Afinal de contas, de onde vêm as 72 virgens?

Supondo que a religião islâmica realmente assegure 72 virgens aos que morrem em nome de Alah, será que esta graça está reservada aos mártires ou é estendida a todos os fiéis que adentram o paraíso? E de onde vêm 72 mulheres virgens para cada homem do reino dos céus? São as almas das mulheres que morreram imaculadas que vão ao céu servir os mártires? Se não, o que reserva o céu às mulheres mártires? maridos perfeitos que nunca se esquecem de abaixar a tampa da privada? Pensando em todas estas questões decidi pesquisar um pouco mais sobre o paraíso islâmico.

Comecei pelo Alcorão. O livro máximo da religião islâmica não deixa dúvidas de que o paraíso islâmico é um lugar bastante sensual, mas nada é dito sobre a quantidade de virgens que aguarda os eleitos.

E se deitarão sobre leitos incrustados com pedras preciosas, frente a frente, onde lhes servirão jovens de frescores imortais com taças e jarras cheias de vinho que não lhes provocará dores de cabeça nem intoxicação, e frutas de sua predileção, e carne das aves que desejarem. E deles serão as huris [virgens] de olhos escuros, castas como pérolas bem guardadas, em recompensa por tudo quanto houverem feito. (…) Sabei que criamos as huris para eles, e as fizemos virgens, companheiras amorosas para os justos.”
Alcorão, surata 56, versículos 12-40.
(todas as traduções deste texto foram feitas a partir do inglês)

São inúmeras as passagens como esta que mencionam a existência no paraíso de jóias, criados jovens e cheirosos, vinho (uma extravagância, já que o islã proíbe consumir bebidas alcoólicas em vida), rios de leite, rios de mel, rios de água (que costuma ser coisa preciosa nos países muçulmanos), frutas abundantes e moçoilas virgens para fazer “companhia” aos justos… Comparado ao paraíso cristão, com seus anjos assexuados de aparência andrógina tocando harpa e entoando cânticos (quando não estão em missão para destruir alguma cidade ou coisa assim), o céu islâmico parece o Club Med dos paraísos.

Só que diferentemente da Bíblia, que é a única fonte autenticada pela Igreja das palavras de Deus, na religião islâmica o Alcorão é complementado pelos hadiths, uma coletânea de histórias sobre tudo o que supostamente disse ou fez o profeta Maomé durante sua vida, que circularam no boca a boca por mais de um século até serem redigidas em sua forma atual. É aí, nessa barafunda de textos, às vezes antagônicos, que vamos encontrar mais detalhes sobre o paraíso islâmico, incluindo o número de virgens com que os eleitos são agraciados:

“A menor recompensa para aqueles que se encontram no paraíso é um átrio com 80.000 servos e 72 esposas, sobre o qual repousa um domo decorado com pérolas, aquamarinas e rubis, tão largo quanto a distância entre Al-Jabiyyah (hoje na cidade de Damasco) e Sana’a (hoje o Iemem)”
Hadith 2687 (Livro de Sunan, volume IV).

Se esta é a menor recompensa que aguarda os felizardos no paraíso, então é certo que os servos e as virgens não foram parar lá por mérito. Quem sabe fossem candidatos ao inferno (não dizem que “é melhor reinar no inferno que servir no paraíso”?). No caso das virgens isto faria todo o sentido, já que a rotina delas no céu não é moleza; sobre isso escreveu Al-Suyuti, um renomado comentador do Alcorão e estudioso dos hadith, no século XV:

“Cada vez que se dorme com uma huri descobre-se que ela continua virgem. Além disso o pênis dos eleitos nunca amolece. A ereção é eterna. A sensação que se sente cada vez que se faz amor é mais do que deliciosa e se você a experimentasse neste mundo você desmaiaria. Cada escolhido se casa com setenta huris, além das mulheres com que se casou na terra, e todas têm sexos apetitosos.”

Para as virgens o paraíso islâmico é mais ou menos como uma versão pornô do mito de Prometheus (aquele do titã que tinha seu fígado devorado todos os dias por uma águia), só que é o hímen das jovens donzelas, e não o fígado do titã, que se regenera perpetuamente.

Se você tem uma ereção permanente e o resto da eternidade nas mãos algumas dezenas de virgens não devem bastar, por isso o paraíso islâmico conta ainda com um local que, cá embaixo seria chamado de “bordel”, mas que no paraíso islâmico chamam de “mercado”. Segundo os hadith, Maomé teria dito:

“Existe no paraíso um mercado onde não há compra ou venda, mas homens e mulheres. Quando um homem deseja uma mulher ele vai até lá e tem relações sexuais com ela.”
Al Hadis, Vol. 4, p. 172, No. 34

Os cristãos, a quem devemos a noção agostiniana de que o mundo físico é impuro, gostam muito de apontar o dedo na cara dos muçulmanos e dizer que o paraíso deles é “liberal” demais. Aí, é a vez dos muçulmanos dizerem aos cristãos que se eles querem mesmo falar sobre sacanagem em livros sagrados é bom que se lembrem que têm teto de vidro. É impressionante quanta energia é gasta na internet nesta troca de citações porno-sacras entre cristãos e muçulmanos; eu imagino que jovens beatos de ambas as religiões aprendam bastante sobre estupro, pedofilia e prostituição nestes sites.

Bem, na defesa dos muçulmanos é justo dizer que como os hadith foram escritos muito tempo depois da morte de Maomé, nem todos eles são considerados genuínos pelos estudiosos islâmicos (segundo eles, por exemplo, o trecho acima é falso). Só que mesmo as passagens consideradas verdadeiras podem ser bastante embaraçosas; em algumas delas o constrangimento dos tradutores fez com que a formosura das virgens fosse minguando até que seus detalhes anatômicos desaparecessem por completo. Eis um bom exemplo:

Versão 1 – por Arberry
Para os tementes aguardam um lugar seguro, jardins, vinhedos, donzelas de seios arredondados (maduros) e um copo transbordante de vinho.

Versão 2 – por Yusuf Ali
Para os justos haverá a satisfação dos desejos em seu coração, jardins e vinhedos, companheiras da mesma idade e um copo cheio de vinho.

Versão 3 – por Rashad Khalifa
Os justos merecerão uma recompensa. Jardins e uvas. Esposas magníficas. Drinques deliciosos.
Surah an-Naba’ (78:31-34)

Mas existe uma boa chance de que os tradutores islâmicos nunca mais precisem dissimular a exuberância das virgens. Um livro publicado recentemente na Alemanha e muito bem recebido pela comunidade científica, “Die Syro-Aramaische Lesart des Koran” (“Uma Leitura Sírio-Aramaica do Alcorão”), do professor de línguas antigas Christoph Luxenberg, defende a tese de que muita coisa faria mais sentido nos textos sagrados se os tradutores levassem em conta que o Alcorão não foi escrito apenas em árabe, mas num mix de antigos dialetos aramaicos. Por exemplo, a palavra “hur”, que em árabe quer dizer “virgem”, em sírio significa “branca”. Assim, segundo Luxenberg, as “castas huris de olhos castanhos” descritas no Alcorão seriam na verdade “uvas brancas secas” de “clareza cristalina”, uma iguaria bastante apreciada naquela época. Dá para imaginar a decepção dos mártires? Deve ser como comprar uma passagem para um cruzeiro de solteiros e ao embarcar descobrir que não vai ter mulher…

No final o problema das virgens vai ser resolvido com a troca de uma única palavrinha. Nenhum candidato a homem-bomba vai ficar mesmo muito entusiasmado em abandonar esta vida quando souber que sua recompensa por morrer abraçado em dinamite será um suprimento vitalício de passas.

Mas é claro que esta não deveria ser a solução. A continuidade da civilização como a conhecemos não deveria depender da tradução de uma palavra num livro sagrado, ou de distinguir o que de fato disse um homem denominado profeta das fantasias eróticas de um bando de velhos babões. Melhor seria se não houvesse pessoas no mundo dispostas a acreditar literalmente em histórias escritas há milhares de anos, numa época em que a maioria das pessoas sabia tanto sobre o mundo natural quanto provavelmente sabe hoje uma criança da sétima série, e tinha os mesmos temores e superstições infantis de uma criança da quinta série.

Retirado de: http://dragaodagaragem.blogspot.com/

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Respostas de 5

  1. Mas e ae, tio? Será que as ordens herméticas nao podem, mesmo com uma trabalheira desgracenta, ajudar a parar essa mundiça, do mesmo jeito que ajudaram a minguar as investidas cristitas (pelo menos eles nao queimam mais os adeptos com suporte legal, embora vontade nao falte… basta ver os comentarios em qualquer video sobre a Maçonaria no Youtube)? Nao sei como estao os movimentos no astral em relaçao a isso, mas temo que nosso futuro seja acabar como os cátaros, com um bando de crentes brigando com os muslims e os “nao alinhados” no meio do fogo cruzado…

  2. Mais uma da série, problemas de tradução e suas consequências.

    “Melhor seria se não houvesse pessoas no mundo dispostas a acreditar literalmente em histórias escritas há milhares de anos…”; não consigo entender o que se passa na cabeça dessas pessoas, aceitam tudo não questionam nada, esse tipo de comportamento está muito além do que eu compreendo.
    Gostaria de saber o que falta neles, ou o que sobra, a ponto de perseguir, torturar e matar quem considerarem impuros.

    @MDD – lavagem cerebral desde a mais tenra idade. Não falha nunca 🙁

  3. Visitei o site do autor e não gostei. Só mentes quadradas. O mais engraçado é um site cheio de cientistas e método cientifico blá blá blá, génios da NASA e Einsteins da Vida se chame “dragão da Garagem. Cuidado, tem uma criatura mitológica no seu blog que qualquer dia, comprovado cientificamente, pode deitar fogo pela boca e incendiar os posts todos.hahaha.

    @MDD – Eles costumam ser quadrados mesmo… eu mesmo acho que se não tivesse me metido a ir estudar os terreiros e os rituais e examinado a fundo toda a ritualistica dentro do hermetismo, principalmente nos terreiros e centros espíritas, provavelmente seria um ateu bem parecido com eles. E isso foi o caso de muita gente que lê o blog. O ceticismo é uma qualidade importantissima dentro de um mago, caso contrário a chance de cair pra virar um mistico ou esquisoterico sem discernimento é muito grande… por outro lado, muitos ateus quando começam a estudar kabbalah e pesquisar de verdade como funciona o fenomeno de incorporação mudam de postura, pois a ciencia atual não oferece respostas para muitas coisas que vemos nestes estudos de hermetismo… o duro é quando a pessoa fica sendo ateu por teimosia e desiste de estudar, ficando no comodismo… ai não fica muito diferente de um evangelico fanatico.

  4. Complementando o texto, do blog Misticismo Islâmico:
    As Virgens do Paraíso (HUR)
    A palavra hur ocorre quatro vezes no Corão (44:54, 52:20, 55:72 e 56:22), três das quais aparecem em conexão com o adjetivo (cantar. Ayna Feminino, a’yan masculino), significando o branco dos olhos com uma pupila profundamente escura. É um plural de Ahwar (aplicada a um homem) e de Haura (aplicado a uma mulher), significando alguém tendo os olhos caracterizados pela qualidade denominada Hawar. A palavra Hawar significa originalmente brancura (um símbolo de pureza), e a palavra Haura é aplicada a uma mulher que é de uma cor branca e cujo branco dos olhos está intensamente branco e o negro intensamente negro. Ahwar, além de ser aplicada a um homem de uma descrição semelhante, também significa intelecto puro ou claro. Na verdade, a pureza é a ideia que prevalece na Hawar, e, por conseguinte, Hawar, que é derivada da mesma raiz, significa alguém puro e um amigo leal. Assim, “os puros” é a prestação mais próxima da palavra hur em português. A palavra entrou na Europa através do singular persa (Huri ou Huri Beheshti) e o huree turco.

    As quatro ocasiões em que as mulheres do paraíso são mencionadas como hur são citadas a seguir:
    “Todavia, os tementes estarão em lugar seguro, entre jardins e mananciais. estir-se-ão de tafetá e brocado, recostados frente a frente, Assim será! E os casaremos com huris de maravilhosos olhos.”(44: 51-54)

    ” Quanto aos tementes (a Deus), viverão em jardins e em felicidade. Gozando daquilo com que o seu Senhor os houver agraciado; e o seu Senhor os preservará do suplício infernal. (Ser-lhes-á dito): Comei e bebei, com proveito, pelo que (de bom) fizestes! Estarão recostados sobre leitos enfileirados e os casarmos com huris, de olhos maravilhosos.” (52: 17-20)

    “Neles haverá beldades inocentes, Assim, pois, quais das mercês do vosso Senhor desagradeceis? Assim, pois, quais das mercês do vosso Senhor desagradeceis?”(55: 70-72 ) e “E o dos primeiros (crentes) – E quem são os primeiros (crentes)? Estes serão os mais próximos de Deus…..Nos jardins do prazer……… Onde lhes servirão jovens (de frescores) imortais. ……… Em companhia de huris, de cândidos olhares, Semelhantes a pérolas bem guardadas. Em recompensa por tudo quanto houverem feito.”(56: 10-24).

    Em outros três versos (37: 48-9, 38:52, 55:56), as virgens paradisíacas são descritas como qasirat al-tarfi (de olhares modestos). Em todos os sete versículos as virgens do Paraíso são prometidas como uma recompensa para os fiéis e sinceros servos de Deus tementes a Deus. Em duas ocasiões o verbo “casar” é usado; “E o casaremos com huris” (inin bi-Hurin) (44:54, 52:20). Das virgens paradisíacas, é descrito “jamais foram tocadas por homem ou gênio” (55:56); onde (em árabe) lam yatmithhunna significa ainda não defloradas; elas são como pérolas bem guardadas (56:23), e muito bem guardadas em pavilhões (55:72).

    Hur são as mulheres que vão para o paraíso, as esposas dos justos? Uma dica para este efeito é dada em um tradição (hadith). A última das ocasiões em que o hur é mencionada é da surata 56: 10-24, e na continuação do assunto ocorrem as palavras: “Sabei que criamos, para eles, uma (nova) espécie de criaturas. Amantíssimas, da mesma idade. Para os que estiverem à direita”(56: 35-38). Em conexão com isso, criamos “para eles, uma (nova) espécie”, foi relatado que o Profeta havia dito, que essas são as mulheres que envelheceram. O significado, portanto, é que todas as boas mulheres serão uma nova espécie de criaturas na nova vida na ressurreição, de modo que todas elas devem ser virgens, iguais em idade. A explicação do Profeta mostra que a palavra hur é usada para descrever a nova espécie em que as mulheres deste mundo serão de criaturas. Uma anedota também é relatada que uma mulher velha veio ao Profeta quando ele estava sentado com seus companheiros, e perguntou-lhe se ela iria para o paraíso. Num espírito de alegria, o Profeta comentou que não haveria velha no paraíso. Ela estava prestes a afastar-se um pouco tristemente, quando o Profeta consolou-a com as palavras que todas as mulheres se tornarão uma nova espécie de criaturas, de modo que não haverá velha no paraíso, e recitou os versos citados acima.

    A conclusão a que este hadith leva é ainda apoiada por aquilo que é afirmado no Alcorão. A descrição de hur, como dada no Alcorão, contém as melhores qualidades de uma boa mulher, pureza de caráter, beleza, aparência jovem, belos olhares e amor pelo marido. Mas mesmo que hur seja tomada por ser uma bênção do paraíso, e não as mulheres deste mundo material, é uma bênção, bem como para os homens como para as mulheres. Assim como os jardins, rios, leite, mel, frutas e inúmeras outras coisas do paraíso são tanto para homens e mulheres, mesmo assim são hur. O que essas bênçãos são, na verdade, ninguém sabe, mas toda a imagem do paraíso desenhada no Alcorão condena veementemente a associação de qualquer ideia com ela ao sensual. No entanto, pode-se perguntar, por que essas bênçãos descritas em palavras que se aplicam a mulheres? O fato é que a recompensa que se fala aqui tem referência especial para a pureza e a beleza do caráter, e se houver um emblema da pureza e beleza, é a feminilidade e a não masculinidade.

    http://misticismoislamico.blogspot.com.br/2015/12/as-virgens-do-paraiso-hur.html

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