A base de Thelema é a Vontade (que, em grego, é exatamente “Thelema”). Os mandamentos “Faze o que tu queres deverá ser o todo da Lei” (Liber AL I: 40) e “Não existe lei além de ‘Faze o que tu queres’” (Liber AL III: 60) são muitas vezes distinguíveis do frequentemente mal compreendido e mal traduzido “Faça o que quiser”. Por que “Faze o que você tu queres” é diferente de “Faça o que der na telha?”(NT da tradução: esse é um jogo com as palavras Will e want, a partir daqui será escrito como “que der na telha”) e seriam eles semelhantes em alguns aspectos? Sobre este ponto, podemos examinar os aspectos positivos e negativos de Thelema/Vontade, conquanto positivo signifique afirmar e negativo signifique negar.
O aspecto negativo de “Faça o que tu queres”
O aspecto negativo de “Faça o que tu queres” e de Thelema /Vontade em geral se refere a esses princípios e sugestões aos quais podemos responder com um “Não” ou negativamente. A ideia principal para a qual Thelema diz “Não” é para a ideia de uma moralidade absoluta, vinculativa e qualquer tipo de declaração moral. Nesse sentido, “Faze o que tu queres” é quase idêntico a “Faça o que der na telha”, porque ambos negam os pronunciamentos que se parecem com “Você poderia/deveria fazer isso ou aquilo” e [que] são irrelevantes para nossas preocupações. Isto é explicado sucintamente por Crowley quando [ele] afirma:
– “A fórmula desta lei é: Faze o que tu queres. Seu aspecto moral é bastante simples em teoria. Faze o que tu queres não significa Faça o que desejas, embora implique este grau de emancipação, que não é mais possível dizer a priori que uma determinada ação é ‘errada’. Cada homem tem o direito – e um direito absoluto – de realizar sua Verdadeira Vontade.” Aleister Crowley, “O Método de Thelema”
Aqui Crowley afirma que “Faze o que tu queres” implica o mesmo grau de emancipação de “Faça o que der na telha”, na medida em que “não é mais possível dizer a priori que uma determinada ação é ‘errada’”. É o cerne do “aspecto negativo” de Thelema/Vontade – que não se pode argumentar contra uma determinada ação como ruim, má, não útil, impura, etc. Crowley afirma também:
“Não há ‘padrões de Direito’. A ética é um disparate. Cada Estrela deve seguir em sua órbita. Ao inferno com o “Princípio moral”, não existe tal coisa; isso é uma ilusão de rebanho, e faz dos homens gado.” Aleister Crowley, A lei é para todos, II: 28
Novamente, “não há ‘padrões de Direito’” ou “errado e “cada Estrela deve seguir em sua órbita”. O fato de não haver padrões objetivos e externos nos permite com segurança fazermos a nossa Vontade. Mas isso nos leva ao “aspecto positivo” de Thelema/Vontade: Qual é a nossa Vontade? Qual é exatamente a nossa “órbita” particular como uma estrela no Corpo do Espaço Infinito?
O aspecto positivo de “Faze o que tu queres”
Na medida em que a moral e o dogma são um fardo sobre o livre exercício da própria Vontade individual e única, eles são restrições, e “a palavra do Pecado é Restrição” (Liber AL I: 41). A isso podemos acrescentar os “cães da Razão” com suas perguntas de “Porquê” e “Porque” dado que a Vontade é supra-racional e não para ser limitado por eles [questionamentos de razão]. Mais uma vez, a questão premente uma vez descartadas as correntes de restrição em suas muitas formas é “Qual é a minha Vontade?” Isto se refere ao aspecto da Vontade para o qual podemos dizer “Sim”…
O comando mais sucinto neste “aspecto positivo” é aquele antigo aforismo e comando para “Conhece-te a ti mesmo”. É aqui que “Faze o que tu queres” se separa e é superior à simples noção de “Faça o que der na telha” ou “Faça o que quiser”. A maioria das pessoas nem sabe o que eles realmente querem – sua Vontade real – e isso requer um intenso e contínuo processo de exploração e introspecção. Tradicionalmente, isso é feito pelos métodos de Magia e Yoga em Thelema. Isso nos permite não só controlar o nosso corpo e mente, mas também explorar as regiões ocultas e expandir ao máximo a compreensão de nós mesmos . Como Crowley diz no ensaio “On Thelema”: “O valor de qualquer ser é determinado pela quantidade e qualidade daquelas partes do universo que tenha descoberto e que, portanto, compõem sua esfera de experiência. Ele cresce estendendo essa experiência, ampliando, por assim dizer, essa esfera”. Portanto, devemos usar a Magia, o Yoga e quaisquer métodos que temos Vontade para explorarmos a nós mesmos e, assim, manifestar nossas Vontades mais plena, livre, pura e perfeitamente.
Com estas considerações tanto dos aspectos negativos quanto dos positivos de Thelema/Vontade, podemos entender a proclamação do Mestre Therion quando ele diz:
“A partir [destas considerações] deve ter ficado claro que “Faze o que tu queres” não significa “Faça o que você desejar”. Ela é a apoteose da Liberdade; mas é também o vínculo mais restrito possível. Faze o que tu queres — e então não faça nada mais. Não permita que nada te desvie daquela tarefa austera e santa. A Liberdade é absoluta para fazer a tua vontade; mas busque fazer qualquer outra coisa, e instantaneamente os obstáculos surgirão. Todo ato que não esteja dentro do curso definido daquela órbita é errático, um impedimento. Vontade não pode ser duas, mas só uma” – Aleister Crowley, Liber II:The Message of the Master Therion
Amor é a Lei Amor sob vontade
Link original: https://iao131.com/2010/07/14/the-positive-and-negative-aspects-of-the-will-in-thelema/
Tradução: Mago Implacável
Revisão: Maga Patalógica
Respostas de 5
Interessante, por acaso o autor quer dizer que se você quiser realizar uma determinada atividade e muitas dificuldades surgirem então devemos interpretar isso como um “desvio de rota da Verdadeira Vontade”?
Será que entendi bem? E mais, como saber se é apenas um “desvio de rota” ou um obstáculo que realmente deve ser superado?
Exatamente o que pensei! Quem puder explicar isso, por favor o faça!
fico feliz em saber que alguns homens como Crowley, mesmo sendo poucos, perceberam que ética e moral são ilusões, grilhões da mente
Acredito que os obstáculos no sentido do caminho da Verdadeira Vontade (ordálias) e os obstáculos no sentido do desvio de rota são muito diferentes, vou citar um exemplo:
Se voce quer ser advogado as ordálias serão os desafios no caminho até se tornar um, mas se isso for fora de sua orbita você nem mesmo conseguirá se formar, ou talvez nem iniciar a faculdade. Isso é apenas um exemplo e acredito que seja algo nesse sentido.
O que eu não entendi do “faça o que tu queres” é: e se o que você quer pode prejudicar outra pessoa (ou não ser a vontade dela também, algo mútuo)? Como proceder?