A Metafísica do Amor e outras reflexões, de Schopenhauer

As Edições Textos para Reflexão têm o prazer de anunciar esta edição de trechos selecionados da obra de um dos maiores filósofos do Ocidente, Arthur Schopenhauer.

Schopenhauer encontrou nas tradições do hinduísmo, do budismo, e até mesmo do misticismo cristão, o caminho possível para vencer Maya, representação ilusória e impermanente do mundo, e nos voltarmos para a Eternidade, um pensamento de cada vez. É isto que pode ser desvendado em A Metafísica do Amor e outras reflexões. Você já pode começar a ler em poucos minutos, pelo preço de um café:

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À seguir, trazemos o prefácio da edição, por Rafael Arrais:

“O mundo é a minha representação. – Esta preposição é uma verdade para todo ser vivo e pensante, embora só no homem chegue a se transformar em conhecimento abstrato e refletido. A partir do momento em que é capaz de o levar a tal estado, pode se dizer que nele nasceu o espírito filosófico.
Possui então a inteira certeza de não conhecer nem um sol nem uma terra, mas tão somente olhos que contemplam este sol, mãos que acariciam esta terra; numa palavra, ele sabe que o mundo que o cerca existe apenas como representação, na sua relação com um ser que o perceber, que é o homem ele mesmo.
[…] Nenhuma verdade é portanto mais certa, mais absoluta, mais evidente do que esta: tudo o que existe, existe para o pensamento, isto é, o universo inteiro é tão somente um objeto em relação a um sujeito, apenas percepção, em relação a um espírito que o percebe. Ou seja, é pura representação.
Esta lei naturalmente se aplica a todo o presente, a todo o passado e a todo o futuro, tanto àquilo que está longe como ao que está próximo de nós, visto que ela também é verdadeira para o próprio tempo e o próprio espaço, graças aos quais as representações particulares se distanciam umas das outras.
Tudo o que o mundo encerra ou pode encerrar depende necessariamente do sujeito que o percebe, e existe exclusivamente para tal. Assim, o mundo é representação.”

Apesar de haver muitas vezes dialogado com o velho Platão e com o seu conterrâneo e predecessor na linhagem dos grandes filósofos alemães, Immanuel Kant, foi na sabedoria oriental que Arthur Schopenhauer encontrou sua fonte eterna – mais precisamente nos Vedas hindus, e no Bhagavad Gita, o ápice de toda a sua filosofia.
Não é o que a Academia gosta de lembrar, mas toda a obra de Schopenhauer, a começar pela sua obra-prima, O mundo como vontade e representação (do qual tiramos o trecho inicial deste prefácio), é nada mais do que um comentário dos Vedas, e em diversas passagens o autor não lhes economiza elogios.
Se o mundo é nossa representação, o mundo nada mais é do que Maya – a ilusão, a transitoriedade e a impermanência são, portanto, suas características primordiais. Neste mundo cheio de desejos que de fato nunca serão totalmente satisfeitos, tudo o que podemos experimentar é a dor e a angústia de uma grande insatisfação, um vazio no peito, uma sensação estranha de que nada tem realmente um sentido de ser. Foi por conclusões assim que Schopenhauer foi chamado de “o filósofo do pessimismo”.
No entanto, há também a Vontade, a “coisa em si”, a essência da realidade, a ânsia da vida por si mesma (como chamaria mais tarde o poeta Khalil Gibran). Perto dela, somos como marionetes, a cumprir o seu maior e mais grandioso objetivo: perpetuar a vida!
Para o pensador alemão, tudo o que fazemos em Maya é executar a vontade da própria vida de se reproduzir, e reproduzir, e reproduzir, infatigavelmente… No fundo, somos todos como espelhos apontados para uma só Vontade, comandados pelo instinto, e por conta de nossa razão e intuição empoeiradas, incapazes de observar e refletir a sua luz sagrada.
Schopenhauer encontrou nas tradições do hinduísmo, do budismo, e até mesmo do misticismo cristão, o caminho possível para vencer esta representação ilusória e impermanente, e nos voltarmos para a Eternidade, um pensamento de cada vez.
A grande questão é que, apesar de seus extraordinários esforços, o filósofo ainda foi limitado pelas palavras, pela linguagem, pela racionalidade tão comum no Ocidente. Assim, talvez tenham sido poucos os que chegaram a compreender que o seu pessimismo era antes um chamamento, um incentivo a que nós mesmos nos arriscássemos também a abandonar Maya, rumo ao Nirvana, rumo a Vontade, rumo ao que em realidade existe, sempre existiu e sempre há de existir.
Mas isso ainda seria filosofia? Não sei bem. Fato é que Schopenhauer tampouco esteve preocupado com tais classificações. No fim das contas tudo pode ser resumido em algumas poucas reflexões:

O mundo é a minha representação, mas é possível transcender esta representação? E, em sendo, é possível descrever tal transcendência com palavras? Em suma, é possível relatar a face da Eternidade?

Talvez tais perguntas só possam mesmo ser respondidas pelo ser que se aventura neste caminho. E se forem de fato respondidas, temo que só mesmo ele, o caminhante, consiga compreender as respostas.
Então não custa nada tentarmos seguir neste caminho também. Talvez esta leitura, de trechos selecionados das grandes obras de Schopenhauer, O mundo como vontade e representação e Parerga e Paralipomena, seja já um vigoroso primeiro passo, ou quem sabe mais um proveitoso material de consulta para os aventureiros.

Boa viagem!

O editor.

 

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