A Evolução como Espiral

“A condição humana é tal que o Ser pode encontrar-se com o Divino e mergulhar na Presença num Sábado e na Segunda-feira ver-se numa briga de trânsito por conta de uma fechada” – ?

 

Alguns sistemas compreendem o homem como uma multiplicidade de EUS lutando pelo controle, esses eus se agrupam por afinidade, em espécies de mini personalidades. Esses sistemas usam esse modelo para explicar as contradições do homem em sua vida cotidiana, sua falta de coerência com o mundo e consigo mesmo.

Outros sistemas entendem que o ser humano é um vasto e intrincado universo em si mesmo e que por isso, sendo composto de vários níveis de profundidade, estaria sujeito a variações em seu comportamento dada a interação extremamente complexa entre seu universo e o universo compartilhado, bem como os demais universos/consciências.

Inúmeras formas existem para se compreender tanto as contradições humanas quanto o próprio processo evolutivo humano, e a que abordaremos hoje é a evolução como espiral.

O ser humano pode expandir sua consciência em várias direção e dimensões, para o propósito dessa visão compreendemos o processo como uma espiral vertical que em círculos pode se mover para cima e para baixo.

Imagine que você vá a uma cerimônia mágica ou religiosa durante o fim de semana e lá tenha uma experiência espiritual significativa, seja ela da presença do Divino, um profundo estado de compaixão, esperança de que as coisas ficarão bem, vontade de ajudar o próximo. Depois de deixar o local volta para sua casa e seus afazeres e aos poucos aquela sensação vai se perdendo como um sonho que não anotamos e logo esvaece da memória ficando só a vaga lembrança do que você sentiu e não a sensação em si.

Os dias passam e você se encontra cada vez mais distante daquela sensação até que não reste mais nada, no máximo uma saudade de algo que você não sabe exatamente o que é, e nesse meio tempo você passa por situações cotidianas cada vez mais tensas e conflituosas que não raro revelam o pior de você, seja na sua relação com os demais, seja com você mesmo.

Chega novamente o fim de semana e você repete  a primeira experiência, a semana chega repete a segunda experiência e assim sucessivamente.

Como no eterno retorno nietzschiano o ser se vê repetindo as mesmas experiências e tendo as mesmas sensações, seus aprendizados adquiridos em seus estudos e experiências místicas parecem desconectados da realidade diária, ainda que lhe pareçam tão enraizadas e profundas quando apreendidas.

Essa é a espiral em que nos movemos, alguns tem círculos maiores, indo muito alto e em seguida caindo profundamente na inconsciência e desligando-se de quem verdadeiramente são ou do que poderiam ser, outros tem círculos menores variando muito pouto em relação do ponto mais baixo e do ponto mais alto.

Além de tudo isso é necessário lembrar que a espiral se locomove para cima ou para baixo, ou ainda pode ficar com seu centro parado e seu raio crescendo cada vez mais, cada vez mais alto e cada vez mais fundo, até que invariavelmente o centro não se sustenta o falcão não ouve mais o falcoeiro e a anarquia é liberta no mundo.

A observação desses padrões através desse método nos dá chaves importantes para o desenvolvimento da consciência, para o auto conhecimento e para a compreensão dos processos de outros irmãos.

Todos nós estamos nessa espiral e isso nos ajuda a entender porque pessoas que consideramos tão boas tem atitudes que nos parecem incoerentes, ela está na parte de baixo da espiral, e podemos ser mais compreensivos com nós mesmos e nossos irmãos ao percebermos que cada um de nós está em momentos diferentes dela.

Isso também nos dá uma ferramenta poderosa de compreensão, pois ninguém é, tudo está. Hoje o ser é uma coisa e amanhã ele é outra, julgue um homem pelo que você acha que ele é e pouquíssimo tempo depois seu julgamento está desatualizado. Julgue de acordo com o que ele pode ser e não há como errar.

Somos nossos altos e baixos e um buscador sincero vai diligentemente trabalhar para reconhecer seu ponto mais baixo e elevá-lo constantemente a ponto de ter um círculo cada vez menor, ao mesmo tempo em que vai buscar sempre fazer com que o ponto mais alto de sua espiral continue subindo alcançando degraus cada vez mais altos da consciência. O exercício é manter-se no topo, que seu ponto mais alto seja seu estado natural.

Para tanto o ser deve observar-se constantemente e reconhecer os pontos altos e baixos de sua espiral, assim o fazendo deve buscar sempre uma atitude que o leve em direção ao ponto mais alto, manifestar as atitudes desse ponto é uma chave para lá manter-se lá, viver essas experiência e antes de deixar o ato que o religou do divino, interagir com outros seres e realizar reflexões profundas sobre si mesmo, ancorando a consciência ou numa analogia a escalada, pregando espigões que não lhe permitam cair além daquele ponto.

Observar as pessoas de nossa convivência e reconhecer também seus pontos altos e baixos é um forma de não permitir que os comportamentos alheios influenciem no seu, assim se você está na parte superior e é incomodado ou deve interagir com alguém que parece estar bem abaixo de seu centro, é o momento de ser compreensivo e dessa forma trazê-lo para cima ao invés de permitir ser arrastado para baixo.

Tome a si mesmo sempre pelo ponto mais baixo, dessa forma você vai lutar com muito mais força para elevar seu nadir ou ponto mais baixo, e tome os outros sempre pelo seu ponto mais alto, independente do estado em que esteja ele, mantenha sempre na memória o Zênite desse ser, o seu ponto mais alto, assim terá a sua volta somente pessoas excepcionais, e se em algum momento ele lhe mostrar o seu pior, responda de acordo com o seu melhor, assim de alma para alma, ele encontrará o caminho de volta até o topo, e você não precisará mais descer.

Depois de compreendida essa lição, cabe aos irmãos lembrarem que essa espiral é em 3 dimensões, mas por ora trabalhemos em nossos círculos, as esferas só para daqui a algum tempo.

Chay !

– Frater Alef

 

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Respostas de 15

  1. Parabéns pelo texto, Frater Alef! Gosto muito dos seus posts, todos eles ressoam com alguma reflexão que tive, mas você as organiza de uma forma aprofundada. Sempre bons ensinamentos, um grande abraço!

    @Frater Alef – Salve Bruno, muito obrigado pelo comentário, é um prazer enorme compartilhar esse pouco que sei com vocês.

    Fiquei especialmente feliz com seu comentário porque sendo o primeiro achei que ou o texto não havia sido bem recebido, ou que simplesmente por alguma maluquice do wordpress os comentários não estava habilitados.

    O fato é que gosto de trocar. Por isso a importância dos comentários.

  2. Esse texto me fez enxergar exatamente o que ocorre comigo desde sempre, inclusivo e principalmente no estudo e prática do oculto. Em vários momentos pensava que somente eu passava por essa espiral. Muito obrigado Frater Alef.

    @Frater Alef – Salve Luis, somos todos assim, discípulos buscando a perfeição de nós mesmos. As vezes encontramos e as vezes perdemos, as vezes damos um passo para trás para dar dois para frente. Em frente !

    Chay !

  3. Olá Frater!

    Outro belo texto e outro belo ensinamento! Quão é dificil se manter nessa espiral e entender os altos e baixos. Tive essa sensação a pouco tempo de estar tudo perfeito, tudo calmo, tudo ia dar certo e logo identifiquei o que realmente me traz para o lado alto da espiral. Pergunto se esse tentar fazer algo para se manter no topo poderia ser algum tipo de fuga para não se encarar a realidade, tipo uma “droga”?

    Até mais! 🙂

    @Frater Alef – Salve Daniela, se manter no topo não é fugir da realidade, é encarar todas as vicissitudes com o seu melhor, os problemas não deixarão de existir, mas serão conduzidos e resolvidos em um estado de espírito superior. Dessa forma, controlamos as circunstâncias e não deixamos que as circunstâncias nos controlem.

    Pense no mar agitado, um capitão despreparado, logo terá seu barco destroçado e ficara a deriva, um capitão experiente enfrenta a tempestade e com certeza sofre com ela, no entanto não perde o controle do barco, se mantém firme e usa tudo o que sabe para atravessá-la, ele não pode controlar a tempestade, mas usa o melhor de suas habilidades para atravessá-la ileso.

    Seja uma boa capitã !

    Chay

  4. Parabéns pelo seu texto Frater Alef, são sempre muito esclarecedores, já percebi nas minhas ações do cotidiano essa espiral onde tem seus altos e baixos, sempre quando estou na parte “baixa” procuro sempre pensar duas vezes antes de agir e evitar lugares onde poderia causar problemas, o difícil disso tudo é que essa mudança é tão sutil que é preciso ficar atento consigo mesmo para perceber.
    Abraços

  5. Uma das coisas mais importantes que eu tenho aprendido até agora, nessa prática, é que não é vantajoso rejeitar ou lutar contra o momento em que se está por baixo, mas sim aceitar, tolerar, compreender as próprias necessidades e desejos, e ir trabalhando sem empreender violência contra si mesmo (o que acontece de forma muito sutil).
    Tenho pensado que o movimento que nos permite trabalhar os baixos e torná-los mais altos está menos sob o controle do ego e mais no plano de fundo do nosso psiquismo, onde ocorrem as experiências mais espirituais.

    @Frater Alef – Salve Leandro, excelete observação.

  6. Nossa muito agradecido pelo texto. Gosto muito dos seus textos, para mim, são como sementes de sabedoria. Muito Grato.

  7. Salve Frater Alef!

    Mais uma obra esplêndida. Parabéns pela maestria com que escreve e transmite seus sentimentos e conhecimentos. Ainda que raros, seus textos tem sido de suma importância para o desenvolvimento de todos aqui interessados na evolução! Continue publicando!

    Grande abraço!

  8. Então, seguindo esse raciocínio, uma das formas de manter-se evoluindo sempre é estar cada vez mais perceptivo a esses movimentos de “queda” para, habilmente, cuidar para que eles sejam cada vez menos significativos. É por isso que eu vou fazer-me o favor de fechar essa página. Não que o texto tenha sido ruim, longe disso! Mas porque lê-lo agora me fez descumprir um compromisso de foco que havia estabelecido comigo mesmo. rsrs

    Grato por compartilhar, Frater!

  9. Incrível texto, esses pontos baixos sempre me preocupam mas é interessante um olhar esclarecido e organizado sobre isso e entender que é natural. Gratidão!

    Conheci o site hoje e adorei, é muita coisa boa!

  10. Amei o texto! Você com certeza deve saber, Frater, que em muitas igrejas evangélicas e seitas, quando a pessoa está no nível baixo da espiral, ela é vista como “fraca”, “pecadora”, uma pessoa que tinha capacidade de lidar com aquele problema (afinal, “ninguém leva um fardo maior do que pode carregar”) e não lidou bem por que não estava em contato íntimo com Deus. Enfim, esses “líderes” culpam a pessoa, mesmo que ela muitas vezes já esteja se sentindo terrivelmente culpada por não ser perfeita.
    Por isso, tenho de dizer, Frater Alef, o quanto fiquei feliz em ler seu texto, no qual a evolução é tratada de forma muito, mas muito mais humana. Parabéns, continue sempre assim! 🙂

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