O homem sempre buscou em toda cultura, dada certa época da evolução e adaptação da humanidade a este mundo, por algo para se apegar e crer. Muitas destas crenças começaram puras e com o objetivo de iluminar o homem a um novo patamar. Isso é o que era chamado comumente de religião. Pena que o que vemos hoje não é o verdadeiro sentido de buscar Deus e sim o eumesmismo exacerbado e sem precedentes. Para entendermos o homem, temos que entender Deus. E antes do homem buscar Deus, Ele nos buscou.
“Em um não-lugar onde não havia onde, tudo não existia. Não se sabe dizer o que era, só pode-se dizer o que não era. Afinal, aquele que descreve o Tao é pois, ainda um ignorante. Não conhece o Tao. O Incriado, ou seja, o Ain Soph, permanecia em sua impenetrável e irremovível fixidez absoluta. Nada sabia, pois não precisava de nada saber. Nada queria, pois não havia nada. Nem Ele. De nada necessitava pois estava acima até da perfeição, afinal até esta não existia. Porém em dado momento, ou seja lá o que for, afinal não havia tempo nem firmamento, Ele decidiu por algo. Não se sabe o que o moveu à esta decisão. Nem se sabe qual foi sua decisão. Só se especula que a partir deste momento um mar inteiro de perfeição e imensidade explodiu numa maravilhosa apoteose arrasadora de silêncio absoluto. Deus “nasceu”.”
A Árvore da Vida, antes das sephiroth, caminhos e tudo o mais, precisa de um ponto inicial de onde vir e para onde convergem. O que acontece é que este ponto focal não existe no sentido mais puro da palavra. O que eu quero dizer é que o ponto inicial onde se pode dizer que havia uma espécie de Vontade da Criação, era a própria Vontade de Criar de Ain Soph (ou En Soph).
Os sábios, ocultistas, religiosos, místicos, jamais poderão compreender a grandeza do Absoluto enquanto condicionados a viver a realidade tal qual compartilhamos em nossas vidas. O máximo que podemos compreender da magnificência de Deus é Kether, A Coroa. Ainda assim, é por isso chamada Coroa, pois está acima da cabeça. Portanto ainda longe da compreensão infanto-juvenil de certos buscadores, e iniciados (talvez até alguns que se julguem adeptos) dos mistérios.
Para que se compreenda primeiro a Árvore da Vida e saborear cada um dos seus frutos é preciso que cada um de nós volte ao útero de nossa Mãe/Pai Ain Soph, a Não-Existência.
Muitos ateus dogmáticos afirmam a todo pulmão que Deus não existe sem que ao menos haja uma especulação filosófica acerca disso. Bom, vamos deixá-los brincar com seus bloquinhos enquanto perguntamos o que veio antes do Big Bang. A situação não muda muito quando vemos pessoas das mais variadas religiões batendo no peito inflado e gritando que “Deus existe!”. Deixemo-los também brincando com suas palmas, esperando a nave mãe levá-los num arrebatamento de um tal fim do mundo que nunca vem (O mais engraçado que a religião de muita gente se manifesta e se baseia num fim do mundo, né? Ô gente pra gostar de desgraça!). Nós, estudiosos das Ciências Ocultas, temos que pôr em mente que há uma correspondência entre o microcosmo e o macrocosmo. Se temos uma natureza animal, uma emocional, uma mental, uma espiritual e uma anterior a tudo isso, então o que faz o Universo ser diferente?
A ação como reflexo dos nossos pensamentos superiores se manifesta em nós através de sentimentos para depois se converter em realização. O que acontece com o universo é parecido.
Olam ha Atzilut (Mundo da Emanação) é onde a Vontade está plena. O Deus Criador, portanto Manifesto, está um pouco abaixo desta localização (metafisicamente falando) da Etz ha Chiim (Árvore da Vida). Olam ha Briah (Mundo da Criacão), é onde o Manifesto acaba por se dividir e se confundir em Criador e Criatura. Podemos dizer que esta é a mente da Criação, pois é aqui que as ideias dela vivem (É, tudo é vivo. Não é uma surpresa, né?) e seus arquétipos, nas estruturas mais densas desta realidade, dão forma a tais ideias. Olam ha Yetzirah (Mundo da Formação). É aqui onde as as ideias que tomaram formas nos arquétipos de Briah tomam forma, por assim dizer. Este é um mundo de pura emoção, luz, cor e fantasmagoria. Este é o lar da emoção, onde a informação de Briah toma a forma pictórica que permite uma apreenção. Lar dos elementais, gênios, orixás, devas, demônios e todos os outros seres fantásticos. Aqui a Vontade de Deus se manifesta pela emoção. Olam ha Asiyah (Mundo da Ação): este é o nosso mundo. O Universo conhecido. Tudo de fantástico acontece aqui, pois é a razão da Existência. A partir de Malkuth se conhece Kether. Assim como é abaixo, também é acima.
Todas as dez sephirot estão relacionadas com os quatro mundos, sendo esta, sua disposição. Sabemos agora o que NÃO É Deus.
Acima de toda a Existência estão os véus da Existência-Negativa. Estes são Ain (ou En), Ain Soph (ou En Soph) e Ain Soph Aur (ou En Soph Aur). Nada, Nada Absoluto e Nada Absoluto de Luz, respectivamente. Não poderei falar nada deles agora, pois não conheço muito para ensinar acerca disso, e precisaria de mais um post pra explicar. Mas brincando a gente já viu o que é a Existência-Negativa, a Árvore da Vida, os 4 Mundos e Deus. Nada mal… Bom, os próximos textos vão explicar detalhadamente cada dente que move esta fabulosa engrenagem…
Que as vossas Rosas floresçam na tua Cruz.
Respostas de 10
Muito bom seu texto. Realmente, a compreensão plena do mundo da emanação é impossível no nosso nível atual, mas isso não impede nem desanima a busca de algum vislumbre, por parte de quem quer que seja e o mesmo vale para o negativo acima da Árvore. Ultimamente, tenho pensando no negativo acima da Árvore como algo semelhante à energia potencial da física newtoniana, que nem é uma energia em si, mas um devir de possibilidade do surgimento da energia cinética. Engraçado como são nossos conceitos… Quando crianças, no primário, nos ensinam uma célula tal qual um ovo. Depois, o conceito vai se aperfeiçoando, juntando detalhes, até chegar à citologia ensinada nos cursos superiores. Talvez, com relação aos temas mencionados, apenas estamos vendo o modelo da célula como ovo, tendo um mero vislumbre do que realmente é… De todo modo, é importante mantermos em mente que um ocultista, um ateu ou alguém que espera o arrebatamento, ou mesmo uma criança esperando seu papai noel, em essência, são a mesma coisa. Nunca seremos melhores que ninguém, apenas podemos fazer melhores as nossas atitudes… Ao menos isso, acho, é algo que não podemos esquecer, pois se o fizermos, teremos muito conhecimento, mas sem nenhum vislumbre de sabedoria.
Abraços e valeu pelo excelente post
Atirou no próprio pé com o trecho do texto:
” … aquele que descreve o Tao é pois, ainda um ignorante. Não conhece o Tao …”
Semelhante aos ditados:
– Definir “Deus” é negá-lo.
– O impossível de se definir. Isso é “Deus”.
Assim como especular, tentar definir, criar hipóteses, sistemas pedagógicos, teorizar sobre: O Imanifestado, Ain Soph, ParaBrahman etc, etc, etc … é ser um ignorante.
O autor do texto está descrevendo algo que ninguém conhece; nem a Kabbalah, nem Buddha, nem os mais elevados Dhyan-Chohans.
Infinitos são os Véus que cobrem esse Mistério: do Imanifestado no Manifestado, do Absoluto no Relativo, do Abstrato no concreto.
Amigo, entendo seu ponto de vista, mas creio que entendo em parte a intenção do autor, se é que alguém pode captar isso. Na minha opinião, o que ele tentou passar foi exatamente o paradoxo. O Absoluto, o Tao, o Todo ainda não é possível, em nossa atual ignorância, de ser entendido, mas podemos fragmentar isso em conceitos, que de forma alguma o englobam, mas através dos quais percebemos as facetas dele, exatamente como facetas e não como uma visão total. Como foi colocado em nome de Paulo: agora vejo em parte, mas então veremos face a face… Enquanto se vê em parte, tocamos ora a tromba, ora a barriga, ora as pernas do elefante e tentamos montar o conceito do que é um elefante, mas desse modo, ainda não conseguimos compreender o que ele é e cada um acaba montando o quebra cabeças de modo diverso… Nessa situação, pontos de vista devem ser sempre vistos como mais uma faceta desse imenso diamante, infinitamente multifacetado que é a existência e a não existência… Claro, posso estar muito enganado… abraços
Até que enfim algum assunto cosmogonico nesse site!! Tava demorando…
Òtimo texto… vou aguardar os próximos.
Abraços a todos os que compartilham por aqui.
Uma dúvida meio complexa ou quem sabe idiota. As Sephiroths emanam de Ain Soph e se encontra dentro de Ain Soph Aur, ou emanam de Ain Soph Aur ? Me vi nessa dúvida porque li que Kether é um ponto no infinito, então ele não é a habitação primeira, mas também habita em algo primordial a ele. Obrigado.
@MDD – Kether é a soma de tudo. Ain Soph é o que está fora do tudo, ou além…
Entendi, e como fica nossa querida Ain Soph Aur no meio desse triângulo amoroso ?
@MDD – nem os rabinos compreendem kkkk… na minha visão, é algo que seria o todo do todo… tipo, se TODO o universo é Kether, Ain é o nada que está além desse limite nessa dimensão, Ain soph é o limite desse nada na borda de uma dimensão ainda maior e Ain Soph Aur seria o todo envolto nele mesmo…
Gostei! Fácil de entender, palavras simples mas bem explicado. Parabéns!!
Achei interessante, mas surgiu uma dúvida.
Por que neste caso o mundo Mental (Briah) vem antes do mundo das Emoções (Yetzirah) sendo que depois veremos Netzach (emoção) sendo colocada antes de Hod (mente) ?
A ordem não deveria permanecer a mesma ou estou confundindo ?
este video mostra alguma coisa sobre o universo ser mental ou um grande grande computador.
http://www.youtube.com/watch?v=6jIeHsefCPk