Como muitos devem saber, eu não entendo nada de política, nem me interesso muito por ela. Talvez exatamente por isso os analistas queiram ouvir um pouco do que eu tenho a dizer sobre a Primavera…
Primeiramente há a questão polêmica da “direita vs. esquerda”. Lhes digo que o cartaz mais interessante que vi na última semana de movimentos nas ruas dizia assim: “Esquerda? Direita? Eu quero é ir para frente!”. Isto não é algo que se limita ao Brasil; mesmo na Primavera da Espanha e da Turquia vimos manifestações parecidas de quase toda a juventude. Dizem que a juventude é apolítica porque não se alinha nem a “esquerda” nem a “direita”, será mesmo?
Segundo Denis Russo Burgierman, diretor de redação da Superinteressante e ativista pró-descriminalização de certas drogas, “esquerdo-direitistas são pessoas que acreditam que todo o bem que existe no mundo provém de apenas uma fonte. Há dois tipos de esquerdo-direitistas – aqueles que acham que a fonte de todo o bem é o Mercado e aqueles que acham que é o Estado. A estes chamamos esquerdistas, aqueles são os direitistas”. Pois bem, eu chamo a ambos de esquerdo-direitistas, pois que são apenas dois lados de uma mesma moeda, dois pontos extremos que ainda insistem numa espécie de maniqueísmo (“bem vs. mal”) que inexiste na Política.
De Política, com “P” maiúsculo, eu até acho que entendo alguma coisa. Desde que surgiu a Democracia na Antiguidade, sua essência se baseou exatamente num debate público que busca não a unanimidade de opiniões, mas a busca do entendimento e da reconciliação dos opostos em prol de uma certa ordem e uma certa direção conjunta a ser seguida pela Nação. Dessa forma, a Política existe não para que todos concordem em tudo, mas para que convivam em harmonia apesar de suas discordâncias.
É por isso que todo o extremista é anti-Político a priori. Ele não busca a Política para um entendimento, mas busca a política para a supressão das opiniões contrárias, custe o que custar… São os extremistas que devem ser combatidos e reeducados na medida do possível, pois foi através deles que surgiram regimes autoritários de “esquerda” e de “direita”, ainda que pudessem se auto intitular democráticos. Mas a Democracia só existe na Política, e não na política.
Você pode achar que o Brasil é uma Democracia, mas eu não posso concordar inteiramente com isso. Não tem nada a ver com o fato de termos o PT no governo – o PT não é o único culpado pelo que foi feito na política brasileira, mas talvez se arrependa amargamente pelo que deixou de fazer. Eu explico: numa Democracia, deve valer a máxima “1 pessoa, 1 voto”. No entanto, o que temos no Brasil e em diversos países que se dizem democráticos é uma outra máxima que nos contaminou desde meados do século passado: “X reais, 1 voto” (ou “X dólares, 1 voto”; “X euros, 1 voto”; etc).
Não estou querendo dizer que no nosso país exista compra direta de votos, mas sim indireta. O voto é obrigatório e qualquer partido para ter alguma chance de chegar ao poder precisa gastar milhões em gigantescas campanhas de marketing. O que isto tudo tem a ver com Política? Quase nada… Isto tudo tem a ver com algo que chamo, na falta de um nome melhor, “negócio eleitoral”.
Afinal, não se enganem, nenhuma empreiteira, nenhum banco, nenhuma multinacional financia um partido por ideologia, nem muito menos para melhorar a qualidade da educação e da saúde de um país. Eles fazem um investimento de risco, a médio e longo prazo. Alguns até conseguem eliminar todo o risco do investimento, ao investir em todos os partidos com chance de chegar ao poder. A última vez que um Político teve alguma chance de se eleger para um cargo majoritário com uma campanha financiada por pessoas físicas, e não jurídicas (ou seja, grandes empresas), foi na última eleição para a prefeitura do Rio de Janeiro, em 2012. Não por acaso, o candidato do PSOL foi massacrado pelos “marketeiros” tanto da “esquerda” quanto da “direita”. Isto não quer dizer que ele seja um santo messias, quer dizer apenas que era o único que realmente tinha uma ideologia não comprada!
Então não é a toa que os que entendem alguma coisa de Política defendem uma Reforma Política urgente no Brasil, com financiamento público e exclusivo de campanhas, sem voto obrigatório, etc. Assim teremos a chance de ver diversos Políticos com suas ideologias próprias (e não compradas pelas empreiteiras) se candidatando e tendo chances reais de vencer eleições. Assim teremos, eventualmente, o ressurgimento da Política e da Democracia neste país.
E isto ainda seria só o primeiro passo… Com o ressurgimento da Democracia, então tanto a Esquerda quanto a Direita, tanto os defensores do Estado quanto os defensores do Mercado, poderiam debater e chegar a concordâncias possíveis para o nosso avanço sempre à frente. Isto seria muito mais saudável para o debate público do que o “combate a corrupção” (os únicos que são favoráveis a corrupção são os próprios corruptos, então de que vale defender o óbvio?).
Pois um Mercado totalmente livre, sem nenhuma regulamentação e intervenção do Estado, descamba para uma sociedade extremamente consumista (que pode eventualmente consumir tantos recursos naturais, que a própria espécie humana se veja ameaçada [1]) e para períodos de crises e “estouros de bolhas especulativas” na economia (sendo que os banqueiros jamais pagam a conta, exceto talvez na Islândia). Da mesma forma, um Estado totalmente controlador do Mercado, longe de corresponder a teoria de Marx, na prática tem descambado mais para uma espécie bizarra de “feudalismo moderno” (embora ainda existam todos os tipos de lendas acerca de como “o Comunismo na verdade deu certo”).
É por isso que devemos agradecer esta Primavera. Se vamos citar um trecho do nosso hino nacional, que seja antes este: “E o Sol da Liberdade, em raios fúlgidos, brilhou no céu da Pária nesse instante”. Afinal, ninguém parece ter compreendido e resumido melhor o sentimento e o sentido de esperança trazido pelos jovens da Mansão do Amanhã do que Eduardo Galeano. Foi numa breve entrevista dada aos jovens espanhóis na praça Catalunya que ele deu a mais profunda declaração Política deste início de século, e é com ela que eu encerro este artigo:
Aqui vejo reencontro, energia de dignidade e entusiasmo. O entusiasmo vem de uma palavra grega que significa “ter os deuses dentro”. E toda vez que vejo que os deuses estão dentro de uma pessoa, ou de muitas, ou de coisas, ou da Natureza, eu digo para mim mesmo: “Isto é o que faltava para me convencer de que viver vale a pena”.
Então estou muito contente de estar aqui, porque é o testemunho de que viver vale a pena. E que viver está muito, muito mais além das mesquinharias da realidade política e da realidade individual, onde só se pode “ganhar ou perder” na vida! E isso importa pouco em relação com esse outro mundo que te aguarda. Esse outro mundo possível.
Este mundo de merda está grávido de um outro!
O mundo a espera de nascer é diferente, e de parto complicado. Mas com certeza pulsa no mundo em que estamos. O mundo que “pode ser” pulsando no mundo que “é”. Eu o reconheço nessas manifestações espontâneas, como as desta praça.
Alguns me perguntam “o que vai acontecer?”; “e depois, o que vai ser?”. Pela minha experiência, eu respondo: “Não sei o que vai acontecer… Não me importa o que vai acontecer, mas o que está acontecendo!”. Me importa o tempo que “é”.
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[1] Se todo o mundo tivesse os padrões de consumo dos EUA (do início deste século), precisaríamos de uns 3,5 planetas para dar conta da demanda por recursos naturais. Dizem que o equilíbrio do consumo sustentável demandaria que todo o globo tivesse os padrões de consumo aproximados da Paris da década de 60. Nada mal.
Crédito da imagem: Google Image Search + Gibran + raph
O Textos para Reflexão é um blog que fala sobre espiritualidade, filosofia, ciência e religião. Da autoria de Rafael Arrais (raph.com.br). Também faz parte do Projeto Mayhem.
Ad infinitum
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Respostas de 12
“Lincoln dizia que a verdadeira democracia consiste em que “O poder tem que ser do povo, para o povo e pelo povo”, e o governante deverá não apenas ser eleito pelo povo, mas trabalhar para a população. Os altíssimos ideais da verdadeira democracia na América nascente é que levaram os Estados Unidos ao enorme desenvolvimento que teve, e a decadência da nação veio quando o poder econômico-financeiro limitou e impediu as bases democráticas de funcionamento do país, através da especulação, trusts, cartéis, controle da mídia, lobbies etc. Isso levou ao artificialismo em que o ser humano atual vive, que o leva ao estresse, por ser obrigado a ter uma existência contra a vida, a natureza e o bem. Thomas Jefferson, que redigiu grande parte da Constituição Americana, teve muitos cuidados em limitar o poder e garantir a liberdade de consciência: “A Escola e a Imprensa têm de ser livres para evitar a corrupção e a decadência da nação”. Ele percebeu que se a pessoa que galga o poder for muito desequilibrada causará enorme estrago à nação, por dar total vazão a sua patologia.” – Seria a busca do Poder uma patologia ? Igual uma droga ? http://www.youtube.com/watch?v=VwKmuwkaih0
@raph – Pois é, mas pior do que a busca pelo poder de um indivíduo é uma multinacional seguindo aos “algoritmos de lucro”. Uma multinacional não é uma pessoa com uma consciência, mas um sistema de regras não naturais que visam o maior lucro possível. O ser humano não sobreviverá muito tempo num sistema econômico onde multinacionais tem o poder de fato, enquanto os governos tem um poder ilusório (até mesmo porque são financiados pelas empresas e devem dividendos a elas). É por isso que o “grande negócio eleitoral” precisa acabar. Só assim mudaremos de fato o sistema inteiro, com o tempo… A infância do sistema capitalista moderno foi de fato um grande benefício para o ser humano, mas a corrupção de sua maioridade pode decretar não somente uma “volta atrás” na economia dos países, mas o próprio fim do ser humano.
o fim do ser humano? não somos tão poderosos assim…
pra que isto acontecesse, seria necessário explodir o universo – melhor dizendo, todos.
os EUA de hoje são o filho pródigo dos “founding fathers”.
E sim, tudo que é extremo tende a ser patológico. E muitas coisas viciam mais que a maioria das drogas: sexo, sal, açucar, trabalho, riqueza, videogame, violência, inveja, fofoca, facebook, punheta, sei lá…
mas calma que tá tudo indo da forma como foi planejado lá nos confins do eterno.
@raph – A questão é que o padrão de vida dos EUA consome tantos recursos naturais que, se todo o mundo tivesse o mesmo padrão, seriam necessárias 3 planetas e meio para dar conta da demanda. Já exploramos metade do Petróleo existente na Terra, e a outra metade deve durar no máximo mais uns 60 a 70 anos. Usufruímos de recursos finitos como se fossem infinitos… Até as fontes de água do planeta estão todas nas mãos de multinacionais (a Nestlé tem várias aqui no Brasil); todos estão se garantindo por conta da inevitabilidade da crise, mas quanto antes mudarmos nossa consciência, menos iremos sofrer mais adiante…
bom, até aí tudo bem. só quis atentar para o fato de que não somos tão únicos nem tão especiais assim, mesmo porque se deus apostasse todas as suas fichas numa humanidade, e fosse justamente essa que vivemos… bem, ele não seria tão deus assim aheuhaeuhauehuaheuhaeu
e como diria kristos, a morte só existe pra quem é cego de coração. up we go!
@raph – Claro, “existem muitas moradas na casa do Pai” 🙂
Rafael, muitíssimos parabéns pelo excelente texto, muito bem escrito, e pela visão, como sempre, mais do que acertada – em verdadeiro diapasão com as forças motrizes ocultas.
Conseguisse expressar o que há tempos venho tentando sobre o tolo maniqueísmo, que vejo principalmente entre aqueles que deveriam refletir sobre o assunto (Sou formado em Direito pela UFSC e, desde o início da faculdade, até hoje, são poucos os neutros que o são por serem informados; e a grande maioria é esquerdo-direitista… e quem não é, é por decisão e apatia. Logo estes, a “nata” do jurídico catarinense, como os professores (99% esquerdo-direitistas também) gostam de exaltar (tenho certeza que não só na UFSC mas em todas as Federais existe esse tipo de exaltação, que muitas vezes dista da realidade).
Ficava sempre triste pelos rumos que os debates políticos tomavam. Todas as vezes, a força ofuscante do orgulho é que imperava, e todos queriam sobrepor suas idéias “brilhantes” aos próximos, ao invés de conciliar e deixar a magnanimidade da harmonia brilhar…
Quanto orgulho! Quanta jactância! Quantas certezas…
Que nata azeda!
Querendo ou não, estamos todos trabalhando para sermos os(as) parteiras(os)… consciente ou inconscientemente, é a lei do eterno que se cumprirá.
@raph – Sócrates uma vez se definiu, antes de tudo, como um “parteiro de ideias”. A mãe dele era uma parteira…
Que o novo mundo seja parido.
E que este, vá pras profundezas que o pariu, sob o olhar atento de Plutão.
Pergunta ao autor: Como garantir um financiamento público e exclusivo de campanhas eleitorais ?
@raph – O financiamento público já é garantido pelo Fundo Partidário, o problema é ele ser exclusivamente público, e para tal é necessário não somente a lei mas também a fiscalização. Como só temos eleições a cada 2 anos, a polícia federal pode intensificar a fiscalização nesses períodos com uma espécie de “força tarefa contra o Caixa 2”. Por outro lado, sem o financiamento privado de grandes empreiteiras e bancos, as campanhas em geral deverão ser obrigatoriamente bem mais simples e sem tantos outdoors na rua. Nesse caso o próprio povo poderá perceber quem está com uma campanha “cara demais” e suspeitar dela. Em todos os casos não há 100% de garantia que não teremos o Caixa 2 aqui e ali, mas será MUITO melhor do que como está hoje, num sistema de “grande negócio eleitoral” onde TODOS os eleitos para cargos majoritários já podem ser considerados corruptos a priori (para tal, basta raciocinar um pouco). Abs.
muito bom
@raph – 🙂
Ei, nessa temática, os documentários Zeitgeist são recomendadíssimos na minha opinião, eles descrevem bem como funciona o sistema econômico e financeiro nos EUA, como as multinacionais exploram os países mais pobres e como o Banco Mundial é utilizado em esquemas para manter os países em desenvolvimento mal desenvolvidos, além da proposta da economia baseda em recursos. Tem no Youtube gratuitamente: http://www.youtube.com/watch?v=SXl7mRb5Tww (do primeiro da trilogia, mas os dois últimos eu achei melhores)
Esse cara também posta uns videos de conteúdo muito interessante e voltado para o contexto nacional, no youtube: http://www.youtube.com/watch?v=v1iF7FH6NrQ
Outro documentário legal é o The Corporation: http://www.imdb.com/title/tt0379225/
@raph – Vocês acreditam que eu nunca vi o Zeitgeist? Mas ocorreu coisa parecida com meu livro, “Ad infinitum”, que alguns acharam que era baseado em filmes como “Mindwalk” e “The Man From Earth” e eu não tinha visto nenhum deles (mas hoje já vi, e são muito bons)… Acho que está na hora de eu ver o Zeitgeist tb 🙂
Belíssimo esse texto, Rafael,, belíssimo mesmo. Mas deixa dividir meu comentário em fatias:
1) Sobre a viabilidade de uma reforma política real que consiga vingar dentro do sistema atual. Acho que reformas pontuais cá e lá são possíveis, mas não uma mudança grande que exigiria a mudança estrutural a qual nos referiremos mais tarde.
2) Sobre dicotomia esquerda x direita: uma coisa que sempre, SEMPRE me faz rir, ainda mais convivendo com vários esquerdistas, é que eles afirmam seu ateísmo, a inexistência de Deus e de como a religião (qualquer uma) é instrumento de manipulação, mas alguns parecem viver num sistema maniqueísta onde a Esquerda é o Bem Absoluto e Redentor que luta contra a Direita, o Mal Absoluto. Um discurso ainda mais fechado do que de várias religiões aos quais criticam.
@raph – Nem todos são tão radicais, mas de fato existem… É algo muito comum criticar ferozmente no outro a algo que você mesmo faz (embora não perceba ou não admita fazer), ao menos quando você é alguém radical.
Acho muito engraçado não perceberem que eles também têm um sistema de crenças em um organismo abstrato e que entendem como absoluto. (creio que seja possível que o mesmo raciocínio valha com sinal trocado). Entendo cada vez mais que ideologias políticas não se compram em pacote: você se apega a esta e aquela ideia que te parecem coerentes e que levar o pacote completo sem questionamento também é uma forma de fanatismo, ainda que aplicada a outra dimensão de ideias.
@raph – O grande problema, tanto nas religiões quanto nas ideologias políticas, é sermos como papagaios e ovelhas sem pensamento próprio…
3) Sobre a gravidez do mundo e que outro está sendo gestado, é uma sensação muito palpável que tenho – e as intenções levantadas pelas manifestações em todo o mundo só demonstram isso, que algo está sendo gestado, que já não suportamos, como sociedade, o estabilishment que tentam nos empurrar. Espero muito ver este parto acontecer – e que ele ocorra, que o novo mundo nasça apesar da resistência das forças antigas.
@raph – É algo que certamente já ocorre, e continuará ocorrendo passo a passo… Mesmo a Reforma Política, é uma bela ideia, e essencial como PRIMEIRO PASSO, mas apenas como primeiro mesmo, pois muitos outros deverão ser dados ainda. Agora, da forma que nossa presidente propôs, com um prazo de poucos meses para um plebiscito, ou instaurando uma Constituinte exclusiva para mudar o sistema eleitoral ainda para o ano que vem, foi algo certamente infeliz. Ela perdeu uma grande oportunidade de sugerir a Reforma de maneira mais moderada, e agregadora. A Constituinte exclusiva, particularmente, era uma grande ideia (que lembra a origem da Democracia na Grécia antiga), mas que agora foi “queimada” devido a forma e a hora infelizes em que foi proposta 🙁
Gostei do texto, e compactuo com a análise de que não vivemos em uma democracia, não só pelo fato do financiamento privado ilimitado de campanhas como pela dificuldade de se criar novos partidos.
Entretanto se quisermos democracia esta não virá de uma massa que não sabe o que quer que por acaso esta nas ruas, mas sim de pessoas conscientizadas sobre qual reforma política deve ser empreendida. A palavra “Reforma Política” é linda, mas qual reforma queremos?
Meu palpite de sempre: Já perceberam o quanto nossa política depende de Brasília? Como nossos Estados e Município arrecadam pouco e tem poucas atribuições? O que é mais viável para a população, depender de uma capital distante de quase todos ou da prefeitura logo ali? Creio piamente, com toda a convicção do mundo, que a primeira grande reforma a ser feita é por um pacto federativo mais autonomista, pois uma democracia plena não é maior que uma cidade.
Enfim, só meu palpite.
Cuidado ao defenderem o financiamento publico de campanhas, lembrem-se que isto significa dar dinheiro do contribuinte aos políticos para fazerem campanhas de políticos. O financiamento de campanhas deve ser revisto, mas toda cautela é muito pouca.
@raph – Oi Flávio, o financiamento público de campanhas já existe através do Fundo Partidário, e é um dos motivos da existência de tantos partidos menores sem a menor razão ideológica de ser (isso já teria de ser revisto na Reforma tb). O que precisa é ser exclusivamente público, para evitar o “negócio eleitoral” que vigora há tempos. Não precisamos aumentar os gastos públicos, apenas limitar o financiamento dos corruptores. Um deputado federal precisa de cerca de 4 milhões para ter alguma chance de ser eleito numa campanha, em 4 anos de mandato a soma do seu salário bruto chega a cerca de 1 milhão (Fonte: discurso do Ministro Barroso no STF, Julgamento do Mensalão)… Daí se tira que 99% são eleitos com o rabo preso (embora o 1% seja mero otimismo de minha parte).
Será que precisa mesmo de ser um financiamento unicamente público? Vejam bem, o partido esta no governo, tem influência em vários setores do governo e todo partido que deseja concorrer às eleições vai depender do sistema público para concorrer. E aí? Sem contar que isto por si só não garantiria o fim da entrada de recursos privados nas campanhas eleitorais. Tendo a ser mais a favor do limite de financiamento privado a um teto por pessoa física do que ao financiamento 100% público.
Ainda sim creio que a melhor forma para se combater a corrupção eleitoral esteja na adoção do voto distrital, voto distrital puro, como na Inglaterra e nos EUA e não misto como querem implantar. Com voto distrital o deputado é um representante de um distrito de 200 a 400 mil habitantes, e a campanha só terá sentido se direcionada a este eleitorado. Isto por si só tornaria campanhas bilhardárias simplesmente sem sentido. Sem contar que o voto distrital puro permite ao eleitorado do distrito substituir seu deputado a qualquer hora.
Mas a reforma fundamental para a política brasileira sem sombra de dúvida é a do pacto federativo. Precisamos urgente de federalismo pleno, com mais autonomia para estados e municípios. Afinal já passou da hora de pararmos de depender da boa vontade de Brasília para termos serviços mínimos, esta na hora de transformarmos o município em um ente federativo útil. Enquanto o Brasil não for um país verdadeiramente federalista o Brasil sempre será um país de 5ª categoria…
Sempre gosto de tudo que vocês escrevem, mas hoje pela primeira vez tive que parar de ler uma postagem de vocês… bem na parte “candidato do PSOL que não tinha ideologia comprada”
@raph: este texto foi escrito há alguns anos, mas no que tange especificamente este trecho que vc trouxe entre aspas, ele continua inteiramente válido. Segue o contexto geral dele (retirado do texto acima):
“A última vez que um Político teve alguma chance de se eleger para um cargo majoritário com uma campanha financiada por pessoas físicas, e não jurídicas (ou seja, grandes empresas), foi na última eleição para a prefeitura do Rio de Janeiro, em 2012. Não por acaso, o candidato do PSOL foi massacrado pelos “marketeiros” tanto da “esquerda” quanto da “direita”. Isto não quer dizer que ele seja um santo messias, quer dizer apenas que era o único que realmente tinha uma ideologia não comprada!”