A Cidade Celeste II


Também é importante advertir que a fundação das cidades, com seus templos e santuários, era um símbolo que expressava a constituição ou consolidação de uma doutrina tradicional, convertendo-se assim a cidade terrestre na própria expressão dos princípios cosmogônicos e metafísicos revelados por tal doutrina, pois esta sempre foi considerada como a emanação direta da Doutrina do céu, que não é outra que a própria Sabedoria Perene, Lei Eterna, ou Sanatana Dharma, contida na Tradição Primitiva, ou o que é o mesmo, no Centro Supremo. Este, embora em um princípio era acessível a todos os homens, tornou-se, por razões de ordem cíclica, oculto e inacessível para a grande maioria, Por isso que seja através da compreensão do sentido profundo e essencial do Ensino como se pode realmente estabelecer a comunicação com tal Centro, quer dizer, quando a “intenção” e a vontade de todo o ser se oriente para o Conhecimento, e se identifique e seja um com ele, promovendo assim uma verdadeira transformação interior casada com a realização de todas as possibilidades contidas no estado humano, à luz de cuja plenitude todas as coisas aparecem reintegradas na Unidade do Si mesmo, o qual está em relação com a frase evangélica: “Procurem e encontrarão, peçam e serão saciados, chamem e se lhes abrirá”. A essa transformação (precedida por numerosas mortes e nascimentos) refere-se a expressão hermética que sintetiza a consumação da Grande Obra: “espiritualizar os corpos e corporificar os espíritos”, ou “espiritualizar a matéria e materializar o espírito”, como se diz nas primeiras páginas deste Programa.

O centro do estado humano está representado precisamente pelo coração, onde, efetivamente, todas as tradições situam a morada simbólica da Cidade celeste, ou Cidade divina (em sânscrito Brahma-pura), que é o Reino dos céus (identificado com a Cristianópolis ou o Templo do Santo Espírito, “que está em todas partes”, do hermetismo Rosa-Cruz), do que se diz que não virá ostensivamente, “Nem poderá dizer-se: hei-lo ali, hei-lo aqui, porque o Reino de Deus está dentro de vós”, Lucas, XVII, 21. É também a Jerusalém Celeste como dissemos, cujo advento supõe a abolição da condição temporária, e portanto a restauração do estado primitivo e do sentido da eternidade ou “presente eterno”. Em conseqüência, poderia então se afirmar que a Cidade celeste é a possibilidade permanente de viver a realidade em si mesmo, sem reflexos duais, como foi, é e será sempre, constituindo o ponto de referência vertical que dá sentido e plenitude à totalidade de nossa existência, que se reconhece no universal, conduzindo-nos da periferia ao centro através do Eixo que comunica a Terra com a Pátria celeste, que é nossa origem e destino final: “Eis aqui o Tabernáculo de Deus entre os homens, e erigirá seu Tabernáculo entre eles, e eles serão seu povo e o mesmo Deus será com eles”, Apocalipse, XXI, 3-4.

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Respostas de 2

  1. “pra descer todo santo ajuda”
    quem diria que o retorno do filho pródigo seria tão difícil? cair é fácil, já escalar a parede desse foço é uma penitência

  2. a perda de conhecimentos antigos e a sensação de que os antigos sabiam mais do que sabemos hoje em assuntos místicos e esotéricos me faz questionar se essa tradição de esconder os conhecimentos realmente é benéfica à humanidade

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