remota: nas escavações realizadas nos arredores de Tróia, encontrou-se um capacete do século VII a.C. com o desenho de um homem que abre com as mãos as mandíbulas de um leão. A Idade Média recorre com freqüência a esta imagem, como símbolo da força moral e espiritual, usando como protagonista Sansão ou então o Rei Davi.
No Tarô, porém, é uma mulher que representa a Força, na mais difundida alegoria do leão (versão de Rider Waite), incluindo as colunas (Tarô de Carlos VI). O antecedente mais ilustre desta transposição alegórica é a lenda de Cirene, a ninfa caçadora que envergonhou e seduziu o instável Apolo.
Píndaro conta de uma excursão do deus até o monte Pelion, na Tessália, para a qual ele teria partido formidavelmente bem armado, a fim de prevenir-se dos perigos que poderiam lhe acontecer em tão longa travessia; ali encontrou Cirene, que “sozinha e sem uma lança combatia um imenso leão…”
Embora o Arcano VIII seja uma ilustração perfeita desta lenda, não se encontra um só exemplo que a reproduza nos manuscritos medievais. Iconograficamente, a carta da Força seria assim uma das contribuições mais originais do Tarô.

Uma instrução curiosa, escrita na margem de uma página da Somme du Roi, manuscrito do ano 1295, orienta o pintor que iria ilustrar os textos. Embaixo do número 8, pode-se ler: “Aqui vai uma dama de pé que domina um leão. O nome da dama é Força”. Mas a miniatura nunca foi executada.
A dama serena e triunfante do Arcano VIII representa, assim, a culminação da via seca e racional inaugurada pelo Prestidigitador. Iconograficamente, liga-se a ele pela expressão corporal – de pé, em atitude de ação repousada e, fundamentalmente, pelo chapéu que segue no seu desenho o signo do infinito.

Um exercício curioso de “adição e redução mística” permite relacionar as quatro figuras femininas da primeira parte do Tarô. Com efeito: 3 (Imperatriz) + 8 (Força) = 11 (Justiça), que se reduz a: 11 = 1 + 1 = 2 (Sacerdotisa). Partindo da via seca (masculina) dos arcanos, este esquema feminino (úmido e intuitivo) se presta a múltiplas especulações combinatórias.
Alguns estudiosos vêem na Força uma clara alusão zodiacal: Leão vencido por Virgem, ou, o que dá no mesmo, o calor ardente, que corresponde à plenitude do verão, domado pela antecipação serena do outono (no hemisfério norte).

Neste sentido é preciso interpretar a parábola esotérica do Arcano VIII: o personagem não mata o leão, mas o doma; a sabedoria consiste em não desprezar o inferior, em não aniquilar o que é bestial, mas sim em utilizá-lo. Não é outro o resultado natural que se depreende da Grande Obra alquímica.

Por Constantino K. Riemma
http://www.clubedotaro.com.br/

@MDD – Obs: a imensa maioria dos tarólogos brasileiros, que nunca estudaram Kabbalah, atribuem errôneamente o Arcano da Força ao Arcano XI, por conta do Baralho de Marselha, o mais difundido aqui no Brasil. O Tarot Mitológico, segundo mais utilizado, não atribui números aos Arcanos em suas lâminas.

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