Por Adriano Camargo Monteiro
Pentagrama é a estrela de cinco pontas e cinco linhas (“penta” = cinco; “grama” = linha), e não simplesmente um decágono em forma de estrela. Além de simplesmente representar os cinco Elementos da Alquimia – Ar, Fogo, Água e Terra, e a quintessência, o Espírito –, o pentagrama sempre foi, desde a Antiguidade, um símbolo da deusa Vênus e do planeta de mesmo nome; o outro símbolo estelar de Vênus é o heptagrama.
Os elementos associados ao pentagrama, que também são os elementos da Alquimia, estão relacionados às suas manifestações no iniciado, como segue, resumidamente:
– Ar ? inteligência, mente expandida, intelecto;
– Fogo ? animus, amor e ódio impetuosos, impulso sexual;
– Água ? anima, emoções, sentimentos, instintos;
– Terra ? corpo físico, força, resistência, veículo que carrega e suporta todas as consequências da inteligência (e também da inépcia que pode levar ao aprendizado pela dor indesejável), do amor, do ódio, das emoções caudalosas e dos sentimentos mais profundos;
– Espírito ? a Individualidade, o Eu Superior que assimila todas as experiências do indivíduo iniciado e sem sempre “se iniciando”.
O pentagrama também se tornou conhecido como um dos selos do lendário rei Salomão, pois sua mitologia o mostra como um fenício politeísta que cultuava Vênus (Ashtart), entre outros diversos deuses e deusas. Assim como muitos sacerdotes e “feiticeiros” do período mitológico de Salomão, os reis, que se consideravam filhos e esposos de Ashtart, também a cultuavam para se obter as dádivas da fertilidade (em seu sentido amplo), prosperidade para o povo, riquezas, ascensão social e êxito no amor, além de marcar as fases do ano, as celebrações e de empreender rituais de morte e renascimento – na Árvore cabalística do Conhecimento do Bem e do Mal o Túnel da Morte liga a qlipha (“concha”) A’Arab Zaraq (os “Corvos da Dispersão” de Odin) a Thagirion (o Sol Negro, o “Instigador”); na Árvore da Vida, o Caminho da Morte liga a sephira (esfera) Netzach/Vitória (Vênus) a Tiphareth/Beleza (Sol). Essa ligação entre Vênus e Sol ficará mais clara, a seguir.
Na grande Mesopotâmia e Oriente Médio, Vênus era conhecida por diversos outros nomes, tais como Asherah, Baalat, Ishtar, Shekinah, Baalat, Inanna, Anat e Astaroth e Ashtart.
Como planeta, Vênus é o terceiro corpo sideral mais brilhante no céu visto da Terra, tendo um albedo de 79 % (o “Portador da Luz”, Lúcifer), e aparece de manhã, ao leste, antes do nascer do Sol, sendo, portanto, chamado de Estrela da Manhã, Estrela d’Alva ou Estrela Matutina. Nos templos maçônicos, por exemplo, essa estrela flamejante deveria ficar ao leste, de fato (esse ponto cardeal pode ser facilmente localizado nos templos), contextualizando o selo de Salomão pentagramático e representando a luz do crepúsculo da manhã, a luz da Estrela Matutina, ou seja, o planeta Vênus-Eósforo que surge antes do Sol.
Desde a Antiguidade, Vênus tem sido observado e seu movimento estudado. O percurso que faz em sua órbita para formar conjunções com a Terra e o Sol descreve o pentagrama a partir do ponto inicial da primeira conjunção com a Terra; cada ponto de conjunção é uma ponta do pentagrama. E a cada oito anos um pentagrama invertido se forma no espaço sideral, com as conjunções entre Vênus, Terra e Sol, demonstrando uma relação “sexual” metafísica em nível astronômico. É claro que isso tudo pode ser “aproveitado” em trabalhos ritualísticos específicos.
As conjunções de Vênus
Do ponto de vista prático, algumas observações importantes sobre os pentagramas parecem ser necessárias, já que existe uma grande confusão sobre sua utilização e significado. Mas este texto será breve, pois há outros que abordam diferentes aspectos de tal questão pentagramática.
Antes, porém, será esclarecida brevemente a diferença entre pentáculo e pantáculo, já que confundir os dois é tão comum e corrente que até mesmo esse erro aparece em livros, etc., sem que ninguém note. “Penta” nos remete ao número cinco; “pan”, à ideia do todo e do completo (“pan” e “pantos”). Assim, pentáculo se refere apenas a um pentagrama inserido em um círculo (pois, para fins operativos, há uma diferença importante entre o pentagrama rodeado por um círculo e o pentagrama sem o círculo). Pantáculo é qualquer objeto de natureza talismânica, geralmente circular, no qual podem estar quaisquer símbolos, sigilos, selos, assinaturas, letras, números e diversas outras inscrições de modo contextualizado e pertinentes a determinados trabalhos, rituais, filosofias mágico-ocultistas, etc. Um pentáculo pode estar inserido em um pantáculo e pode ser um pantáculo, mas um pantáculo jamais significa pentáculo nem pentagrama.
É preciso compreender que não existe um pentagrama “do bem” e um pentagrama “do mal”, etc. e tal. Tanto o pentagrama invertido como o outro são dispostos e usados segundo a perspectiva do operador. Se, por exemplo, desenhado e colocado na soleira da porta com uma ponta voltada para fora, o pentagrama parecerá invertido aos olhos de quem está chegando, de quem está do lado de fora do aposento, e parecerá “de pé” para quem está do lado de dentro. Em um caso tal, onde estará então o pentagrama “do mal” e o pentagrama “do bem”? Percebe-se que esses conceitos dicotômicos e maniqueístas de fato são ridículos. Quando traçado um caminho “oculto” da esfera/sephira de Binah (Compreensão) a Chesed (Misericórdia) e da esfera de Chokmah (Sabedoria) a Geburah (Severidade) na Árvore cabalística, poder-se-á notar que o desenho forma um pentagrama invertido (e isso na Árvore da Vida “convencional”); na Árvore do Conhecimento, ou da Morte, quer dizer, das Qliphoth, o mesmo também ocorre.
Ambos os pentagramas podem ser utilizados para qualquer propósito predeterminado. Só depende da Corrente com a qual esteja trabalhando, ou seja, Nox ou Lux, e não “do bem” e “do mal”, pois a ideia estereotipada de que as trevas são o mal e a luz é o bem absoluto é completamente equivocada, estúpida e ilusória. Por exemplo, os dois pentagramas (o invertido e o “normal”) podem ser usados para se trabalhar com as quatro principais forças da Corrente Draconiana, a saber: Lúcifer, Vênus, Samael e Lilith.
E essas forças arquetípicas não são maléficas, malignas, malévolas, malevolentes, malfazejas, malfeitoras, malditas, do mal, ou qualquer asneira semelhante, mas sim elas são mal-entendidas, intencionalmente ou não, por mentes maledicentes e maldosas. Essas são forças arquetípicas inerentes à vida e à evolução, são forças da inteligência, da razão, das emoções, do amor, do ódio, das paixões, dos instintos e dos prazeres sensoriais, materiais e psicomentais, tudo o que é necessário à vida, ao aprendizado e à evolução, especialmente a evolução deliberada e por livre vontade. O mal, como as pessoas o categorizam, só existe na mente humana maligna, malévola, malevolente, malfazeja, etc., e nada mais. Usar no pescoço ou no anel um pentagrama invertido ou “de pé” não tem qualquer conotação moral ou dogmática com relação ao que é “do mal” ou “do bem”. Alguns dizem que o pentagrama convencional protege contra magia negra. Isso parece um tanto incoerente, já que a magia não tem cor, não existe magia negra nem magia branca. Tanto o pentagrama convencional como o pentagrama invertido podem banir e resguardar o operador de forças intrusas, perturbadoras e inconvenientes ao trabalho que será empreendido, mas não necessariamente contra “forças do mal”, como a maioria das pessoas imagina. O próprio indivíduo tem em si elementos indesejáveis, ruins e nocivos aos outros e a ele mesmo, só que ninguém quer admitir isso.
Um exemplo da “isenção moral” do pentagrama está no sigilo ou selo de Astaroth, um espírito da Goécia, supostamente um “demônio”, mas que de fato era uma das deusas mesopotâmicas. Seu sigilo é formado por, entre outros símbolos, um pentagrama “convencional” e não por um pentagrama invertido. Já o pentagrama invertido é também a estrela de Set (Shiva, Samael, etc.), o deus arquetípico egípcio primordial representado pela estrela Sírius, o que indica sua relação metafísica com os mais altos níveis de manifestação “caósmica” e de consciência, muito além da vida comum e corrente.
Por outro lado, em nível mais próximo da realidade prosaica do ser hamano, o pentagrama invertido pode ser usado também em trabalhos que visam a objetivos materiais (afinal, estamos todos encarnados na matéria, e nem só de espírito é possível se viver neste mundo).
O pentagrama invertido traçado no ar significa que forças venusianas estão sendo invocadas para a Terra, que influências astrais e siderais de Vênus estão sendo “puxadas” para o nosso plano físico, para o magista e para o templo, para atuarem em seus rituais, especialmente de magia sexual, um elemento importante da filosofia oculta afrodisiana (ou venusiana). O pentagrama invertido pode ser traçado na direção dos quatro quadrantes e os nomes são vibrados devidamente e não simplesmente falados de qualquer jeito (cada nome tem sua vibração e pronúncia corretas, de acordo com o quadrante do Elemento), com concentração mental e comoção emocional, sentindo a vibração em si. O pentagrama invertido tem seu traçado de acordo com os quatro Elementos também. Quando se faz o pentagrama invertido traçando-o pelo Elemento Terra, o indivíduo estará também invocando a força da Terra (e tudo o que ela representa) e daqueles poderes arquetípicos para o seu real Ser encarnado na Terra, fazendo-os se manifestarem em si mesmo e na obra que se realizará, e não simplesmente banindo. Nos trabalhos de magia sexual o pentagrama invertido é particularmente usado para invocar a Serpente do Sexo e o Dragão de Sabedoria, além dos objetivos materiais (e o sexo, a princípio, não é realizado material e sensoriamente no plano físico?).
Como mencionado, o pentagrama invertido está associado à deusa Vênus (e ao planeta), à fertilidade, ao amor e ao sexo, além de representar de forma bastante estilizada os órgãos sexuais femininos.
No contexto da Filosofia Oculta e da Magia, a estrela luciférica é também um símbolo da Sabedoria e do Amor, pois Sophia é Vênus, a deusa do Amor e esposa/irmã do filósofo Portador da Luz, Lúcifer – Fósforo e Héspero. Aliás, consta que, entre os gregos, foi o sábio Pitágoras quem primeiro observou que Fósforo e Héspero eram o mesmo planeta, pois se acreditava que fossem planetas distintos, um surgindo pela manhã e o outro, à tarde.
A sabedoria sempre foi o ideal dos filósofos, e, novamente entre os gregos, foi Pitágoras quem cunhou o termo “filósofo”, referindo-se a si mesmo como um “amante da sabedoria”, ou de Vênus, em toda sua significância, incluindo, principalmente, a prática de magia sexual com a esposa-sacerdotisa que encarna Sophia-Vênus no ritual. Além disso, sua Escola Pitagórica, iniciática e semissecreta, tinha como símbolo o pentagrama, considerado como a representação da perfeição, do microcosmo (ser humano), da harmonia entre as forças opostas (homem e mulher, luz e trevas, positivo e negativo) e da natureza. Todos esses significados do pentagrama se justificam, pois ele próprio apresenta em suas medidas a razão áurea que está presente em tudo (Pan)…
Portanto, use e abuse dos abusadamente famosos pentagramas, mas com conhecimento e discernimento, logicamente. E para aqueles que sabem ler nas entrelinhas, aqui há alguns segredos operativos…
Respostas de 21
Esses dias fui abordado na rua por um irmão evangélico que queria me contar a verdade obscura por trás do pentagrama… ele me recomendou o site da Igreja dele para conhecer a verdade, mas fugiu antes que eu recomendasse o TdC… uma pena… esse post poderia ter-lhe sido útil…
Fraternalmente,
Lindo texto. Vou saber usar sabiamente das entrelinhas. Muitíssimo obrigado!
Abraços Fraternos.
Muito bom Adriano!
Sempre interessante os posts que traz por aqui.
Só to precisando arrumar uma graninha pra comprar os livros teus que me interessam bastante.
Obrigado pelo belo post sobre um dos simbolos que me “acompanha” (ou guia) des de muitos anos atrás quando eu comecei a curtir heavy metal e os derivados. Quero dizer, começou ali e olha onde cheguei.
Mas a estrada é longa e boa de caminhar.
Abraço!
Adoro esses textos que quebram o maniqueísmo das nossas mentes. Crescemos acreditando nessa visão de mundo, é difícil livrar-se dela.
A representação do elemento fogo é muito problemática, já vi dezenas de interpretações e explicações diferentes. Quando se trata de água, ar e terra é sempre igual (com perquenas mudanças), mas fogo não.
Afinal, o que representa o fogo? Sério, gostaria muuuito de saber.
“O próprio indivíduo tem em si elementos indesejáveis, ruins e nocivos aos outros e a ele mesmo, só que ninguém quer admitir isso.”
Eu admito todos os meus. Dominador, cruel, intolerante e cínico. Fora o que eu não conheço.
Faltou falar que esta época do ano é fácil de vê-la, como Vésper, logo no escurecer após o por-do-sol, e que ela está próxima a Mercúrio (que realmente, parece um anãozinho perto dela)
Já vi o pentagrama sendo usado como símbolo do elemento terra como em Promethea de Alan Moore, existe alguma explicação pra isso ou são apenas convenções diferentes?
@MDD – aquilo chama Pantáculo.
Acho q o fato de ter crescido numa sociedade e num meio mt cristão, apesar da variedade religiosa e do meu interesse por ocultismo, sempre tive dificuldades em mudar os conceitos antigos do q é “bom” ou “ruim”.Mesmo com td especulação q já vi até hj sobre a aplicação e utilidade do pentagrama invertido, nenhuma jamais me fez estar tão relaxado qnt à isso.Pois por mais q eu quisesse acreditar q o pentagrama invertido ñ é de “maligno” sempre tive um pé atrás.Acho até q é sempre bom ter um pé atrás com td, neh.Mas essa foi de longe a melhor explicação q já vi até hj.
Texto pentagruélico!!
“Na grande Mesopotâmia e Oriente Médio, Vênus era conhecida por diversos outros nomes, tais como Asherah, Baalat, Ishtar, Shekinah, Baalat, Inanna, Anat e Astaroth e Ashtart.”
Caro Deldebbio, nas religiões africanas Vênus pode ser conhecida como Oxum ?
@MDD – Sim, totalmente. Oxum é Netzach.
DelDebbio, li o texto e me fez pensar algo que nao tem muito a ver, mas onde estaria localizado o anjo guardiao na kaballah? Eu fiquei imaginando qual papel ele podia assumir e o que podia ser falando etericamente. E nao consigo imaginar como uma entidade, mas como uma auto expressao do seu eu superior, me lembrei de quando era crianca e sempre quando estava em momento difícil, sonhava com uma pessoa me ajudando, dizendo o que fazer, antes achava que era meu irmao gemeo que tinha morrido quando a gente era pequeno ainda, mas hoje vejo como se fosse o self mostrando como atravessar barreiras, mostrando o caminho da verdadeira vontade. Sendo assim, ele poderia fazer parte da nossa propria arvore da vida e situado em daath. O que voce acha, estou certo?
@MDD – Em Tiferet
SAG é Tiferet em Assiyah, Yetzirah? Tanto faz? Estou misturando as bolas?
Prezado Adriano. Admiro muito as suas lições de simbologia e usarei em meus futurois livros sua influência. O pentagrama é símbolo amoral e muitos o transformaram em algo negativo por sua ignorância. Como pode ser Vênus, representante arquetípica de amor, algo ruim? Boa análise cabalística. Abraço. E quanto custa a revisão de um livro?
Sou suspeita para falar do Ir.’. Adriano. Os textos são sempre de uma inteligência ímpar! Bjs! Soror Melissa
Tá… beleza… o Pentagrama está associado a Vênus… mas se associarmos o Pentagrama a Guevurah (Nº 5)?
@MDD – O Pentagrama esta geometricamente associado a Vênus (Planeta), porque é a forma que ele faz quando observamos seus pontos no céu ao longo de 8 anos, e TAMBÉM é Geburah por causa do numero 5 (o de Netzach é o heptagrama). Isto faz com que o pentagrama seja, ao mesmo tempo, o princípio masculino e feminino completos (Rei e Rainha alquímicos unidos). se você adicionar a letra G nele…. terá um símbolo maçônico foda, que representa a divindade dentro do ser humano completo.
Nice… Eu não tenho acesso aso links do escritório, mas no Mayhem um cara postou um “estudo” do hexagrama no qual ele uniu as “pontas diagonais” (pense num hexagrama no qual a ponta superior esquerda é conectada com a inferior direita e a inferior esquerda com a superior direita) e o resultado foram dois pentagramas (um “normal” e um “invertido”) unidos formando o hexagrama.
Se vc me perguntar o que fazer com isso eu não faço a MÍNIMA idéia, mas achei uma simbologia muito foda (o “eu maior” se unindo com o “eu menor” no símbolo do equilíbrio).
nossa já vi que para entender o jeito é estudar a kaballa.mas uma pergunta pelo que entendi do texto a relaçao bem e mal,é puramente humana né isso?.e o contato com outros seres de outro plano é feito apartir da propria energia humana que entre em “frequência” com a do ser em questão ?
eu precizo saber como posso fazer magia negra com a estrela de cinco ponta
@MDD – Tudo o que voce precisa para começar é estudar esta série de grimorios importantissimos: http://www.colecaopasquale.com.br/
Essa do Pasquale foi boa, rsss…
adorei o texto
vi uma representação da árvore da vida em inglês em que Geburah é associado à “força”, não à “rigor”. Faz mais sentido para mim
eu já tinha reparado no apontamento que Anarcoplayba fez em seu comentário. Realmente isso deve ser muito significativo, eu sei que nem imagino todos os significados desse fato
A verdade é que o uso de simbolos e amuletos em praticas de ritos arcanos, é muito diversificado. De acordo com cada tipo de grimório. No neo-paganismo (wicca), é muito comum o livro das sombras (diario do bruxo). – marcio “osbourne” silva de almeida/joinville-sc