Alan Moore discute Ciência e Religião

“Mesmo que percamos tudo o que é físico, contanto que tenhamos a memória de como reconstruir não teremos perdido nada” é excelente dica para o fim do mundo”

Alan Moore anda aparecendo bastante. Depois de um longo monólogo recente em uma webcam, o quadrinista fez uma palestra no evento Novo Humanista – Ideias para pessoas sem deus (@MDD – enquanto isso, no Brasil, a palavra “humanista” está cada vez mais associada a “ateu babaca fanático” graças a “ligas” que se comportam como igrejas crentes).

Vestindo uma camiseta escrito “Sperm” (esperma), com a tipografia de “Superman”, o autor depois repetiu nos bastidores sua palestra sobre ciência e religião. Leia abaixo os melhores momentos e assista ao vídeo na sequência.

Moore começou citando algumas teorias sobre a nossa existência e o início da vida. “Há a teoria de que os universos se reproduzem e que o novo foi criado pelo canal uterino de um buraco negro. Também existe a ideia de que estamos vivendo em uma simulação computadorizada e que somos hologramas projetados do outro lado do espaço. São ideias em que alguns acreditam e que são tão estranhas hoje quando as nossas descobertas sobre o espaço seriam alguns séculos atrás”.

O criador de Watchmen disse também que sempre se impressiona com as teorias dos cientistas e sua imaginação. “Newton era um alquimista, que disse que era um pigmeu sobre os ombros de gigantes. Um deles era o doutor John Dee, que praticamente inventou o Império Britânico. Pessoas como essas eram os cientistas da época, ou filósofos naturais, cujo trabalho era mensurar o imensurável, ou imaginar o inimaginável. Esse trabalho continua até hoje, dividido entre cientistas e artistas”

O quadrinista continua dizendo que acredita que somos anfíbios, no sentido de termos vidas em dois espaços, o material e o imaterial, das ideias, que existe dentro de nossas mentes. “São ambos reais de sua própria maneira. Tudo o que é físico e criado pelo homem começou como um ideia, dentro da cabeça de alguém”. Mensagem importante, caso você esteja se preparando para o fim do mundo…

Moore termina o papo falando sobre o conflito entre ciência e racionalidade contra a religião. “A racionalidade está sob sitio, em sua maioria por fundamentalistas cristãos americanos. Eles preferem acreditar que Adão e Eva existiram em um tempo em que sabemos que os dinossauros caminhavam sobre a Terra. Isso é assustador. Tudo isso é conhecimento pelo qual lutamos tanto tempo e de forma tão difícil para obter… é um retorno ao abismo da Idade das Trevas. Informação é nosso bem mais precioso e se a perdermos estamos ferrados. Mesmo que percamos tudo o que é físico, contanto que tenhamos a memória de como reconstruir não teremos perdido nada. O problema é que isso aflige tanto os nossos cientistas que eles estão tomando posições que também beiram a religião para defendê-las. Etimologicamente, a palavra religião não tem nada a ver com espiritualidade, mas com união, ligação em torno de algo. Nesse sentido, o Marxismo é uma religião. As várias escolas da Física também o são. O problema é que as religiões, no sentido que conhecemos a palavra hoje, criam dogmas, que são limitações ao pensamento – e isso nunca é uma coisa boa”.

Em outro momento recente de Moore, ele deixou uma mensagem de “Feliz Ano Novo” para os ouvintes da BBC Radio 4. Leia abaixo (via Bleeding Cool). “Olá a todos. Meu nome é Alan Moore e eu ganho a vida criando histórias sobre coisas que nunca existiram. Quanto às minhas crenças espirituais, elas remontam a um deus-serpente com cabeça humana do século II chamadoGlycon, que foi revelada como sendo, na verdade, um boneco de ventríloquo, há quase dois mil anos. Encontrado em todo o Império Romano, Glycon foi a criação de um empresário conhecido como Alexander, o Falso Profeta, um nome terrível para se começar qualquer negócio. O boneco tinha corpo de jiboia de verdade, viva, e sua cabeça artificial tinha olhos grandes e um longo cabelo loiro. Glycon se parecia bastante, na verdade, com Paris Hilton, mas talvez mais adorável e com um corpo biologicamente mais verossímil. Visual à parte, meu interesse pelo deus-serpente é puramente simbólico. Na verdade, esse é um dos símbolos mais antigos da humanidade, que significa sabedoria, ou, de acordo com o etno-botânico Jeremy Narby, o próprio formato da espiral de DNA. Mas eu também estou interessado em ter um deus que é assumidamente um boneco de ventríloquo. Afinal de contas, não é assim que usamos a maioria das novas divindades? Podemos ler nossos livros sagrados e escolher uma passagem ambígua específica e uma interpretação em detrimento de outra e podemos fazer nossos deuses justificarem assim qualquer desejo imediato. Podemos fazê-los dizer o que quisermos. A maior vantagem de endeusar um boneco de meia de verdade e que, se as coisas começarem a fugir do controle, ou parecerem injustas, você pode jogá-lo na gaveta. E ele não tem opção a não ser ir para a gaveta. Bom, em nome de Glycon e eu, tenham todos um Ano Novo muito feliz”.

Fonte: Omelete

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Respostas de 24

  1. Sendo que egrégoras e pensamentos sem comportam como organismos, existe um ‘vírus’ que possa ‘adoece-los’? Ou é só deixar de alimenta-los?

    @MDD – Claro que existem. Virus, parasitas, simbioses… tudo o que você imaginar para a vida biológica tem correspondente no Plano das Idéias.

  2. Olá,

    Vejo um paralelo com Deleuze.

    “Tudo o que é físico e criado pelo homem começou como um ideia, dentro da cabeça de alguém.”

    Deleuze, contrário à ideia usual de descoberta na ciência e na filosofia, afirma que tanto a filosofia e a ciência quanto a arte são campos de invenção: o filósofo cria conceitos, o cientista cria teorias, o artista cria uma obra ao lidar com a matéria.

    E toda invenção viria de uma ideia, algo raro e precioso, que seu autor tem e será desdobrada de acordo com o campo que este domina.

    Entretanto, Deleuze é um filósofo da imanência, mesmo quando fala por exemplo sobre a potência da vida que passa por nós quando um artista ou escritor trabalha.

    A quem interessar, recomendo o Abecedário de Gilles Deleuze em video ou pdf.

    Abraço

  3. O último parágrafo é sensacional. Aliás, você falou dos ateus fanáticos, mas há um grupo pior, são os guerreiros virtuais anti-nom, um bando de perdedores que se preocupam em culpar algumas ordens, como a maçonaria, por tudo de ruim que há na Terra.
    Abraços, e só um pedido, volte a fazer posts históricos, são sempre ótimos.

  4. “Glycon se parecia bastante, na verdade, com Paris Hilton, mas talvez mais adorável e com um corpo biologicamente mais verossímil” kkkkkk
    O Moore é fera! Gosto da maneira que ele encara a realidade. Quanto ao “deus serpente”, referência direta à kundalini, não? E quanto às teorias de criação do universo, sempre me pego pensando nesta do buraco negro. Afinal, os buracos negros deste universo em que estamos, dizem os cientistas que eles absorvem tudo, até a luz, mas para onde vai tudo isto? Para o nada, afirmam categoricamente. Pode parecer ficção científica drogada, mas creio que o tão famoso big bang foi apenas o estourar de um buraco negro em outro universo… Não a origem de TUDO, mas deste universo em especial.

  5. esse é o pior e mais supersticioso site q já tive o desprazer de ler. acho q se vc tivesse vergonha na cara pularia da ponte. nao tem cacife pra criticar ninguem nao. Que Jesus salve todos vocês!

    @MDD – Se eu pular da ponte, Jesus vai me salvar? Tipo o Homem Aranha?

    1. Belo exemplo de “Cristianismo” que você está dando, Thais Camaro (se esse é seu nome verdadeiro, claro); incitando pessoas ao suicídio por pensarem diferente de você. Ou melhor, por pensarem, diferente de você.

    2. huahuauhauhuhauhahu,Pow MDD,agora não consigo mais parar de rir imaginando o Jesus cristo balançando nas teias com aquela túnica levantando e deixando o “santo graal” a mostra.
      Mandou bem,huauhauhauhauh

    3. Mais um belo exemplo de pessoas que se dizem cristãs…

      Nunca esqueço uma vez que meu sogro, passando por uma rodovia, teve que brecar de repente pois havia uma senhora, com vestimentas que a caracterizavam como crente do pessoal da assembléia de deus, simplesmente atravessar a estrada sem ao menos olhar direito. Diante da freada brusca, essa senhora (que estava totalmente errada) soltou a seguinte pérola: “Tomara que deus te mate!”

      E Thais Camaro acima é mais um belo exemplo disso…

  6. Moore é o cara. Ele exprime em suas histórias toda a filosofia hermética de forma quem SABE entender tem em mãos um grande fonte de conhecimento, e quem não sabe fica achando que é só mais uma histórinha em quadrinhos idiota… Isso sim é alquimia. o_O

  7. Hahaha essa “Jihad virtual” é uma comédia!

    Mas sendo um pouco off topic….Marcelo o que vc acha de criar um “botãozinho” ali no canto do site para quando o leitor quiser sortear um post para ler? Acho que ajudaria a tirar um pouco da “ferrugem dos posts antigos” e mantê-los sempre “novos” de certa forma hehehe

    O site possui uma quantidade imensa de informação e acredito que seria mais ou menos como aquela prática de abrir o dicionário em uma página qualquer e aprender uma palavra nova todo dia…mas com posts hehehe

    Acredito até que algumas vezes o “acaso” pode ajudar um leitor a achar exatamente o que precisava!

    De qualquer forma, só uma sugestão….

    @MDD – como que faz isso? eu colocaria sim, sem problema.

    1. Poderia separar todos os posts cronológicos em uma categoria, para que possamos ler com atenção, sem nos perdermos pelo caminho. Apesar de ser descrente, sou amante dos posts históricos, que relatam os prováveis acontecimentos visto de diversos pontos de vistas, desde as pirâmides do Egito, passando pelo nascimento de Cristo, a formação da Igreja Católica, as cruzadas, Rei Arthur…

  8. O que eu acho hilário é a capacidade de algumas pessoas de NÂO ENTENDEREM SARCASMO. Onde vamos parar?

  9. QUÁ QUÁ QUÁ QUÁ QUÁ QUÁ QQQUUUUUAAAAAAAAHHHH!!!! SNIF,SNIF,SNIF . O homem aranha num sei não mas o Chapolim Colorado quem sabe …..

  10. Trecho muito bacana de uma entrevista com o Moore em que ele fala sobre Ciência e o pensamento.

    ” I approach magic the same way that I approach writing – no one taught me how to do it, I just thought: let’s take a look at this from outside, see if I can figure it out and come up with my own approach from there. Y’know, magic is an art, so I approached it the same way I would any art.

    I mean, for me, the whole turning-point in my thinking about magic was when I realised that the only place this has to happen is inside your head. And that doesn’t mean it isn’t real. I think we have a problem in that we live in a materialist society – I don’t mean “everybody’s a bread-head, man”, I mean that we believe that the material world is the only one that’s important, the only one that exists. Despite the fact that believing that requires thinking, and science can’t actually explain how we think. It’s the ghost in the machine, forever outside the province of science. You can’t reproduce a thought in an empirical laboratory experiment, so you cannot properly talk about thought. Thought is a supernatural event which we all experience every minute of the day.

    The world of ideas is much more important than the material one. I mean, what’s more important, the reality of a chair or the idea of a chair? I’d say it looks like the physical world is actually predicated upon the intangible world of ideas and the mind. It looks like that’s the more important territory. Okay, so let’s treat it literally as a territory. There might be ways to explore it, ways since time immemorial that people have used to explore it. Drugs. Meditation. Some unpleasant ones like scourging and fasting, which never sound like much fun to me. Lots of ways that people have found over the years to get themselves deeper into this mental space.”

    Fonte: http://www.mustardweb.org/alanmoore/

  11. Se todos os seres humanos parassem de rezar ou de fazer atos religiosos, a longo prazo teria algum efeito ruim para as pessoas? Por quê precisa existir sacerdotes homenageando as mudanças que acontecem na natureza?

  12. Se todos os humanos parassem de fazer orações e etc, aconteceria algo ruim com a humanidade ou continuaria tudo igual?

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